A Vênus amordaçada. Por Gustavo Conde |
Comportamento | |||
Qui, 30 de Agosto de 2018 07:54 | |||
Renata Vasconcellos conseguiu se apequenar na frente de Bolsonaro (que já é um anão moral, intelectual e existencial). Um feito. O que a mordaça jornalística não faz. Porque, quando confrontada pelo candidato com relação à óbvia diferença de salário entre ela e Bonner, ela rebateu dizendo que o salário dela não era da esfera pública e não dizia respeito à discussão. Ora, ora, ora. Claro que dizia respeito! E a própria pergunta que ela fez pressupunha que a discrepância entre salários de homens e mulheres é um dado econômico consolidado e alastrado por toda a sociedade. Bolsonaro jogou baixo - poque igualmente carece de argumentos técnicos - mas foi pedagógico. Jogou no colo da jornalista toda a hipocrisia dela e da Globo. Vasconcellos deu ibope de graça para Bolsonaro por pura incompetência, rabo preso e meridiana falta de clareza com relação a um problema que diz respeito a ela mesma. É inacreditável, mas a indigência jornalística da Rede Globo é tal que até para Bolsonaro eles pagam mico. O que é um dado chocante. Ajudaram muito o ex-capitão deformado - sic. Mas, não de maneira deliberada. Eles ficaram burros mesmo. Muita mordaça impõe a burrice de maneira irresistível. A peleguice, por sua vez, termina o serviço. Bonner e Vasconcellos são dois capachos esfolados, monumentos finais e definitivos à subserviência em sua plenitude semântica. Por isso, Bonner é ideal para o Grupo Globo. Ele não raciocina, não pensa, não articula, não formula. E quando ele tenta dar a impressão de que formula alguma coisa, de que criou o conjunto editorial de questionamentos, fica artificial. Num certo sentido, Vasconcelos é muito mais desembaraçada do que Bonner. O problema é que ela é submissa demais aos patrões e ao padrão Globo de falta de qualidade. Bonner é um timbre hipnótico, atrativo. A voz anasalada e levemente metálica (lembra Sérgio Chapelin) figura no espectro 'lavagem-cerebral' da Vênus amordaçada. Sua dicção, seu tom, sua entonação, seu ethos, configuram apenas uma voz vazia, pronta a ser preenchida pelos sentidos que a famiglia Marinho quiser e achar mais adequado, conforme a conveniência. Ele encarna a voz neutra, do bom moço, bonito, asséptico, simpático, no limite entre o fleumático e o gozo sedutor dos cantores de tango com uma rosa vermelha na boca. Bonner chega mesmo a lembrar o 'candidato da Manchúria', personagem curiosíssima do cinema americano, interpretada por Frank Sinatra nos anos 60 e por Liev Schreiber em 2004. Trata-se do jovem filho de uma senadora, ex-combatente de uma guerra suja, que sofreu uma lavagem cerebral, química e psicológica, para protagonizar a política americana e servir aos interesses de indústria de armas. Moro também lembra essa personagem, com seu vazio de personalidade e expressão de cera. Pobre da mulher ser representada por Renata Vasconcellos. Pobre do jornalismo ser representado por William Bonner. Pobre do Brasil ter adiado tanto o acerto de contas com esse modo pequeno-burguês assassino de produzir informação. Eles são infames demais. Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/pt/colunistas/gustavoconde/366957/A-V%C3%AAnus-amorda%C3%A7ada.htm
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