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2º grau de investimento: boa ou má notícia? Por Eduardo Guimarães
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Cidadania
Seg, 02 de Junho de 2008 03:46
A segunda elevação da nota do Brasil por mais uma agência de classificação de risco pertencente à tríade de agências americanas que, por assim dizer, comandam esse "mercado" de análise de quais são os países mais ou menos seguros para investimentos estrangeiros (Moody's, Standard & Poor's e Fitch Ratings), elevação feita, agora, pela Fitch, é uma boa notícia ou agrava a perspectiva de catástrofe que disseram que sobrevirá depois da elevação da nota Brasil pela S&P há algumas semanas? A teoria do caos é a de que o grau de investimento acabará por tornar deficitária a balança comercial (exportações menores que importações), porque atrairá ainda mais dólares para o país, provocando uma valorização ainda maior do real. Com o dólar cadente, os produtos brasileiros continuarão se tornando cada vez mais caros em dólar, ainda que mantidos seus preços em reais. Em conseqüência de preços cada vez menos competitivos, as exportações diminuiriam e as importações aumentariam, produzindo déficit na conta do comércio exterior.

A questão é bem menos complicada do que parece aos não-iniciados em economia. O que dificulta seu entendimento é o economês da mídia. Vamos tentar, então, traduzir essa polêmica para bom português.

Em primeiro lugar, é bom termos em mente que as exportações brasileiras não estão caindo, o que está diminuindo o saldo comercial (a diferença entre exportações e importações) são as importações, que vêm aumentando porque dólar barato estimula a indústria e o comércio a substituírem produtos e insumos (matérias-primas) nacionais por importados.

Eu trabalho com comércio exterior (exportação). Nesse contexto, posso citar um exemplo do que está acontecendo: uma indústria concorrente de uma das que represento no exterior suspendeu a produção de alguns de seus produtos que sofrem grande concorrência tanto no mercado interno quanto no externo, mas continua produzindo os produtos de maior rentabilidade, os que compensa ela fabricar.

À primeira vista, portanto, a valorização do real deveria estar gerando desemprego, além de outros males. Se parte dos produtos dessa empresa deixaram de ser fabricados no Brasil, sendo agora importados (da China), os operários que produziam o que deixou de ser fabricado teriam que ser postos no olho da rua. No entanto, não foi o que aconteceu, pois a maior demanda interna fez não só com que o quadro de funcionários da empresa fosse mantido como a obrigou a contratar mais gente, a fim de ter como produzir os produtos que ainda é rentável fabricá-los no Brasil e que estão sendo mais vendidos.

Porém, alguns analistas econômicos acham que o processo de valorização do real é irrefreável, porque o Brasil continua atraindo dólares para o mercado financeiro devido às taxas de juros que, por aqui, ainda estão entre as mais altas do mundo. E com o grau de investimento agora mais consolidado, porque duas das três agências de classificação de risco mais influentes estão garantindo aos investidores internacionais que é seguro investir aqui, a moeda americana iria inundar o mercado nacional tornando cada vez mais difícil a atividade exportadora, até o ponto em que começaremos a comprar mais no exterior do que vender.
 
Para nós, brasileiros, exportações menores do que importações sempre representaram "prejuízo", como se comprar mais dos outros países do que vender a eles equivalesse a perder dinheiro. Qualquer contador sabe, no entanto, que se uma empresa não tem liquidez mas tem patrimônio equivalente ao que não está em seu caixa, ela não teve prejuízo. Apenas não tem dinheiro em espécie, disponível a qualquer momento.

Em situações em que uma empresa está endividada, ela precisa de liquidez para saldar seus compromissos. No caso do Brasil, temos hoje mais dólares em caixa (reservas cambiais) do que dívidas com o exterior. É aí que reside a elevação da nota do Brasil por duas das três mais importantes agências de classificação de risco. A necessidade de liquidez do Brasil hoje é muito menor. E continuamos acumulando dólares que nos pertencem (não os provenientes de aplicações estrangeiras no mercado financeiro, mas decorrentes de ainda exportarmos mais do que importamos, apesar de esse saldo comercial ter diminuído), pois não temos mais a demanda pela moeda americana que tínhamos na década passada, quando precisávamos exportar muito mais do que importávamos para pagar a dívida externa.
 
Como o Brasil hoje deve menos ao exterior do que tem a receber, mesmo se o saldo comercial fosse zero não haveria, em tese, problemas, porque continuaríamos devendo o mesmo e tendo o mesmo a receber. Não necessitaríamos de sobra de dólares para pagar nossos credores. Além disso, a postura do governo Lula inovou em relação à do governo anterior. Lula, à diferença de FHC, não permitiu que a conjuntura política interferisse na política econômica, e essa nova atitude do Estado brasileiro inspirou a confiança que levou as agências de classificação de risco a dizerem ao mundo que o Brasil tem um governo sério, que não usa a economia do país para se fortalecer politicamente.

Vamos entender bem isso, porque é muito importante. FHC jogou o Brasil numa crise cambial (falta de dólares para pagar nossos compromissos externos, quando ainda éramos devedores, em vez de credores) ao manter o dólar desvalorizado por lei. Com o dólar desvalorizado, o brasileiro tem maior poder de compra e consumo. Porém, era insustentável aquela política. Precisávamos de sobra de dólares, porque devíamos cada vez mais ao exterior. Então FHC começou a vender estatais a estrangeiros. Com a receita, pagava a dívida externa. Porém, chegou um momento em que não havia mais estatais de peso para vender. Daí quebramos (em 1999). Resultado: tivemos que pedir 40 bilhões de dólares emprestados aos EUA, ao FMI e ao Clube de Paris para financiar ao menos o comércio exterior.

Enquanto FHC usou a economia do país para se reeleger, mantendo o real sobrevalorizado por lei, Lula separou totalmente a economia da política.

A teoria de alguns analistas econômicos é a de que, apesar de o desastre ser iminente, a nota de classificação de risco Brasil foi aumentada para propiciar ganhos a especuladores estrangeiros, que viriam se esbaldar aqui e fugiriam com nossos dólares assim que o desastre começasse a se consolidar. Essa é uma teoria conspiratória que se apóia exclusivamente em si mesma. A margem de manobra que o Brasil tem hoje é espetacular. Temos dinheiro sobrando em caixa e podemos decidir sobre juros e sobre a entrada de capital estrangeiro no mercado financeiro com grande tranqüilidade. A queda nas exportações é compatível com a menor necessidade de superávit na balança comercial. E daí a deixarmos de ser superavitários para nos tornarmos deficitários no comércio exterior, vai uma distância enorme.

Eu trabalho com comércio exterior há muito tempo. Só me lembro de os exportadores estarem contentes com o câmbio no fim do governo FHC, quando o dólar chegou a 4 reais. Para eles, o dólar sempre estará baixo. Dólar alto os dispensa de fazerem investimentos em tecnologia e produtividade. Aliás, o protegido mercado nacional ainda faz com que o industrial brasileiro possa se encostar nas tarifas aduaneiras para produtos estrangeiros para não investir. Mas isso está acabando. Um dos componentes de peso de nossas importações são máquinas e equipamentos. O dólar barato está obrigando a indústria brasileira a se modernizar.

O grau de investimento, agora reforçado pela Fitch Ratings, reflete um país que começa a se levantar no cenário internacional como nunca ocorreu. O catastrofismo, a choradeira dos exportadores é alta, estridente, mas não deve tirar o sono de ninguém. O grau de investimento é bom e mostra um país caminhando para se tornar uma das grandes potências deste século.

Publicado Originalmente em: http://edu.guim.blog.uol.com.br

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