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As novas imagens da Lava Jato, por Fábio de Oliveira Ribeiro
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Dando o que Falar
Sex, 15 de Junho de 2018 03:57

FABIO_DE_OLIVEIRA_RIBEIROVivemos num mundo povoado de imagens. Algumas delas são familiares e outras locais, elas dizem respeito às nossas próprias vidas. A maioria das imagens que nós consumimos, porém, não tem qualquer relação com o nosso cotidiano. Elas foram produzidas por outras pessoas em outros lugares distantes e muitas vezes em épocas passadas. Imagens futuristas rapidamente se tornam antigas à medida que outras vão sendo produzidas e distribuídas até conseguirem colonizar nossos imaginários.

À medida que nossas coleções de imagens vão crescendo, aprendemos a separá-las e cataloga-las de acordo com vários critérios: época, país, região, cidade, utilidade, proximidade, distância, cor, forma, etc... O critério afetivo, porém, talvez seja o mais importante. Nós gostamos de algumas imagens, outras nós odiamos. A mesma imagem, contudo, é capaz de provocar emoções diferentes em pessoas distintas.

Quem ama a imagem de Lula odeia a de Sérgio Moro. A reciproca também é verdadeira. Quem ama a imagem do juiz quase sempre odeia a da vítima que ele encarcerou. Mas não é desse assunto que quero falar no momento. Hoje pela manhã me ocorreu uma pergunta dolorosa: quais são as imagens mais grotescas e repugnantes que eu já vi?

Duas imediatamente foram projetadas novamente na minha consciência. A primeira foi de uma jovem empregada doméstica vomitando lombrigas no tanque na casa em que morei em Eldorado SP. Ela morava na roça e foi contratada pela minha mãe para trabalhar e morar em nossa casa. Aquela imagem provocou em mim um sentimento profundo de nojo e de terror. Ela ficou gravada de maneira tão forte na minha consciência que consigo vê-la mentalmente 46 anos depois.

A segunda foi o de um operário que havia se enforcado num sobrado em construção na periferia de Osasco SP. Pulei o muro da obra para pegar a bola e lá estava o enforcado, os pés quase rentes ao chão pendurado no andaime. Ele havia usado fios elétricos para tirar a energia vital do próprio corpo. Sempre que passo próximo ao sobrado que existe no local vejo mentalmente o cadáver robusto, rígido e roto que me deixou pasmo: porque alguém tiraria a própria vida daquela maneira? Aos 13 anos de idade ninguém consegue encontrar uma resposta para essa pergunta.

Pensando bem, essas duas imagens são aspectos diferentes de uma única pintura: aquela vai sendo composta de diversos fragmentos da mesma pobreza que afeta um número imenso (e agora crescente) de brasileiros. Pobrezinha, a empregada contratada pela minha mãe tinha lombrigas demais porque a casinha de pau-a-pique em que ela vivia com os pais tinha higiene de menos. O operário maltrapilho não saiu da vida para entrar na história. O mais provável é que ele tenha saído da história porque não conseguiu entrar nela, ou pior, porque concluiu que havia entrado pelo cano e seria melhor ganhar uma cova rasa.

Na marquise de um sobrado abandonado do outro lado da rua onde fica meu escritório três desgraçados disputam dois colchões velhos. O lixo se acumula em volta e dentro deles. Como tantos outros eles são réus inocentes condenados indiretamente pela Lava Jato. Por tudo que já vi na vida, não ficarei surpreso ao ver um deles vomitando lombrigas ou cometendo suicídio. Mas as crianças que forem obrigadas a ver isso certamente irão reagir com o mesmo espanto que mordeu minha consciência há tanto tempo.

Lula (e essa cartinha virtual é endereçada a ele) saiu da pobreza para tirar milhões de brasileiros dela. Ao que tudo indica Sérgio Moro sempre teve uma vida confortável. Nos últimos dois anos ele conseguiu tirar o conforto de milhões de brasileiros para poder prender injustamente o ex-presidente petista. As vítimas colaterais dos processos da Lava Jato foram ignoradas. Elas não tiveram direito de defesa e não serão nem mesmo vistas pelo juiz. De fato, os jornalistas que gostam da imagem dele nem se dão ao trabalho de ver as novas imagens que ele ajudou a produzir. E muitos de nós já estamos começando a conviver com a miséria humana e imagética como se ela fosse natural e não produzida.

Artigo publicado em https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/as-novas-imagens-da-lava-jato-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

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