Então, quem quer uma guerra quente? Por Pablo Escobar |
Dando o que Falar | |||
Ter, 20 de Abril de 2021 07:40 | |||
É uma batalha de escorpiões dentro de um turbilhão de espelhos distorcidos dentro de um circo. Na melhor das hipóteses, temos aí um jogo de sombras circense. Muito mais que consultores da OTAN passando por uma frenética porta giratória em Kiev, o verdadeiro jogo de sombras é o MI6, a inteligência militar britânica, trabalhando muito próxima ao Presidente Zelensky. O script belicista de Zelensky vem diretamente de Richard Moore, do MI6. A inteligência russa tem perfeito conhecimento de todas as letras miúdas. Alguns vislumbres chegaram a ser cuidadosamente vazados para um especial de televisão do canal Rossiya 1. Isso me foi confirmado por fontes diplomáticas de Bruxelas. A mídia britânica também ficou sabendo - mas, obviamente, recebeu instruções para distorcer ainda mais os espelhos, e culpar - o que mais seria? - a "agressão russa". A inteligência alemã praticamente inexiste em Kiev. Os consultores da OTAN continuam sendo legiões. Mas ninguém menciona a explosiva conexão MI6. Nos corredores de Bruxelas, sussurros descuidados juram que o MI6 realmente acredita que, no caso de uma vulcânica, embora ainda evitável guerra quente com a Rússia, a Europa continental arderia em chamas e a Brexitlândia seria poupada. Continuem sonhando. Mas voltando ao circo. Ah, você é tão provocadorTanto o Pequeno Blinken quanto o espantalho Stoltenberg papaguearam o mesmo script em Bruxelas, depois de conversar com o ministro das relações exteriores ucraniano. Tudo isso fez parte de uma "reunião especial" da OTAN sobre a Ucrânia - onde algum eurocrata deve ter dito a um bando de outros eurocratas sem noção que eles seriam instantaneamente carbonizados pelas aterradoras ogivas TOS-1 Burantino russas, no caso de a OTAN tentar alguma gracinha. Ouçam o som dos latidos de Blinken: as atitudes russas são "provocadoras". Bem, sua equipe por certo não entregou a ele uma cópia da análise passo a passo da mobilização anual do DEFENDER-Europe 21 do exército dos Estados Unidos, feita pelo Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu: "As principais tropas estão concentradas no Mar Negro e na região do Báltico". Agora, ouçam o som dos latidos de Stoltenberg: Assumimos o compromisso de dar "firme apoio” à Ucrânia". Au,au. Agora, voltem a seu tanquinho de areia e continuem brincando. Não, ainda não. O Pequeno Blinken ameaçou Moscou com "consequências", aconteça o que acontecer na Ucrânia. A infinita paciência do porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov é quase taoísta. A Arte da Guerra, de Sun Tzu, por sinal, é uma obra-prima taoísta. A resposta de Peskov a Blinken: "Nós simplesmente não precisamos sair por aí proclamando: 'Eu sou o maior, eu sou o maior!' Na verdade, quanto mais se faz coisas assim, mais as pessoas duvidam..." Em caso de dúvida, chamem o insubstituível Andrei Martyanov - que sempre dá nome aos bois. A turma do Boneco de Teste de Colisão, em Washington, ainda não entendeu - embora alguns profissionais do Deep State tenham entendido. Aqui, Martyanov fala: O efeito PatrushevO circo continuou com o telefonema de "Biden" – quer dizer, o Boneco de Teste de Colisão, munido de um fone de ouvido e de um teleprompter, em frente ao telefone – para o Presidente Putin. Chame-se a isso de o "efeito Patrushev". Em sua estarrecedora entrevista ao Kommersant, o Triplo Yoda Patrushev mencionou uma conversa telefônica muito civilizada, ocorrida em fins de março, que ele teve com Jake Sullivan, Consultor de Segurança Nacional dos Estados Unidos. É claro que não há prova incontestável, mas se alguém teve a ideia de um telefonema salva-face Biden-Putin, esse alguém teria sido Sullivan. As versões de Washington e Moscou divergem apenas minimamente. Os americanos destacam que "Biden" – na verdade o combo com poder de decisão que está por trás dele – quer construir "uma relação estável e previsível com a Rússia, consistente com os interesses dos Estados Unidos". O Kremlin disse que Biden "manifestou interesse em normalizar as relações bilaterais". Independentemente de todo esse nevoeiro, o que realmente importa é a relação Patrushev-Sullivan. Isso tem a ver com Washington dizendo à Turquia que navios de guerra americanos transitariam pelo Bósforo em direção ao Mar Negro. Sullivan deve ter dito a Patrushev que não, eles não estariam "ativos" no Donbass. E Patrushev disse a Sullivan: Ok, não vamos incinerá-los. Moscou não tem a menor ilusão de que essa suposta cúpula Biden-Putin em um futuro distante venha algum dia a acontecer. Especialmente depois de o taoísta Peskov ter deixado muito claro que "ninguém permitirá que a América fale com a Rússia a partir de uma posição de força". Se isso soa como uma fala vinda diretamente de Yang Jiechi – que fez a sopa de barbatana de tubarão de Blinken-Sullivan no Alasca – é porque veio mesmo. Kiev, como seria previsível, permanece presa ao modo circense. Depois de receberem cáusticas mensagens do Sr. Iskander, do Sr. Khinzal e do Sr. Buratino, eles mudaram de ideia, ou pelo menos fingem ter mudado, e agora estão dizendo que não querem guerra. E aqui vem a intersecção entre o circo e as coisas sérias. O combo "Biden" nunca disse explícita e publicamente que não quer guerra. Pelo contrário: eles estão enviando esses navios de guerra para o Mar Negro e – novamente o circo! – designando um enviado, ao estilo Ministério dos Passos Bobos, de Monty Python, cuja única tarefa é tirar dos trilhos o gasoduto Nord Stream 2. Daí o suspense – como um teaser do Expresso do Amanhã – é o que irá acontecer quando o Nord Stream 2 estiver concluído. Mas, antes disso, há algo ainda mais importante: na próxima quarta-feira, em seu discurso para o Conselho de Segurança Russo, o Presidente Putin dará a palavra final. É o Minsk 2, estúpidoO vice-ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, falou em um tom bem menos taoísta que o de Peskov: "Os Estados Unidos são nossos inimigos e fazem tudo para minar a posição da Rússia na arena internacional. Não percebemos nenhum outro elemento em sua abordagem com relação a nós. Estas são nossas conclusões". Isso é realpolitik nua e crua. Ryabkov conhece, pelo direito e pelo avesso, a mentalidade "incapaz de acordo" do Hegêmona. Uma dimensão adicional de sua observação, portanto, é sua conexão direta com a única solução possível para a Ucrânia: os acordos Minsk 2. Putin reafirmou os Minsk 2 em sua teleconferência com Merkel e Macron – e certamente para "Biden", no telefonema em que eles conversaram. O Beltway, a União Européia e a OTAN estão todos cientes do fato. O Minsk 2 foi assinado pela Ucrânia, França e Alemanha, e certificado pelo Conselho de Segurança da ONU. Se Kiev o violar, a Rússia – como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas – tem que forçar sua aplicação. Já há meses Kiev vem violando o Minsk 2 e recusando-se a implementá-lo. Como uma leal satrapia do Hegêmona, a Ucrânia também é "incapaz de acordo". Mas agora eles estão vendo a profecia sinistra – na forma de poder de fogo – sobre o que vai acontecer caso eles ousem sequer pensar em iniciar uma blitzkrieg contra o Donbass. O segredo aberto em toda a selva de espelhos sob a tenda do circo da Ucrânia/Donbass é, obviamente, a China. Mas a Ucrânia, em um mundo sensato, não apenas faria parte de um corredor da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), como também do projeto russo da Grande Eurásia. O especialista em China Nikolai Vavilov reconhece a importância da ICR, mas também tem certeza de que a Rússia está, acima de tudo, defendendo seus próprios interesses. Idealmente, Ucrânia e Donbass estariam inseridos no renascimento maior das Rotas da Seda – como, por exemplo, o comércio interno da Eurásia Central, desenvolvido com base na demanda da totalidade da Eurásia. A integração da Eurásia – tanto na visão chinesa quanto na russa – diz respeito a economias interconectadas por meio de comércio inter-regional. Não foi por acaso, portanto, que o Hegêmona – prestes a se tornar um ator irrelevante em toda a Eurásia – apelou para um vale-tudo para intimidar e tentar esmagar a integração continental por todos os meios disponíveis. Nesse contexto, manipular um estado falido para fazê-lo ir de encontro à sua própria perdição é apenas um negócio (circense). Artigo publicado originalmente no Strategic Culture Tradução de Patricia Zimbres, para o 247 https://www.brasil247.com/blog/entao-quem-quer-uma-guerra-quente
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |