A tática da intimidação. Por Bernardo de Mello Franco |
Dando o que Falar | |||
Ter, 21 de Abril de 2020 12:00 | |||
Jair Bolsonaro tirou o domingo para praticar seu esporte preferido: a ameaça à democracia. O presidente participou de uma manifestação que pedia o fechamento do Congresso e do
Supremo Tribunal Federal. As faixas defendiam uma "intervenção militar", eufemismo rasteiro para golpe.
A ambição autoritária de Bolsonaro não é novidade, mas desta vez ele conseguiu inovar. O capitão improvisou um palanque em frente ao Quartel-General do Exército. Ao escolher o cenário, buscou passar a mensagem de que os militares estariam a seu lado numa ofensiva contra as instituições. Sempre que se sente enfraquecido, o presidente lança a carta da radicalização. A agitação dominical serviu para reagrupar sua tropa, que estava abatida desde a demissão do ministro da Saúde. Os extremistas voltaram a mobilizar as redes e organizaram carretas contra as medidas de isolamento social. Bolsonaro não quer governar. Isso o obrigaria a ler relatórios, assumir responsabilidades e abandonar o discurso populista sobre o coronavírus. Ele prefere terceirizar os problemas e eleger bodes expiatórios. Após a queda de Henrique Mandetta, o novo alvo é Rodrigo Maia. No cenário atual, o bolsonarismo não precisa de um autogolpe. Basta manter o clima de tensão permanente no ar. A tática da intimidação tem funcionado. Mais uma vez, as instituições se limitaram a reagir com tuítes e notas de repúdio. Esse tipo de resposta já se mostrou ineficaz para estancar as ameaças. Ontem o ministro da Defesa afirmou, também por escrito, que as Forças Armadas "trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição". Na porta do Alvorada, o presidente expôs sua visão do assunto. "A Constituição realmente sou eu", sentenciou. O discurso na caminhonete não foi a única provocação do fim de semana. Enquanto o capitão confraternizava com golpistas, seu filho Carlos divulgou outro vídeo com apelo à violência. Na gravação, homens de preto gritam "Bolsonaro" e descarregam revólveres num estande de tiro. O vereador dispensou a legenda.
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