O pior Natal brasileiro de todos os tempos, por J. Carlos de Assis |
Dando o que Falar | |||
Sáb, 23 de Dezembro de 2017 05:00 | |||
Este é o pior Natal de todos os tempos na história do país. Mais do que milhões de desempregados e subempregados tem sofrido, mais do que centenas de milhares de trabalhadores tem perdido em renda e perspectiva de vida, mais do que o povo tem enfrentado com insegurança generalizada, mais que tudo isso tivemos a tragédia de caminhar para o fim de um ano sem ter a menor idéia do que pode acontecer no próximo. A indefinição começa pela atitude já prenunciada pelo tribunal federal de Porto Alegre, politicamente enviesada no sentido de impedir a candidatura de Lula. É evidente que esse não será ainda o começo da guerra civil. A guerra civil vai começar quando os resultados da política de Meirelles/Temer mostrarem de forma plena seus frutos malignos. Alguma coisa já se percebe como conseqüência da aplicação da lei trabalhista: dezenas de milhares de trabalhadores são despedidos em larga escala para se converterem em pessoas jurídicas e com isso serem obrigados a se filiar a alguma previdência privada comandada pelo sistema bancário. O grau de torpeza social desse processo se revela quando examinamos essas demissões e estímulo ao subemprego em confronto com a situação econômica do país. Não importa quanto dinheiro de propaganda o Governo despeje na grande mídia, especialmente na Globo, pois continuamos em forte contração. Se fosse numa situação normal de flutuação de crescimento, o desemprego poderia ser tomado como um desconforto casual. Na depressão, é um fenômeno permanente, pois há uma tremenda barreira para o re-emprego. O mais grave é que seja no Executivo, seja no Legislativo, não há iniciativas reais para enfrentar e reverter o desemprego. O Presidente gasta praticamente todo o seu tempo entre Brasília e São Paulo para se livrar de acusações públicas de corrupção, e toma o resto de tempo para vender aos parlamentares da base a reforma da Previdência. É possível que algum idiota, ou pessoa extremamente mal informada, acredite nas suas prédicas cansativas com a alegação hipócrita de que a reforma é para combater privilégios. Do meu ponto de vista, a primeira obrigação de qualquer governo numa democracia é combater o desemprego e promover o pleno emprego. Isso foi uma das minhas teses de pós-graduação, sob o título “Trabalho como Direito”, no longínquo 1984. Partindo da constatação de que as bases da democracia moderna, especialmente nas revoluções americana e francesa, colocaram como fundamental para a convivência social e a liberdade civil o direito à propriedade privada, vinha logo a pergunta: e quem não tem propriedade, como fica? Desconsiderando-se a solução marxista para o problema (socialização dos meios de produção), é politicamente inevitável concluir que, numa democracia moderna, ao direito de propriedade privada deve corresponder o direito ao trabalho remunerado. É claro que esse direito difuso não pode ser um dever do setor privado isoladamente. É um dever do Estado. Cabe ao Estado promover políticas econômicas que assegurem a conquista do pleno emprego, ou pelo menos o que diz a legislação norte-americana, o emprego máximo. Isso não é difícil. Keynes, o maior economista do século XX, reconheceu a inevitabilidade do ciclo econômico – expansões seguidas de recessão – e propôs uma teoria original para regular o ciclo e promover o pleno emprego. O presidente Roosevelt enfrentou com eficácia a Grande Depressão dos anos 30, assim como Hjalmar Schacht, o braço econômico de Hitler, responsável pela recuperação do poderio industrial alemão. Temos, pois, duas alternativas, ambas eficazes economicamente: ou a de Roosevelt, ou a de Hitler! Prefiro a de Roosevelt. Mas vejo o país caminhar para a de Hitler. A série de ajustes impostos ao país nos últimos três anos é do mesmo tipo da que o que o chanceler Brunning impôs na Alemanha em 1930 e 1931. No começo eram 12 deputados nazistas. No fim mais de 200. Vendo Meirelles buscando espaço de candidato na televisão com seus esgares vampirescos e sua fraseologia hipócrita de Goebbels, imagino como o país, preocupado exclusivamente em cortar gastos, pode superar seus gigantescos problemas de emprego no próximo ano.
Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/noticia/o-pior-natal-brasileiro-de-todos-os-tempos-por-j-carlos-de-assis
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |