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Da desidratação da Extrema Direita. Por Ion Andrade
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Cidadania
Dom, 24 de Junho de 2018 06:10

Ion_AndradeAs últimas pesquisas para a Presidência da República do Instituto Ipsos apresentam dois fenômenos aos quais já venho chamando a atenção há algum tempo: o declínio da candidatura da extrema direita e por efeito de arrasto da candidatura Lula o crescimento de Ciro Gomes.

 

Ciro representa, ainda que num espectro de forças mais à direita, a recomposição do Estado pacto, tal como Lula também, embora com mais força e identidade, dada a hegemonia popular.

País difícil que é o Brasil, a recomposição do Estado de direito representaria a derrota cabal do golpe sob o prisma institucional já que o que se pretendeu com ele foi, além do entreguismo, a instauração de um Estado de exceção que mostrou-se inteiramente incapaz de materializar uma proposta estável de hegemonia para o campo conservador.

É previsível que a candidatura Ciro cresça por força inercial desse projeto de Estado pacto que não é opcional e figura como uma necessidade histórica. O Estado de direito é a arena política onde a burguesia e o proletariado se enfrentam em lutas que vão desenhando, como numa guerra, uma geografia política. Essa geografia institucional pode ser percebida nessa ou naquela política por um conteúdo mais influenciado por uma ou pela outra classe fundamental, sempre sustentado por uma lei que terá sido a expressão da força de uma das duas classes fundamentais naquele dado momento em que a luta foi travada e definiu uma fronteira. Não há opção a essa dinâmica de governança, razão porque o golpe cobrará dos golpistas, cedo ou tarde, alto preço

Essa liturgia “democrática” é incoercível devido ao fato de que a existência de uma Sociedade Civil robusta como a que temos impõe que o governo se dê pelo consenso, em vez de pela força, razão porque a necessidade histórica favorece as candidaturas Lula e Ciro Gomes, mais do primeiro do que do segundo, aliás, exatamente pela identidade mais clara que tem quanto a esse projeto.

Ciro ocupa um espectro político que na Europa está estavelmente ocupado por partidos que vão da Democracia Cristã à Socialdemocracia tradicional e que foi (incrivelmente) abandonado pelo PSDB desde Fernando Henrique e com maior empenho suicida por Alckmin e Aécio.

Lula ocupa um polo emergente do historicamente novo na política mundial, movimento que viu o dia primeiro na América Latina mas que hoje encontra assemelhados em partidos como o Podemos espanhol, dentre outros, que buscam um redesenho da vida partidária mais alinhada aos movimentos sociais.

Essa reengenharia da política, que atravessa o Ocidente como um todo na crise de hegemonia que estamos atravessando, vem produzindo uma escumalha às vezes volumosa que é a Extrema direita. Um rejeito que será expelido a seu tempo devolvendo ao processo mais definitivo, o Estado pacto e sua dinâmica de governança, a possibilidade de que reemerja de forma mais robusta quando do equacionamento da crise orgânica.

Por essa ordem de ideias, seria presumível que o governo Trump com o seu cortejo de abominações pudesse vir a ser o prenúncio, tardio, do Estado social nos Estados Unidos, como o fascismo o foi na Europa. A ver. Portanto, conforme vejo, apesar de sua aparência poderosa, a extrema direita quanto mais mostre o seu rosto e o seu projeto mais será desidratada pela luz do dia. Essas forças noturnas, como na lenda do Drácula, não aguentam o sol.

As assimetrias sociais do Brasil tornam fascistização muito difícil. É tarefa inimaginável vetorizar a sociedade brasileira como um todo como Hitler conseguiu na Alemanha, Mussolini na Itália, Franco na Espanha ou Khomeini no Irã. A imaturidade do processo de nossa formação como nação, um legado das nossas elites coronelistas, impede fisicamente a formação de uma nova totalidade (totalitária) com qualquer ambição “arbitral” ou bonapartista.

Além disso, em toda parte, o fascismo e seus congêneres, têm sempre sido um fenômeno eminentemente masculino. O nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália, o franquismo na Espanha, o salazarismo em Portugal, o khomeinismo no Irã, as ditaduras no Chile, na Argentina ou no Brasil, são exemplos de ordens sociais assentadas também na subordinação das mulheres reduzidas à condição de objetos de cama e mesa.

Ora, nesse cenário, o que é que o fascismo faz com as favelas? O que faz com os negros? O que faz com as mulheres alçadas a uma condição de cidadania que as faz aspirar por igualdade de condições com os homens? O que faz com os pobres? Vai aumentar a renda e permitir que se integrem plenamente ao mercado e perder o apoio dessa aristocracia branca e colonial que vemos na Rússia nos envergonhar a todos? O vai dizer que a solução é a bala e a sova e se desidratar?

Me parece, portanto que entre a fascistização da sociedade brasileira ou a desidratação dos fascistas essa segunda opção parece mais provável. Já hoje os negros, os pobres e as mulheres entenderam o que o fascismo reserva para eles e parece que não estão gostando.

Essa é a razão pela qual a candidatura da Extrema direita já começou a desidratar.

O declínio da Extrema direita no Brasil é, já hoje, o resultado da militância capilar dos setores politicamente mais conscientes desses segmentos intrinsecamente antifascistas (pobres, negros e mulheres) como resulta também da tendência inercial de retorno ao Estado pacto que figura como uma necessidade histórica incoercível.

A perda de votos nunca é fenômeno passivo. Depende da ação cotidiana de muita gente. Os movimentos sociais que atuam nesses segmentos, atentos a isso, devem ampliar essa capacidade de atuação, já espontaneamente eficiente, para que essa vontade política se torne consciente, robusta e ainda mais eficiente.

Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/blog/ion-de-andrade/da-desidratacao-da-extrema-direita

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