Lula e a transição democratica por Luis Nassif |
Meio Ambiente & Sustentabilidade | |||
Qua, 04 de Fevereiro de 2009 05:36 | |||
A democracia ocidental foi de formando através da incorporação
gradativa – e com muita luta - dos vários segmentos sociais. Desde a
Revolução Industrial, houve a luta dos sindicatos, a campanhas contra a
exploração de crianças, das mulheres pelo direito ao voto, dos negros,
a partir de um certo nível social e de organização política.
Um dos fenômenos mais ricos do atual momento é a incorporação ao jogo político das grandes massas desorganizadas, especialmente dos pobres e miseráveis dos países emergentes ou francamente atrasados. É o caso dos movimentos sociais no Brasil, que passaram a crescer nos anos 90 até adquirir expressão política. É também o caso dos governos de esquerda do continenteMesmo com suas cabeçadas (que são muitas) comprovam a incapacidade da política tradicional do continente de resolver os problemas da população. Há uma grande oportunidade e um grande risco nesse movimento. A oportunidade é o fato de ser a última e decisiva rodada de uma inclusão social e política civilizatória. É a rodada final de uma luta de século pelos direitos sociais, permitindo à economia mundial o grande salto, com a incorporação de bilhões de pessoas ao mercado de consumo e de trabalho. O risco é a transição, a fase inevitável de conflitos em que os de cima impõem resistências, para não abrir mão de fatias de poder; e os de baixo saem abrindo caminho a tapa. É aí que entra o Estadista, o governante com visão e habilidade para entender as pressões e incorporar esse movimento ao jogo democrático, impedindo a desagregação do país. A grande frente contra a ditadura ocultou a enorme dose de preconceito e de miopia existente em parte influente dessa elite – a que tem na grande mídia seu porta-voz por excelência. As invectivas contra a Bolsa Família, contra os gastos sociais, a tentativa permanente de criminalização de todo movimento social, o preconceito contra toda forma de conhecimento não formal, a ascensão dessa direita inculta, truculenta e preconceituosa – reforçando os preconceitos da parte inculta e truculenta da esquerda – torna esse caminho difícil. Lula tem desempenhado papel relevante, de ser o guardião da normalidade política do continente em uma transição especialmente delicada – tanto nos movimentos sociais brasileiros, como para tourear e ensinar os vizinhos aguerridos. Esse trabalho foi reconhecido, recentemente, pelo presidente francês Nicola Sarkozis. E tem tido reconhecimento internacional. Dia desses, a colunista Eliana Cantanhede escreveu que, numa roda, jornalistas brasileiros falavam mal e estrangeiros se maravilhavam com Lula. Concluía que era a prova de que, apesar dos analistas brasileiros na mídia criticarem Lula, o noticiário era isento e permitia aos estrangeiros ter outra idéia. Até parece. O que explica melhor as diferenças talvez seja a maior cultura política dos jornalistas estrangeiros, sua não contaminação ideológica e seu discernimento para separar o irrelevante do essencial. A questão básica é entender o que será Brasil e América Latina no pós-Lula. Artigo publicado originalmente no site www.luisnassif.com.br
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