Lula e o tempo que não se aprisiona e que não se vence. Por Fernando Brito |
Cidadania | |||
Seg, 28 de Outubro de 2019 04:49 | |||
Este domingo é daqueles dias em que o encontro de passado e do futuro se enlaça e explode com força do hoje. Lula, na prisão, tem uma paradoxal alegre festa de aniversário por todo o país. Os argentinos, enterrados numa crise, estendem a mão para trazer de volta o peronismo kirchnerista. Os chilenos cantam nas ruas as músicas de seu sonho libertário dos anos 70, por bocas que nem haviam nascido, então. Na Bolívia e no Equador, torrentes de indígenas se afirmam como donos do que donos são. O que foi e o que será têm um tão improvável quanto inevitável encontro em dias assim, correntes de um oceano onde singram nossas pequenas vidas, por eles sacudidas em vales e cristas das ondas da História. Não tivemos medo das tempestades quando jovens, porque os jovens são magnificamente temerários e a curiosidade é um desafio ao medo. Estranhamente, também não temos, agora que velhos, porque o medo já é tão velho conhecido que suas caretas pouco nos assustam. O que nos deu rumo aos 20, teimosia aos 40, agora, passados os 60, já não deixa mudar roda do leme para buscar porto seguro. E então, no encontro das águas que se vão e das que se vêm, podemos flutuar, encantados pelo tempo que há de nos tragar em breve. E como não é um ato individual, mas o resultado da sucessão de gerações que formam esta maravilha que se chama povo e que se chama humanidade, ver escrito o que nem lembramos de escrever, ainda que numa caixa de papelão, nas agitadas ruas do Chile, embora o lugarejo onde vivem chame-se La Serena, como a batizar a alma de “los abuelitos” Raúl e Silvia. Cantando como cigarras cantam ao sol, depois de anos debaixo da terra.
Tantas veces me mataron, Cantando al sol, Tantas veces me borraron, Cantando al sol, Tantas veces te mataron, Cantando al sol,
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