Xadrez da aliança Ciro Gomes-Lula, por Luis Nassif |
Cidadania | |||
Seg, 11 de Junho de 2018 06:49 | |||
Nas próximas eleições há apenas duas balas na agulha para interromper o desmonte do país e o fantasma de Bolsonaro: um candidato indicado por Lula ou Ciro Gomes, mas ambos os grupos caminhando juntos no segundo turno.
Há toda uma engrenagem montada em torno do impeachment, pronta a detonar “inimigos”. É o arco constituído pelo mercado, mídia e sistema judiciário. Mesmo assim, o aprofundamento da crise e o risco Bolsonaro estão tornando dois candidatos gradativamente palatáveis ao epicentro do golpe, em São Paulo: Fernando Haddad e Ciro Gomes. Não significa necessariamente que Haddad será o candidato de Lula. Há também os nomes de Jacques Wagner, Celso Amorim e Patrus Ananias. Mas são as duas hipóteses levantadas pelas últimas pesquisas. A disputa tem três tempos. O primeiro turno, para definir quem será o candidato da centro-esquerda. O segundo turno, e as alianças que resistirem à disputa do 1º turno. A estratégia depois de eleito, assegurando a governabilidade. Peça 1 – a estratégia de LulaPara as eleições, a estratégia aparente de Lula consiste em manter sua candidatura até o último momento. Perto do prazo fatal, ficando claro que o golpe não permitirá que se candidate, haverá a indicação do vice, que assumirá seu lugar na chapa como seu candidato. A lógica é clara. Primeiro, manter viva a chama do lulismo e conseguir o impacto da proibição de se candidatar, em um momento em que cada vez mais cai a ficha da opinião pública sobre a perseguição política de que é vítima. Com isso, aumenta seu cacife e do PT para negociar alianças. Depois, porque se o vice for apresentado antes, será fuzilado pela estrutura Lava Jato-mídia-Judiciário. Em cima da bucha, o PT terá o horário gratuito para defender-se dos ataques. Para ser vitoriosa, no entanto, essa estratégia depende de algumas variáveis indefinidas ainda:
É um jogo de apostas. Se a estratégia der errado e houver o segundo turno com dois candidatos de direita, serão destruídos os últimos pontos de resistência das esquerdas e da incipiente social-democracia brasileira. Daí as últimas orientações de Lula – após encontro com Jacques Wagner – de mandar emissários conversarem com Ciro, para esvaziar as tensões acumuladas entre ele e o PT. A orientação de Lula foi a de tratar Ciro Gomes como parceiro do mesmo lado político. Tem lógica. Peça 2 – a estratégia Ciro GomesCiro Gomes vai montando sua estratégia política dentro da seguinte lógica:
Ao contrário do que muitos podem imaginar, Ciro não está disputando o espaço político com Lula, mas com Geraldo Alckmin. O espaço em questão consiste em juntar setores mais liberais, assustados com a hipótese Bolsonaro, os órfãos do velho PSDB; e, na hipótese de um segundo turno com Bolsonaro ou Alckmin, o apoio das esquerdas. A provável frente que se desenha na cabeça de Ciro, caso sua candidatura decole, ficará mais ou menos assim:
Analistas respeitáveis sustentam que, a exemplo de outras eleições, na reta final do primeiro turno vencerão os candidatos que tiverem atrás de si mais estrutura partidária. Ou seja, haveria a reedição da disputa PSDB, com Alckmin, e PT, com o candidato indicado por Lula. Mas será que os tempos atuais repetem as mesmas características de outras eleições? Têm-se o PT e o PSDB baleados junto a parcelas da opinião pública; novas formas de mobilização com as redes sociais, e um eleitorado consolidado de Bolsonaro. A rigor, há duas únicas forças se movimentando: o lulismo e o antilulismo. Peça 3 – os fatores de instabilidadeAlém disso, há um conjunto de fatores aleatórios no ar. Têm-se um quadro de caos, um cenário aberto para novas tentativas de instabilização. Graças à Globo e ao Supremo Tribunal Federal (STF) o país experimenta a situação esdrúxula, de estar sendo governado por um presidente que será preso, assim que deixar o cargo, mas com plena liberdade até lá para continuar montando negócios. Do lado do grupo de Temer, a contagem regressiva para a prisão induzirá a novas tentativas de endurecimento político. Até agora, duas delas foram tiro n’água graças à baixíssima credibilidade do grupo: a intervenção militar no Rio de Janeiro e a tentativa de militarização na greve dos caminhoneiros. Mesmo assim, se tem no STF uma presidente inconfiável, como ficou claro no episódio de desengavetamento do julgamento do parlamentarismo. Logo depois, Carmen Lúcia o tirou novamente de pauta. Imaginou-se que tivesse recuado devido às críticas recebidas, mas foi apenas porque o propositor da ação, deputado Arlindo Chinaglia, a retirou. Continua pendente no ar a possibilidade de um novo golpe jurídico-midiático, mesmo porque o STF está dominado pela politização, com os Ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Luiz Fux, Alexandre Morais, Rosa Weber e Carmen Lúcia atuando com despudor, e o antipetismo explícito condicionando a atuação dos garantistas Celso de Mello e Gilmar Mendes. De qualquer modo, o fator Temer promoveu um desgaste também no coração do impeachment – a própria mídia. Ao contrário de outros tempos, as tentativas de desenhar cenários esbarra em fatores de imprevisibilidade inéditos. Ninguém pode ter certeza de nada. Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-da-alianca-ciro-gomes-lula-por-luis-nassif
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Última atualização em Seg, 11 de Junho de 2018 06:51 |
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