Esta foto na Bahia retrata bem a ironia e os novos moldes de segregação que saem das fornalhas mais transgênicas do novo pacto sócio-comercial afinado com todas as formas segregacionistas e hiegienistas. Pois bem, esse mercado novo que busca o bolso das classes média e alta, tem, no entanto, infiltrada uma mente arquitetônica muito mais perversa, – se é que pode existir mais perversidade do que esse cordão que separa negros e brancos, em pleno espaço público, no carnaval da Bahia.

Mas esse muro da vergonha à brasileira é apenas um dos muitos palcos de um pensamento que cultiva o separatismo na tríplice retomada dos brasões higienistas. O trono? É a tipóia do chamado mercado criativo nos negócios das letras e das artes, cheio de tabelas e regras como um calendário de papelão que exclama, sobretudo a ideia essencial das elites da chamada noção de “excelência”.

Ocorre que quem desembarca na Bahia e assina o passaporte para a “rua dos brancos” é a mesma fidalguia paulista que usa a santa cruz do monarquismo republicano que faz do homem comum fórmulas de um estilo brasileiro branco e, por outro lado, o dos não consumidores da fonte dos negócios. – uma segregação automática.

Tudo isso com os novos modos da Lei Rouanet que tem, na maioria dos casos, o tilintar das moedas públicas e as logomarcas de grandes empresas como, a Vale, o Banco Itaú, Bradesco, por exemplo, que usam o fumo do mecenato para fazer uma espécie de descarga tributária em uma sociedade que, para eles, tem que sofrer uma exemplar inquisição.

Estou cantando esta pedra há muito tempo, que a extrema direita criou e dominou novos espaços institucionais da cultura brasileira, que o diga o GIFE, comandado pelas quatro famílias que monopolizam a comunicação. E a enxurrada de festivais internacionais de rock, patrocinados com recursos públicos?

A suprema elegância filosófica de FHC à frente da OSESP é um sinal inconfundível de que existe uma arquitetura para aleijar a alma da cultura brasileira e um jubilo ao eurocentrismo e americanismo Tea Party que sai do estado de São Paulo e se alastra por todo o Brasil.

Bastaria mencionar o “mérito” de gestores corporativos demotucanos de São Paulo, digo, da Avenida Paulista, e tentar entender as razões no exame não muito minucioso do porquê esse pandemônio de Lei Rouanet lhes confere a condição de domínio absoluto do ambiente do mecenato restituído. E isso está cristalizado nos balanços das tetas do Estado que nos apresenta uma paisagem aonde é revelado que, apenas 3% de sublimes captadores, a grande maioria paulista, tem o talento de embolsar uma verba milionária que representa mais de 50% do total destinado à Lei Rouanet. Isso, por incrível que pareça, dentro do golpe tributário, é absolutamente legal, a mesma legalidade que fez com que Alckmin e Kassab criassem a mais recente história de desumanidade nas ações do Pinheirinhos e da Cracolândia.

Mas afinal tudo isso que tem a ver com a chamada Nova Luz que está sendo erguida como revalorização imobiliária do centro de São Paulo com o carnaval segregacionista da Bahia? Olhando assim de sopro, estaríamos falando uma língua incompreensível. Mas numa segunda visão um pouquinho mais apurada, vamos observar que os varões do mecenato que se envolvem na máfia da batuta paulista e na do abadá da Bahia, almoçam nos mesmos restaurantes e se hospedam nos mesmos hotéis e são, sobretudo, irmãos siamieses dos hilários movimentos golpistas como o “Cansei” que tinha à frente, por exemplo, o glorioso João D’ória e Jesus (empresário baiano, irmão de Ivete Sangalo), recrutando os soldados daquele “promissor” levante das elites contra Lula.

Mas poderíamos nos aperfeiçoar um pouco mais para entender a nova pintura nacional que está sendo enfeitada de lantejoulas no obscuro sistema de cabrestos culturais, inclui-se aí os perigosos Ecad – SOPA – PIPA – ACTA, projeto prioritário da ministra Ana de Hollanda que caça cidadãos brasileiros se manifestando em pleno carnaval, em espaços públicos, para lhes arrancar o couro durante as suas, antes consideradas, livres manifestações, assim como todas as outras festas populares, além da tentativa de controle da interntet.

Mas não é somente este festival de absurdos, a feitura dos sentimentos que, através de mecanismos de leis de incentivo, venda os olhos da sociedade pra esta não lute contra a guerra que começa nos bastidores políticos da extremíssima direita, PSDB, Dem, PSD, tem também um tronco de um sistema imbricado que consolida suas hegemonias, mesmo em governos do PT, como é o caso da Bahia e do próprio ministério de Ana de Hollanda aonde os gestores demotucanos, com seus diplomas universais de colossal entupidez, são o satélite que orienta a nossa ministra.

Há sim um projeto em marcha que faz com que a cultura cumpra o papel de estabelecimento das elites, por isso a destruição da SID (Secretaria da Identidade e Diversidade) e o lento envenenamento do Cultura Viva. E o disparate profundo que correu à sombra do idioma do futuro, economia criativa, é o anúncio de um dialeto redigido pelos “elegantes” da extrema direita. Daí o absurdo ocorrido em torno da demissão dos músicos da OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) e da destruição da mesma pelo maestro Minczuk e sua trupre que anunciaram, em rede nacional, através do maestro fanfarrão a destituição da escola brasileira de música (a nossa mais forte representação cultural). Isso dá para ter uma noção de como essa sombra está arrastando para o fundo do poço aonde não penetra qualquer raio de luz, a nossa cultura em nome do espetáculo da nova elite econômica brasileira.

Por Carlos Henrique Machado Freitas

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