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A Rússia "realmente não quereria" uma Guerra Fria 2.0. Por Pepe Escobar
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Dando o que Falar
Qua, 14 de Abril de 2021 05:40

Pepe_EscobarO Beltway sempre gostou de descrever o falecido Andrew Marshall - que identificava ameaças emergentes ou futuras ao Pentágono, e cuja lista de protegidos incluía Dick Cheney, Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz - como Yoda.

Bem, se isso for verdade, o chefe máximo da segurança nacional chinesa, Yang Jiechi - que recentemente fez sopa de barbatana de tubarão de Tony Blinken, no Alasca - é Duplo Yoda. E Nikolai Patrushev – Secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa - é Triplo Yoda.

Em meio às gélidas relações EUA-Rússia - atoladas em sua pior forma desde o fim da Guerra Fria - o Triplo Yoda, discreto, diplomático e sempre afiado como uma adaga, continua sendo uma tranquilizadora voz da razão, como demonstrado em uma estarrecedora entrevista dada ao jornal diário Kommersant.

Patrushev, nascido em 1951, é um general do exército que trabalhou para a contra-inteligência da KGB em Leningrado, nos tempos da URSS. A partir de 1994, ele chefiou uma série  de departamentos do Serviço de Segurança Federal. De 1999 a 2008, ele foi diretor do SSF e liderou operações de contra-terrorismo no Norte do Cáucaso, de 2001 a 2003. Em maio de 2008 ele passou a ser o principal consultor da área de segurança da Rússia.

Patrushev raramente fala à mídia. Daí a importância de ressaltar para a  opinião pública global alguns de seus principais insights. Esperemos que o Beltway esteja ouvindo.

Patrushev afirma claramente que a Rússia não quer a Guerra Fria 2.0. "Nós realmente não quereríamos isso". E ele espera que "o  bom-senso venha a prevalecer em Washington".

Patrushev fala

Sobre Biden declarar que Putin é um "matador": "Eu não gostaria de traçar paralelos, mas há exatos 75 anos, em março de 1946, Churchill proferiu o famoso discurso Fulton , na presença do Presidente Truman, no qual ele declarou que nosso país, até recentemente aliado seu na coalizão anti-Hitler, era um inimigo. Isso marcou o início da Guerra Fria."

Sobre a Ucrânia e Donbass: "Estou convencido de que essa situação é consequência de graves problemas internos da Ucrânia, dos quais as autoridades tentam dessa maneira desviar a atenção. Elas resolvem seus problemas às custas de Donbass, enquanto o capital, já faz muito tempo, vem fugindo do país... e Kiev vem vendendo a estrangeiros - tal como dizem agora, a preços democráticos - os restos da indústria que conseguiram se manter à tona".

Sobre a prioridade máxima para os Estados Unidos e a Rússia: "É a "esfera da estabilidade estratégica e do controle de armamentos. Aqui já há um exemplo positivo. Foi decidido consensualmente estender o Tratado sobre Armamentos Ofensivos Estratégicos, o que certamente não deve ter sido fácil para o governo dos Estados Unidos".

Sobre possíveis áreas de cooperação: "Há um certo potencial para trabalho conjunto em áreas tais como o combate ao terrorismo internacional e o extremismo... bem como a Síria, o acordo sobre o Oriente Médio, o problema nuclear da  península coreana, o Plano de Ação Global Conjunto com o Irã... Já passou da hora de discutirmos questões de cibersegurança, tendo em vista, principalmente, as preocupações da Rússia e as acusações que já há muitos anos vêm sendo levantadas contra nós".

Sobre os contatos com Washington: "Eles continuam. Em fins de março, tive uma conversa telefônica com o assessor para segurança nacional do presidente dos Estados Unidos, o Sr. Sullivan.… Por sinal, essa conversa ocorreu em uma atmosfera calma e pragmática, e nos comunicamos de forma completa e construtiva".

Sobre não ter ilusões quanto aos pedidos de desculpas dos Estados Unidos: "Os Estados Unidos jogaram bombas atômicas no Japão de forma totalmente desnecessária - embora tivessem perfeito conhecimento de que o Exército Vermelho havia iniciado hostilidades contra o agrupamento japonês na Manchúria, e de que Tóquio estava prestes a se render.  E, durante três quartos de século, foi dito aos japoneses, e de fato ao mundo inteiro, que os ataques atômicos eram inevitáveis... uma espécie de castigo dos céus. Lembrem-se do que Obama disse em sua fala proferida na cerimônia de luto por Hiroshima: "A morte caiu do céu". E ele não disse que a morte caiu de um avião americano, seguindo ordens do presidente dos Estados Unidos".

Sobre a melhoria das relações: "Dada a dificuldade da atual situação interna dos Estados Unidos, as perspectivas de avanço não podem ser vistas como animadoras".

Sobre os Estados Unidos verem a Rússia como uma "ameaça", e se essa percepção é recíproca: "Neste momento, vemos a pandemia como a principal ameaça. Para os Estados Unidos, por sinal, ela acabou sendo a hora da verdade. Os problemas que os políticos americanos vinham escondendo de seus concidadãos tornaram-se óbvios, inclusive ao desviar sua atenção para as lendas da 'Rússia agressiva'".

Sobre os biolaboratórios dos Estados Unidos: "Sugiro que vocês prestem atenção ao fato de que o número dos laboratórios biológicos controlados pelos Estados Unidos vem crescendo aos saltos por todo o mundo. E - por uma estranha coincidência - principalmente próximo às fronteiras da Rússia e da China... É claro que nós e nossos parceiros chineses temos perguntas a fazer. O que nos dizem é que trata-se de estações sanitárias e epidemiológicas para fins pacíficos situadas nas proximidades de nossas fronteiras, mas por alguma razão elas nos fazem lembrar Fort Detrick, em Maryland, onde os americanos, há décadas, vêm trabalhando na área de biologia militar. Por sinal, é necessário atentar para o fato de que surtos de doenças não-características dessas regiões vêm sendo registrados em áreas adjacentes".

Sobre as acusações dos Estados Unidos de que a Rússia usa armas químicas: "Há zero provas, e não há argumentos, tampouco. Há especulações que não resistem ao teste mais elementar... Quando incidentes químicos ocorreram na Síria, foram tiradas conclusões instantâneas, com base em informações fornecidas pelos notórios "Capacetes Brancos". A organização trabalhou tão bem que às vezes publicava seus relatos antes mesmo de os incidentes acontecerem".

Sobre a OTAN: "Levanta-se a pergunta: quem está colocando obstáculos a quem? Washington e Bruxelas estariam colocando obstáculos à Rússia, ou sua tarefa seria impedir o desenvolvimento da Alemanha, da França, da Itália e de outros estados europeus? De modo geral, a OTAN mal pode ser chamada de um bloco político-militar. Lembram-se de que, nos dias do feudalismo, os vassalos eram obrigados a comparecer com seus exércitos frente ao senhor, à primeira convocação? Só que, hoje em dia, eles ainda têm que comprar armamentos do patrono, independentemente de sua situação financeira, sob o risco de terem sua lealdade questionada".

Sobre a Europa: "Nosso engajamento com a Europa é importante. Mas estar junto à Europa a qualquer custo não é uma solução para a geopolítica russa. Mesmo assim, mantemos as portas abertas porque entendemos perfeitamente que há uma situação momentânea que orienta os políticos europeus, e que, ao mesmo tempo, há laços históricos que há séculos vem se desenvolvendo entre russos e europeus".

Sobre a multipolaridade: "Há uma série de problemas no mundo de hoje que, em princípio, não podem ser resolvidos sem cooperação normal entre os principais atores do cenário mundial - Rússia, Estados Unidos, União Europeia. China e Índia".

A opção 'nuclear' SWIFT

As percepções de Patrushev são particularmente relevantes agora que a parceria estratégica Rússia-China vem se tornando mais sólida a cada minuto que passa. O Chanceler Lavrov, no Paquistão, conclamou literalmente todos, "inclusive a União Europeia" a se juntarem à grande visão russa de uma Grande Eurásia, e todos estão aguardando um confronto no Donbass.

A finesse diplomática de Patrushev não é suficiente para aplacar o mal-estar das chancelarias de toda a Europa quanto à clara possibilidade de um confronto no Donbass - com consequências extremamente preocupantes.

Cenários perigosos vem sendo abertamente discutidos nos corredores de Bruxelas, em especial o que vê que o combo EUA/OTAN esperando que venha a haver uma partição de fato seguindo-se a uma guerra quente de curta duração, na qual a Novorossiya absorveria até mesmo Odessa.

Se isso for confirmado como fato concreto, uma nova e severa rodada de sanções se seguiria. A Cortina de Ferro 2.0 entrará em vigor, as pressões para o cancelamento do Nord Stream 2 atingirão um ponto frenético e até mesmo a possibilidade da Rússia ser expulsa do SWIFT será examinada.

Dmitri Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, uma vez chamou esse último cenário de "a opção nuclear". Patrushev foi diplomático o suficiente para não  mencionar suas consequências vulcânicas.

Publicado originalmente no  Asia Times

Tradução de Patricia Zimbres, para o 247 

https://www.brasil247.com/blog/a-russia-realmente-nao-quereria-uma-guerra-fria-2-0-k5yo3ke8


 

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