Nota infame dos militares afronta poder civil e encobre gangues corruptas. Por Jeferson Miola |
Dando o que Falar | |||
Qui, 08 de Julho de 2021 05:01 | |||
A nota assinada pelo general-ministro da Defesa e comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica é despropositada e intolerável: 1. é totalmente absurdo e impróprio, à luz da Constituição e da Lei Complementar 97/1999, que comandantes das Forças Armadas se manifestem politicamente e assinem libelo político de ataque a outro Poder da República; 2. reforça que as Forças Armadas atuam como facção político-partidária do governo militar, não como instituição permanente de Estado; 3. aprofunda a participação ilegal e inconstitucional das Forças Armadas, em especial do Exército, no jogo político; 4. é uma ameaça de escalada de confronto armado com o poder político no momento em que o governo militar sangra e se afoga no oceano de corrupção e morticínio; e 5. tem o objetivo de intimidar o poder civil e as instituições civis, em especial o Congresso Nacional. Esta infame manifestação dos militares também pode ser lida como sinal de fraqueza. Com a evocação da presença das Forças Armadas na política, o governo militar apela para ostentar força e poder ante a evolução da crise de legitimidade e a crescente desmoralização do regime. A corrupção em escala bilionária no ministério da Saúde deu-se sob o comando de ninguém menos que um general da ativa do Exército brasileiro. Eduardo Pazuello infestou o ministério com dezenas de militares em postos de natureza civil e firmou um consórcio criminoso com uma gangue civil para roubar dinheiro público e dividir o butim sob o pretexto de adquirir vacinas. A omissão dos signatários da nota sobre esta corrupção bilionária e o esquema mafioso de civis e militares no ministério da Saúde comandado pelo general da ativa do Exército mostra, no mínimo, conivência com a corrupção e preocupação em proteger gangues corruptas.
Não causa estranheza, por isso, que o comandante do Exército que assina a nota de ameaça e intimidação do Senado Federal tenha livrado a cara do transgressor general Pazuello que participou de ato político-partidário e eleitoral do Bolsonaro. A bola, agora, está com o poder político, com as instituições civis, com os partidos políticos e organizações democráticas da sociedade brasileira. Se não tiver uma reação contundente dos civis, os militares interpretarão isso ou [1] como consentimento/indiferença passiva; ou como [2] medo do poder fardado. Em quaisquer dessas hipóteses, o governo militar não hesitará em escalar novos degraus rumo a um regime fascista-militar. Artigo publicado originalmente em https://jefersonmiola.wordpress.com/2021/07/07/nota-infame-dos-militares-afronta-poder-civil-e-encobre-gangues-corruptas/
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