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Um dia de cordeiro na Timbalada Por Galindoluma
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Cidadania
Qui, 05 de Março de 2009 04:47
Sábado de carnaval à noite. Vários blocos na fila. Foliões inquietos, ansiosos. Na concentração, bebidas, conversas, pinturas no corpo. Muito movimento de cordeiros, seguranças, retaguarda da banda, jornalistas, fotógrafos. A poderosa banda liderada por Denny iria descer a bela Avenida Oceânica uma hora depois. - Ainda tem vagas para trabalho de cordeiros?  - Acho que não, procure o Coronel no carro de apoio. Você conhece Coronel? - Não. Ninguém conhecia. O último que tentei me mandou ir à sede da PM ou no Corpo de Bombeiros. Um gozador.
 
Tinha saído no Bloco no dia anterior e o acompanharia fora da corda no dia seguinte. Não vejo muita diferença. Aliás, na maioria das vezes, fora da corda é mais confortável, menos apertado. A idéia inicial era ser cordeiro do Camaleão, mas de repente pintou a vontade.
 
O primeiro que tentei subornar não aceitou e passou o recado ao segundo, que passou ao terceiro e assim foi parar no número 417, bem pertinho do trio, exatamente onde queria. - Quais são as condições? - Bem, lhe pago R$30,00, você trabalha de garçom e bebe de graça no percurso. - Negócio fechado.
 
Confesso que não entrei pensando em segurar corda - queria me divertir e ainda tenho a mão muito fina e poderia feri-la. Alguns dizem que ela é fina porque não trabalho e eu revido de que não trabalho porque é fina. Me lembrei dos discursos de Carlinhos Brown  contra as cordas e elas ali bem arrumadinhas no bloco de sua propriedade. Demagogia é isso.
 
 - Seu bosta, segure essa porra dessa corda ou eu boto você pra fora debaixo de porrada,  disse  meu supervisor no nosso primeiro contato. - Eu não tenho luvas. - E você não pegou na hora que recebeu a desgraça do lanche? - Eu também não recebi o lanche e exijo os dois agora, além do protetor de ouvidos. - Quem você pensa que é?  Nesse momento outros colegas também protestaram exigindo luvas e lanches e o nosso superior desapareceu momentaneamente.
 
Fato interessante é que nossos chefes crescem na hierarquia a depender do tamanho. Quanto mais alto, mais autoridade. E a cada momento um deles vai na corda tirar sua lasquinha. Uns gostam de dar tapas nas nossas cabeças apenas por diversão.  Os colegas diziam pra não reclamar senão além de apanhar mais, seria escorraçado.
 
O Bloco seguia e Denny arrasava - como sempre. Meu garçom ia me abastecendo religiosamente e também pelo menos outros 10 cordeiros ao nosso lado. É que ficamos amigos e todos já sabiam da história. Eu só segurava agora na corda quando meus amigos anunciavam a presença dos inspetores ou para a saída ou entrada dos foliões no bloco. Alguns deles me olhavam meio desconfiados. - Eu conheço você de algum lugar? me perguntou uma paulista que tivera uma rápida conversa comigo no dia anterior dentro do bloco. - Não, deve ser engano.
 
Era muito legal nossa relação de amizade com vendedores de cerveja e catadores de lata. É incrível a solidariedade entre os miseráveis. Quando eles se aproximam com o isopor ou o saco de plástico a gente levanta a corda e eles entram. Não demora muito para serem expulsos e aparecerem novamente mais adiante. Um vendedor de cerveja terminou ficando ao meu lado até o fim, já que vendia para mim e meus próximos e entrava no bloco a hora que quisesse. Quanta promiscuidade!
Meus novos amigos me explicaram que eu devia tomar cuidado com a temível tropa de choque. Diziam que aqueles brutamontes adoram bater em cordeiros. Tinham tanto cuidado comigo que quando um pelotão desses aparecia me tiravam da corda por uns instantes. Duas negras lindas, jovens, faziam minha segurança.
 
Em determinado momento, chamei um fotógrafo que havia me fotografado no dia anterior. Queria um registro junto com meus novos amigos: - Sai pra lá que eu num perco tempo fotografando cordeiros. - Mas eu pago. - Eu faço exposição no Shopping Barra, lugar onde você nem entra. - Eu pago à vista. - Pare de me insultar ou chamo a polícia. Logo após, encontro uma colega de trabalho que vai fazer as fotos, deixando os supervisores meio desconfiados.
 
Chegaram minhas primas, minhas amigas do Ceará, de São Paulo e de Minas ao lado da corda.  Aquele monte de mulher bonita e bem arrumada me servindo bebida atraía a curiosidade dos associados e dos  chefetes,  que vez por outra me davam gritos humilhantes. Nem ligava pra eles. Eles deviam pensar assim: - que diabo de cordeiro estranho é esse? 
 
Logo resolvi sair. Com aquele tanto de gente perto de mim eu poderia prejudicar meu amigo que "cedeu" a camisa. Naquela noite ele recebeu dobrado e me agradeceu muito. 
 
(*) Galindoluma é cordeiro de bloco de  carnaval

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