A celebração do capital financeiro inócuo, por Luis Nassif |
Dando o que Falar | |||
Dom, 18 de Julho de 2021 06:52 | |||
Em geral, as variações do dólar e das ações refletem a liquidez do momento (ou seja, maior disponibilidade de recursos no mercado), movimentos externos, e eventualmente alguma medida interna de impacto. Mas refletem exclusivamente movimentos de curtíssimo prazo do mercado. A cobertura jornalística financeira no país ainda continua muito primária, sem diferenciar os diversos tipos de investimento externo no país, ou a natureza do capital financeiro. O capital financeiro é virtuoso quando permite ampliação da capacidade de produção de um país. Ou seja, quando financia mais empresas, mais obras, gerando mais produção, emprego e tributos. Há vários mercados de atuação do capital financeiro: 1. Operações de curto prazo no mercado de ações. 2. Operações de arbitragem com juros e câmbio. Ou seja, adquirir títulos públicos em determinado momento e apostar na apreciação do câmbio. O Banco Central aumenta os juros e entra mais capital externo. O dólar é convertido em reais, que é engordar pelos juros dos títulos adquiridos. Com mais entrada de dólares, há uma apreciação gradativa do real. A valorização do real implica em ganhos para quem entrou com dólares, pois permitirá comprar mais dólares na saída do que trouxe. 3. Fusões e aquisições, adquirindo empresas já existentes, sem acrescentar novos investimentos. 4. Investimentos e financiamento de novos setores. Das quatro atividade, a única que agrega riqueza ao país é a quarta, investimentos e financiamentos de novos setores. Portanto, a medida econômica virtuosa é aquela que estimula o investimento produtivo, na ampliação da capacidade instalada. Em geral, as variações do dólar e das ações refletem a liquidez do momento (ou seja, maior disponibilidade de recursos no mercado), movimentos externos, e eventualmente alguma medida interna de impacto. Mas refletem exclusivamente movimentos de curtíssimo prazo do mercado. A política virtuosa para investimentos produtivos é aquela que estimula o aumento da atividade interna. Aumentando, abre-se espaço para novos investimentos. No entanto, há tempos, a atividade preferencial dos investimentos financeiros, em nível global, além das operações de curto prazo em bolsas de valores ou em câmbio, é a compra de empresas e as fusões. Dias atrás, o Financial Times desbastou o balanço do Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimento do mundo. No segundo trimestre do ano, o melhor desemprenho do banco foi na unidade de gestão de ativos. A receita total foi de US$ 15,4 bilhões, 16% a mais em relação ao ano anterior, e bem mais do que as previsões de US$ 12,4 bilhões de resultado. O lucro por ação saltou de US$ 0,53 para US$ 15,02 – um salto estelar. US$ 1,59 bilhão foi reservado para perdas potenciais em empréstimos, devidos à crise do coronavirus. O fundo de ativos da Goldman inclui seu fundo para investimentos em private equity, para aquisições. A receita foi de US$ 5,1 bilhões, 144% a mais do que no ano anterior. O grande impulso foram as operações de fusão e aquisição. Já a receita com operações de mercado foram de US$ 4,9 bilhões. No início da pandemia, essa carteira rendeu bastante, graças à volatilidade dos mercados com a pandemia, ninguém sabendo quem iria sair vivo fui mais forte. Com a estabilização, há uma redução da volatilidade e, por tabela, dos resultados dos agentes mais profissionais. Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/editoria/luisnassif/a-celebracao-do-capital-financeiro-inocuo-por-luis-nassif/
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