Fábrica de traidores, Por Frederico Rocha Ferreira |
Dando o que Falar | |||
Ter, 25 de Setembro de 2018 04:36 | |||
O instrumento da delação premiada revelou não só uma grande plêiade de corruptos e corruptores compondo o sistema político-empresarial brasileiro, mas também a natureza traiçoeira e covarde desses indivíduos. Todos a princípio são parceiros, amigos e inocentes até o acerto de delação com a justiça, quando então, se confessam culpados e apontam o dedo para seus cumplices em troca do perdão de seus crimes. A delação é tão abjeta que até mesmo as organizações criminosas urbanas1 punem os traidores com a morte. No Brasil, o instrumento da delação tem sido utilizado não como forma auxiliar da justiça pelo arrependimento criminoso, mas como ferramenta de coação2 para efeito de deduragem e como barganha pelos criminosos, para diminuírem ou se livrarem das penas. Assim temos exposto o caráter movediço tanto dos servidores da lei, quando de corruptos e corruptores, tornando mais hediondo o criminoso em seu crime e mais hedionda a justiça no cumprimento da lei, na medida em que fixa como fundamento ético nessa relação, a traição. Carlos Heitor Cony; falando dos porões da ditatura dos anos de chumbo de 64, cita o instrumento da delação utilizado pelo militares: “De todas as violências e ilegalidades postas em prática pela quartelada do golpe de 64, a mais repugnante, a mais abjeta, foi a oficialização da delação3” e hoje a temos novamente, oficializada e servindo a criminosos covardes e a uma justiça suspeita. O individuo covarde, não mede esforços em lançar mão da traição como forma de escapar das garras da lei, não poupa companheiros de crime, nem mesmo os amigos. O empreiteiro Fernando Cavendish e o ex-governador Sérgio Cabral; é um exemplo de que toda amizade termina num acerto de traição. Em 2009, ano em que o Maracanã foi fechado para as obras da Copa do Mundo, Cavendish e Cabral aparecem em um descontraído jantar em Paris4. No vídeo de 3:14, estão Sérgio Cabral e a esposa Adriana Ancelmo; Fernando Cavendish e Jordana Kfuri; Sérgio Cortez e esposa; além de outros convidados. Em animada conversa Cabral insiste para Cavendish marcar a data do casamento com Jordana, que viria a falecer num acidente de helicóptero em 2011. Na ocasião do trágico acidente, o então governador Sergio Cabral participava de um almoço com a família de Cavendish no Villa Vignoble Terravista Resort, em Trancoso e depois do almoço, os convidados começaram a ser levados de helicóptero para o Jacumã Ocean Resort, a 15 km e foi numa dessas viagens que aconteceu o acidente vitimando Jordana Kfuri, mulher de Cavendish e a namorada do filho de Sérgio Cabral, Mariana Noleto, além do piloto do helicóptero5. Em junho de 2016, Cavendish é preso na Operação Saqueador, da Polícia Federal, que apurava um esquema de lavagem de dinheiro da ordem de R$ 370 milhões desviados dos cofres públicos. Pouco mais de três semanas na prisão foi suficiente para o empreiteiro fazer um acordo de delação6 e trinta dias depois, já gozava da prisão domiciliar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça7, posteriormente retirada pelo juiz Marcelo Bretas8, assegurando ao empreiteiro responder o processo em liberdade. Em junho saiu a primeira condenação de Cavendish. O juiz Marcelo Bretas bateu o martelo em quatro anos de prisão, em regime semi-aberto e agora em setembro, a segunda condenação; três anos em regime aberto9, enquanto o ex-governador dedurado, está preso em regime fechado e o somatório das penas impostas pelo mesmo juiz, já soma 183 anos de prisão10. A delação de Fernando Cavendish é mais uma no rol das parcerias ilícitas entre famílias amigas e onde inexiste o escrúpulo em trair para livrar a própria pele, em parte, pelo espírito fraco e covarde dos envolvidos, em parte pelo execrável instrumento de coação praticado pela justiça no âmbito da Lava-Jato, que a vem transformando numa fábrica de traidores. Referências:
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