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A neutralidade no segundo turno é o refúgio dos covardes. por João Filho
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Dando o que Falar
Seg, 15 de Outubro de 2018 05:35

Joao_FilhoSe você acha que uma vitória de Haddad e do PT representa um sério risco à democracia, então sinto informar que você não entendeu nada do que aconteceu na história recente do Brasil. O partido se manteve no poder por 14 anos, tendo sido eleito por quatro vezes.

Goste-se ou não dos seus governos, é inegável que ele respeitou a separação de poderes, não ameaçou a liberdade de imprensa e aceitou o resultado de um processo de impeachment que considerava um golpe.

Diante das manifestações de rua que pediam a sua saída, a presidenta afirmou que elas faziam “parte da democracia”. Dilma foi deposta e desceu a rampa do Planalto sem partir para o enfrentamento. Em nenhum momento, ela ou o PT ameaçaram fechar o Congresso ou colocar as Forças Armadas nas ruas para combater oponentes e barrar o processo que consideravam ilegal. Michel Temer assumiu o poder, e o PT foi para a oposição. Jamais se chegou perto das aberrações institucionais e antidemocráticas capitaneadas por Maduro na Venezuela. Apenas as reginas duartes temiam e temem essa possibilidade.

E Bolsonaro? O governo formado por militares aceitaria tranquilamente essas pressões sem recorrer às Forças Armadas? A se levar em conta os discursos proferidos pelo seu líder nos últimos anos, me parece bastante claro que não. Do ponto de vista do risco à democracia, Bolsonaro está muito mais próximo de Maduro do que de Haddad. Não é preciso ser um analista sofisticado para enxergar isso. Os discursos de Bolsonaro durante sua vida pública atestam o seu desprezo pela democracia. O capitão já afirmou textualmente que se fosse presidente daria um auto golpe assim que fosse eleito, fecharia o Congresso no dia seguinte à posse e fuzilaria o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Declarou ainda ser a favor da tortura e que só uma guerra civil resolveria os problemas do país. Os discursos de Bolsonaro são a própria “venezuelização” do Brasil.

General Mourão, seu vice, vem fazendo declarações ostensivamente antidemocráticas semana após semana. O seu provável futuro ministro dos Transportes, o general Oswaldo Ferreira, afirmou essa semana: “No meu tempo (ditadura militar), não tinha Ministério Público e Ibama para encher o saco” — este homem é considerado uma das cabeças pensantes da candidatura Bolsonaro nas áreas de infraestrutura e meio ambiente. É isso. Eles acham a democracia um saco.

A campanha bolsonarista passou a eleição inteira questionando a lisura da votação e espalhou deliberadamente mentiras sobre as urnas eletrônicas — as mesmas que elegeram ele e seus filhos por várias vezes seguidas e que levaram o PSL a ter a segunda maior bancada da Câmara neste pleito. O candidato da extrema-direita trabalha abertamente com o golpismo. Ninguém no futuro poderá dizer que foi pego de surpresa, já que a tragédia vem sendo anunciada por eles próprios. Assim como Regina Duarte, quem não está com medo é porque não entendeu.

Muitos partidos, políticos e jornalistas insistem em tratar Bolsonaro e Haddad como dois lados da mesma moeda. Trata-se ou de um erro grotesco de avaliação, ou de um tremendo e perigoso cinismo. Me parece que a segunda opção é a mais crível. Entre optar por um candidato com histórico em defesa da democracia e um com perfil autoritário e histórico em defesa da ditadura militar, há lideranças políticas que preferem lavar as mãos e permanecer neutros. A maioria dos partidos declarou que não irá apoiar ninguém. Marina da Silva e a Rede permaneceram neutros, mas pelo menos recomendaram não votar em Bolsonaro. Já os liberais do Novo, como já era de se esperar, montaram o cavalo do autoritarismo com o cinismo peculiar do partido. Optaram pela neutralidade, mas afirmaram ser “absolutamente contrário ao PT” — uma neutralidade antipetista.

Enquanto a barbárie bate à porta com casos de violência por parte dos seguidores de Bolsonaro pipocando pelas ruas do país, importantes democratas como Ciro Gomes e FHC decidiram passar uns dias na Europa. O primeiro irá apoiar Haddad, mas até aqui o apoio foi bastante tímido. O segundo fez juz à sua biografia e covardemente se declarou neutro. O ex-presidente viajará para o exterior nos próximos dias e só voltará para votar no segundo turno.

EM AGOSTO, a Fundação FHC recebeu para uma palestra o cientista político Steven Levitsky da Universidade de Harvard. Ele é um dos autores do livro “Como as democracias morrem”. Durante a palestra, ao lado do anfitrião FHC, Levitsky propôs um teste com quatro questões para identificar se um candidato tem tendências autoritárias: “Rejeita, em palavras ou atos, regras fundamentais da democracia? Põe em dúvida a legitimidade de seus oponentes? Tolera ou incentiva a violência política? Admite ou propõe restringir liberdades civis?”

Não é necessário dizer que Levitsky respondeu “sim” para Bolsonaro em todas as perguntas, o que não ocorreu com os demais candidatos. Disse ainda que “se um candidato, em sua vida, carreira política ou durante a campanha, defendeu ideias antidemocráticas, devemos levá-lo a sério e resistir à tentação de apoiá-lo, ainda que, diante de circunstâncias momentâneas, pareça ser uma opção aceitável”. O sociólogo FHC, que acompanhava a palestra ao lado do cientista político, concordou com tudo, mas o político e o cidadão FHC preferiram optar pela covardia da neutralidade, o que, na prática, se torna um apoio ao primeiro colocado nas pesquisas.

Há quem diga que é impossível votar em Haddad por causa da corrupção dos governos petistas. O voto no candidato autoritário seria a única maneira de colocar ordem na casa e evitar a volta da roubalheira do PT. De repente, o homem que arranjou tetas no Estado para quase toda a sua família — e que conseguiu até um emprego fantasma para o irmão na Assembleia Legislativa de São Paulo —  virou uma opção para acabar com a corrupção no país. É uma insanidade. Bolsonaro e sua turma são uma tragédia também sob o ponto de vista ético. Basta olhar para os homens que o capitão promete escolher para compor seu ministério. Onyx Lorenzoni, que admitiu ter recebido R$ 200 mil de propina da JBS, já foi anunciado como futuro ministro da Casa Civil. Seu guru econômico, Paulo Guedes, acusado pelo Ministério Público Federal de fraudar negócios com fundos de pensão de estatais, deve estar muito feliz com o foro privilegiado que receberá ao assumir o Ministério da Fazenda. Magno Malta, o vice dos sonhos de Bolsonaro, perdeu a eleição ao Senado e muito provavelmente será escolhido como ministro, como ele próprio já afirmou. Malta já foi indiciado na Máfia dos Sanguessugas, está sendo acusado de gravíssimos abusos na CPI da Pedofilia e gastou meio milhão de reais em gasolina usando dinheiro do eleitor em postos cujo dono é seu aliado político e já foi condenado por roubo. São esses alguns dos quadros notáveis que Bolsonaro escolherá para alçar o Brasil a um novo patamar ético.

Mas não são apenas partidos e lideranças políticas que passam pano para o autoritarismo. Enquanto a imprensa do mundo inteiro trata Bolsonaro como um candidato da extrema-direita, a Folha de São Paulo recomenda aos seus jornalistas que não classifiquem Jair Bolsonaro assim. A revista Fórum teve acesso a um comunicado interno, enviado pelo secretário de redação aos repórteres do jornal, determinando que só podem ser chamados de extrema-direita ou extrema-esquerda “facções que praticam ou pregam a violência como método político”. Bolsonaro insufla o povo a “metralhar a petralhada”, defende a tortura como prática de Estado e acredita que os responsáveis da exposição Queermuseu deveriam ser fuzilados, mas, não, a Folha não acredita que Bolsonaro prega a violência como método político. Talvez a Folha acredite, como o próprio candidato diz, que os discursos carregados de violência sejam apenas “força de expressão”. É evidente que estamos diante de um extremista que apresenta soluções simplórias e autoritárias para quase todos os assuntos. Estamos na beira do abismo, e a Folha está achando que ele nem é tão alto assim.

Nas entrevistas que os candidatos deram para o Jornal Nacional no dia seguinte à votação, parte das perguntas se baseou na ideia de que ambos representam igualmente um risco à democracia. Colunistões da linha de frente da Globo como Merval Pereira, por exemplo, tratam o segundo turno como um embate entre dois lados trágicos de uma mesma moeda. É como se Haddad fosse um candidato que flertasse com a ditadura do proletariado assim como Bolsonaro flerta com a ditadura militar. Dos grandes nomes da Globo, apenas Miriam Leitão colocou os pingos nos is, honrando seu passado de luta contra a ditadura militar: “Muita gente compara os dois, mas eles não são equivalentes. Jair Bolsonaro sempre teve um discurso autoritário. O PT tem grupos que apoiam a Venezuela, mas é um partido que nasceu, cresceu na democracia e sempre jogou o jogo democrático”. Como era de se esperar, o posicionamento da jornalista fez com que ela fosse atacada pelas milícias virtuais que apoiam Bolsonaro.

A democracia, mais uma vez, está à beira do precipício e não falta gente querendo empurrar. Nasceu um líder popular de extrema-direita no país que conquistou o apoio das igrejas evangélicas, do alto empresariado, do mercado financeiro, de parte relevante do judiciário e de setores da mídia. Só mesmo quem vive descolado da realidade ainda não percebeu que Bolsonaro governará no limite da irresponsabilidade democrática e que não hesitará em lançar mão de um golpe militar se considerar necessário. Está bastante claro que Haddad é a única opção possível para a democracia. Diante do quadro terrível que se avizinha, há quem ache razoável se manter neutro. A neutralidade virou o refúgio dos covardes. A história cobrará caro.

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Regina Duarte visita Jair Bolsonaro.

Artigo publicado originalmente em https://theintercept.com/2018/10/14/bolsonaro-segundo-turno-neutralidade/

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