Itaipu Binacional: miniatura da biocivilização por Leonardo Boff |
Meio Ambiente & Sustentabilidade | |||
Seg, 06 de Dezembro de 2010 19:08 | |||
Há hoje na cultura mundial muita desesperança e perplexidade generalizada. Não
sabemos para onde estamos rumando. O vôo é cego num rumo ao desconhecido.
O que mais dói é a falta de alternativa ao modelo vigente que visa grande
acumulação em vista do acelerado consumo, à custa da depredação da natureza e
da geração de gritantes injustiças sociais a nivel mundial. Com as "externalidades" surgidas (aquecimento global, escassêz de recursos, desequilíbrio global do sistema-Terra) a sensação predominante é que assim como está o mundo não pode continuar. Temos que mudar. Por isso, por todas as partes, surgem novas visões e especialmente práticas que nos devolvem certa esperança de que outro mundo é possível e necessário. A nova centralidade gira ao redor do cuidado da vida, da salvaguarda da Humanidade e da proteção do planeta Terra. O que vai nascer será uma biocivilização ou uma Terra da Boa Esperança (Ignacy Sachs). Eis que em nosso pais encontramos uma miniatura do desejo coletivo, uma pequena antecipação daquilo que deverá ser dominante na Humanidade: o projeto "Cultivando Agua Boa" da Itaipu Binacional em Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná. Ai, num acordo entre Brasil e Paraguai, se construiu a maior hidrelétrica do mundo com um reservatório de água de 176 quilômetros de comprimento, onde estão estocados 19 bilhões de metros cúbicos de água, utilizados por 20 turbinas que geram 14 mil megawatts. Qual foi o "insight" de seus diretores Jorge Samek e Nelton Friedrich já nos inícios de sua administração em 2003? Que a água não se destina apenas para produzir energia elétrica, mas também para gerar todo tipo de energia necessária aos seres que dependem vitalmente da água, especialmente os humanos. Foi então se modelou o projeto "Cultivando Agua Boa" que envolve os 29 municípios lindeiros nos quais vivem cerca de um milhão de pessoas, com a criação de aves e suinos, das maiores do pais. Trata-se de um projeto altamente complexo que envolve praticamente todas as dimensões da realidade, resultando numa verdadeira revolução cultural, pois este é o propósito dos milhares que implementam o projeto. É exatamente isso que precisamos: de um novo ensaio civilizatório, testado numa miniatura, que seja viável dentro das condições mudadas da Terra em processo de aquecimento e de exaustão de seus recursos. O motto diz tudo:"um novo modo de ser para a sustentabilidade". Sempre afirmei que a sustentabilidade foi sequestrada pelo projeto do capital, esvaziando-a para impedir que significasse um paradigma alternativo a ele, já que é intrinsecamente insustentável. Libertada deste cativeiro, ela adquire valor central de um novo arranjo civilizatório que estabelece uma equação equilibrada entre ser humano-natureza- No próximo artigo quero detalhar o vasto campo de atividades que vão desde o aproveitamento dos dejetos sólidos gerando energia, até a inovação tecnológica com o carro elétrico, a pesquisa sobre o hidrogênio, a criação do Centro de Saberes e Cuidados Ambientais e a da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Quem acompanha aquele projeto sai com esta certeza: a Humanidade é resgatável, ela tem jeito, é possível, como dizia Fernando Pessoa, criar um mundo que ainda não foi ensaiado.
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