Salvador, 28 de March de 2024
Acesse aqui:                
Banner
facebookorkuttwitteremail
Nem toda violência contra as mulheres parte dos homens. Por Adriana Vasconcelos
Ajustar fonte Aumentar Smaller Font
Comportamento
Seg, 24 de Agosto de 2020 05:27

adriana_vasconcelosEm uma semana especialmente triste –em que acompanhamos ao vivo e em cores a trágica história de uma menina de 10 anos, grávida de 22 semanas, vítima de estupro desde os 6 anos pelo próprio tio–, impossível não destacar o comportamento cruel de outras mulheres diante desse crime repugnante.

Ninguém discute que o maior criminoso neste episódio todo tenha sido o tio da menina, que se aproveitou do ambiente familiar para abusar da sobrinha por 4 anos seguidos. Além de ameaçar a vítima para que ela não o denunciasse.

A vida como ela é

Mas como encarar os comentários preconceituosos de ninguém menos do que uma professora da rede de ensino estadual de São Paulo, que acabou demitida após publicar nas redes sociais mensagens em que considera que a menina estuprada pelo tio não teria sido vítima de violência?

Pelo raciocínio inconcebível dessa dita ‘educadora’, uma criança de 10 anos, “que já tinha vida sexual há 4 anos com esse homem, deve ter sido bem paga”.

Partiu ainda dessa mulher um questionamento sobre o silêncio da vítima, uma criança que só descobriu que estava grávida no início de agosto, após ser levada ao médico com dores no abdômen.

Crianças se defendem chorando para a mãe, esta menina nunca chorou por que?”, indagou a professora nas redes sociais, desprezando a dor da menina que vive com a avó, porque a mãe morreu e o pai está preso, cujos gritos e choro foram testemunhados por médicos que a atenderam.

Para completar o circo dos horrores, uma outra mulher –no caso a extremista de direita, Sara Giromini ou Sara Winter, como é mais conhecida– achou, por bem, divulgar a identidade da criança e estimular um protesto na porta do hospital onde ela estava internada, para ser submetida a um procedimento, autorizado pela Justiça, de interrupção da gravidez.

Assim, a criança violentada foi vítima de mais um crime, previsto tanto no Código Penal quanto no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), ao ser exposta publicamente, ficando à mercê de constrangimentos e julgamentos por parte de manifestantes contrários ao aborto.

O que nos leva à constatação de que nem toda violência sofrida pelas mulheres parte de homens. Ela pode vir justamente de quem menos esperávamos que viesse: de outras mulheres.

4 estupros por hora no Brasil

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019 revela que, a cada hora, 4 meninas de até 13 anos são estupradas no país. Dados oficiais indicam que, em média, são registradas 6 internações diárias por aborto envolvendo meninas de 10 a 14 anos.

Talvez, por crimes como este terem se tornado tão corriqueiros, o senso de humanidade dessas 2 mulheres, que tripudiaram em cima do drama da menina estuprada pelo tio, tenha sucumbido a uma cultura machista ainda arraigada à sociedade brasileira. Ou a dogmas religiosos, que devem ser respeitados, mas cada vez mais são explorados politicamente.

Felizmente, tal falta de solidariedade está longe de representar a posição da maioria das brasileiras. Mas ajuda, no ambiente político, a reforçar teses do tipo ‘mulher não vota em mulher’.

Pode até existir mulher que não vote em mulher. Novamente, podemos dizer que essa não é a regra, mas a exceção. Embora as propostas, e não o sexo de um candidato, devessem ser decisivas na hora da definição de um voto.

Quando o desequilíbrio de gênero na representação política é tão gritante, quanto é hoje no país, torna-se mais imperioso ainda estimular a participação feminina nos espaços de poder. Para que mulheres vítimas de violência, como essa menina de 10 anos, tenham quem as defenda nos espaços de poder e em debates para a construção de políticas públicas.

É importante que essas lideranças femininas tenham consciência da responsabilidade que terão, caso consigam chegar lá. Pois, se eleitas ou em cargos de liderança, terão igualmente o comportamento analisado ainda mais duramente, pelo simples fato de serem mulheres.

Vale alertar ainda que eventuais deslizes ou tropeços poderão repercutir mais do que os de seus colegas do sexo oposto. E, provavelmente, receberão uma conotação sexual e ainda poderão ser generalizados, como se todas as demais representantes do gênero estivessem sujeitas a repetir os mesmos erros. Algo que dificilmente aconteceria com um homem.

Foi o que constatou uma pesquisa da professora Marlise Almeida, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem), da UNFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ela analisou a trajetória política de 3 presidentes eleitas nas últimas décadas na América do Sul: Dilma Rousseff no Brasil, Michelle Bachelet no Chile e Cristina Kirchner na Argentina.

Ou seja, temos ainda um caminho longo pela frente até conquistarmos a igualdade de direitos e oportunidades no país.

Adriana Vasconcelos, 53 anos, é jornalista e consultora em Comunicação Política. Trabalhou nas redações do Correio Braziliense, Gazeta Mercantil e O Globo. Desde 2012 trabalha como consultora à frente da AV Comunicação Multimídia. Acompanhou as últimas 7 campanhas presidenciais. Nos últimos 4 anos, especializou-se no atendimento e capacitação de mulheres interessadas em ingressar na política.

Artigo publicado originalmente em https://www.poder360.com.br/opiniao/brasil/nem-toda-violencia-contra-as-mulheres-parte-dos-homens-lembra-adriana-vasconcelos/

Compartilhe:

 

Adicionar comentário


Código de segurança
Atualizar

FOTOS DOS ÚLTIMOS EVENTOS

  • mariofoto1_MSF20240207-142Lavagem Funceb. 08.02.24. Alb 2. Foto: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240207-053Lavagem Funceb. 08.02.24. Alb 1. Foto: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-030Fuzuê Alb 1. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-165Fuzuê Alb 2. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-218Fuzuê Alb 3. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-339Fuzuê Alb 4. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-0791Beleza Negra do ilê. Alb 1. 13.01.24 By Mario Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-1112Beleza Negra do ilê. Alb 2. 13.01.24. By Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-1348Beleza Negra do Ilê. Alb 3. 13.01.24 By Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-1548Beleza Negra do Ilê. Alb 4. 13.01.24 By Mário Sérgio

Parabéns Aniversariantes do Dia

loader
publicidade

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS

HUMOR

Mais charges...

ENQUETE 1

Qual é o melhor dia para sair a noite?