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Adolf Hitler e Anne Frank: metáfora da nova normalidade, por Fábio de Oliveira
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Cidadania
Dom, 15 de Julho de 2018 07:16

FABIO_DE_OLIVEIRA_RIBEIROHá alguns anos estamos passando por um processo evidente de modificação dos padrões de normalidade. Comecei a me dar conta disso quando pessoas suspeitas e até inocentes começaram a ser amarradas, linchadas e até mortas nas ruas sob aplausos efusivos de alguns jornalistas.

 

O incentivo ao crime ganhou status de padrão público de funcionamento do Estado durante a operação Lava Jato.

Todas as ilegalidades cometidas por Sérgio Moro foram sendo imediatamente removidas do debate público pela Rede Globo. O clã Marinho ungiu o juiz da 13a Vara Federal de Curitiba de poderes excepcionais e ele não hesitou em utilizá-los para ajudar a derrubar Dilma Rousseff grampeando criminosamente o telefone dela e vazando o conteúdo para os jornalistas da Globo.

A deposição de Dilma Rousseff, uma farsa evidente e grotesca, foi descrito pela imprensa como sendo juridicamente legítima. A imprensa internacional, contudo, percebeu a anomalia e disse claramente que a presidenta petista sofreu um golpe de estado disfarçado de processo de Impedimento. Consumado o golpe, ficou provado que Dilma Rousseff não cometeu nenhuma ilegalidade. Não só isso, imediatamente o Congresso Nacional autorizou o usurpador Michel Temer a dar pedaladas fiscais e ele tem feito isso despudoradamente para garantir uma maioria parlamentar instável.

Os padrões éticos do jornalismo foram adulterados para legitimar o novo sistema de poder. Mentir, omitir, deformar, inventar, distorcer e adulterar os fatos quando a notícia não se ajusta à “linha da casa” se tornou algo corriqueiro. Sérgio Moro é considerado um juiz isento apesar de viver sendo fotografado em atividades político-partidárias do PSDB. Suspeito de parcialidade é o desembargador que concedeu HC a Lula e que nunca foi visto em congressos do PT.

A Procuradora Geral do MPF quer aposentar compulsoriamente o desembargador que concedeu HC a Lula porque ele ousou fazer o que lhe competia empregando a liberdade funcional que a Lei lhe confere. Todavia, Raquel Dodge não fez nada contra o juiz da Lava Jato que, estando de férias, impediu os policiais de cumprirem uma ordem judicial válida e eficaz (algo que é descrito como crime pelo art. 330, do Código Penal).

Os padrões jurídicos foram invertidos com ajuda do neojornalismo. A CF/88 prescreve que o Sistema de Justiça deve respeitar os princípios da legalidade e da impessoalidade, mas a imoralidade e a ação criminosa se tornaram a regra de um jogo protagonizado pelos procuradores e juízes federais protegidos pela imprensa. Já é possível criminalizar inocentes considerados indesejados (inferiores na linguagem nazista) e garantir a impunidade de criminosos (membros da raça superior, de acordo com o cânone hitlerista). Quem dita os padrões jurídicos de funcionamento do Estado de exceção são os comentaristas de televisão.

Procuradores e juízes podem transformar em sentença tudo aquilo que os jornalistas dizem. Aquilo que eles desautorizarem é considerado automaticamente ilegal. Nesse contexto, ao Sistema de Justiça foi possível trocar a legalidade pelo seu simulacro, a impessoalidade pela seletividade. Há aqueles que devem ficar presos por causa de crimes que nem mesmo poderiam ter sido cometidos (caso de Lula). E há aqueles que não devem nem mesmo ser processados apesar de existirem provas de autoria e materialidade de crimes financeiros (todos processos contra José Serra, Aloysio Nunes e Aécio Neves, por exemplo, estão sendo acintosamente arquivados).

Nesse contexto novo, tudo é possível. Jornalista divulga telefone de desembargador para que ele seja ameaçado de morte. Alimentos saudáveis não podem ser vendidos nos supermercados, a agricultura tóxica é oficialmente incentivada. Ministro do STF diz que Lula só será solto se desistir de disputar a eleição. Comentarista de economia leva bronca na TV porque não sabe fazer operações matemáticas elementares. Trair o país apoiando a venda da Embraer à Boeing se tornou demonstração de patriotismo. Não foi por acaso que o Ministro da Justiça mandou a PF descumprir o HC concedido a Lula. Ele sabia que essa anomalia também seria aceita como algo normal.

Assassinar reputações se tornou algo tão normal quanto não encontrar os assassinos de pessoas consideradas indesejadas. Marielle Franco e Marcos Vinícius da Silva são símbolos da nova realidade. O direito à vida vai deixando de existir à medida que alguns homicídios não podem mais resultar em condenações.

Marcola e Eduardo Cunha, dois criminosos que cumprem sentenças condenatórias transitadas em julgado, foram entrevistados pela TV na prisão. Lula, cuja condenação não transitou em julgado, não pode mais falar à população brasileira. O Sistema de Justiça outorgou a si mesmo o direito de calar o candidato que lidera a corrida presidencial. Os nazistas também silenciavam suas vítimas, mas nem por isso eles ganharam a guerra.

Derrotado na II Guerra Mundial o nazismo quer ressurgir das cinzas no Brasil. As suásticas se multiplicam à exaustão na internet onde grupos nazistas crescem como cogumelos apoiados por um candidato presidencial de extrema direita. A Polícia Federal, sempre tão diligente em perseguir os inimigos do novo sistema de poder (ou seja, os petistas e os simpatizantes de Lula) faz de conta que o nazismo não é uma ideologia racista (criminosa de acordo com a legislação penal brasileira) e genocida (incompatível com o sistema constitucional brasileiro).

A foto que ilustra esse texto é um poderoso símbolo da nova normalidade. Ela foi tirada por mim na data de hoje num corredor do piso térreo do Super Shopping em Osasco SP (ao lado do Walmart). Lado a lado na banca de livros são exibidas pilhas de exemplares de Mein Kampf e do Diário de Anne Frank. Na realidade alternativa em que fomos condenados a viver o algoz e sua vítima inocente podem coexistir como produtos expostos ao consumo de adultos e adolescentes sem qualquer mediação crítica.

Ao comentar a condenação do Brasil na OEA em razão do assassinato de Herzog ter ficado impune, Jair Bolsonaro disse que “Suicídio acontece, pessoal comete suicídio.” A foto prova que, num certo sentido, o candidato da extrema direita está certo, muito embora tenha sido incapaz de construir corretamente a frase. A sociedade brasileira está realmente se suicidando. Há menos de 80 anos milhares de pracinhas deram suas vidas e foram mutilados nos campos de batalha da Itália para derrotar os nazistas, mas agora o nazismo está sendo espalhado pelo Brasil como se isso fosse normal.

Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/adolf-hitler-e-anne-frank-metafora-da-nova-normalidade-por-fabio-de-oliveira

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Última atualização em Dom, 15 de Julho de 2018 08:08
 

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