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Batman e Robin no julgamento do Mensalão por Dante Lucchesi
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Dando o que Falar
Seg, 08 de Outubro de 2012 10:41

Dante_LucchesiDois ministros do STF têm-se destacado por sua virulência contra os réus do chamado Processo do Mensalão: o relator Joaquim Barbosa e seu colega Marco Aurélio de Melo. O primeiro tem sido endeusado pelos meios de comunicação de massa, por sua brilhante trajetória de vida e por sua coragem em enfrentar a “quadrilha do PT”.

 

Essa promoção da grande imprensa contagiou uma juventude e um povo carentes de heróis, e circulou numa rede social da Internet a foto em que o ministro Joaquim Barbosa, de costas com sua capa preta, lembrava o Batman. Na legenda, ele suplantava o homem-morcego como atual herói da meninada. O ministro Marco Aurélio de Melo também se tem esforçado bastante para merecer os afagos da mídia conservadora, arvorando-se em condenar “um projeto ideológico-partidário de inspiração patrimonialista”, um “assalto criminoso à administração pública” realizado por “uma quadrilha de ladrões de beira de estrada”. Pode-se dizer que, se o Joaquim Barbosa é o Batman, Marco Aurélio de Melo assenta bem no papel de Robin.

Assim, Batman e Robin desempenham com grande afinco seu papel no grande espetáculo em que a imprensa conservadora transformou o julgamento de importantes figuras do recente governo do presidente Lula. Nos grandes meios de comunicação de massa, as acusações e todo o tipo de ilação sobre as possíveis ações criminosas do “bando” são esmiuçadas e veiculadas à exaustão, com um desassombro e uma sem-cerimônia que surpreende em uma imprensa que, até o governo do Príncipe dos Sociólogos, sempre teve muita reverência e respeito pelas grandes figuras da República; sabendo, inclusive, ser muito discreta com seus deslizes, como no caso da amante do presidente FHC, que a Rede Globo sustentou no exterior por anos a fio.

Talvez possamos compreender essa mudança na atitude da imprensa no Brasil, atentando para as palavras do ministro Marco Aurélio de Mello. O Robin se empenha em combater os “ladrões de beira de estrada”, mas sua atitude é diametralmente oposta quando se trata de combater os criminosos de colarinho branco, como o banqueiro Salvatore Cacciolla, a quem o ministro Marco Aurélio de Melo concedeu um providencial habeas corpus, que permitiu a esse criminoso, responsável por um prejuízo estimado em 1,5 bilhão de reais aos cofres públicos, fugir do país e viver tranquilamente em uma elegante propriedade na Itália. O Robin também nutre simpatias pelos latifundiários que contratam pistoleiros para assassinar lideranças da causa popular, pois concedeu recentemente um outro habeas corpus ao mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang. Para conceder o benefício ao Fazendeiro Reginaldo Galvão, conhecido como “o Taradão”, Marco Aurélio de Mello invocou o “princípio da não culpabilidade” do réu. A benevolência e a fúria desse ministro do STF têm um caráter de classe muito nítido: as benesses das frestas da lei para latifundiários e banqueiros e a condenção in limine para os diregentes do partido que ousou levar um operário, retirante nordestino, à Presidência da República.

Atendendo à pressão da mídia empresarial conservadora, os ministros do STF acompanham o voto do relator, ministro Joaquim Barbosa (o Batman), e condenam dois grandes dirigentes do PT José Genuíno e José Dirceu, com base em suposições e ilações que assentam apenas nas acusações de um co-réu, Roberto Jefferson, que não foram sequer confirmadas por ele em juízo. O revisor do processo Ministro Ricardo Lewandowski destacou isso e absolveu os dois réus, por absoluta falta de provas. Coerente com sua posição de magistrado, fez a seguinte ponderação: eles podem ter participado do ilícito, ou até mesmo terem sido protagonistas do esquema de corrupção, mas o Ministério Público não foi capaz de reunir provas suficientes para sustentar sua condenação. Nesse momento, foi interpelado ironicamente pelo Robin, que ignoraou solenemente o “princípio da não culpabilidade” do réu, aplicado por ele de forma tão diligente para beneficiar “o Taradão”. Já o Batman sequer reconheceu um pagamento feito em juízo pelo PT, alegando que não levava mais em conta o que quer que viesse do Banco Rural, onde teria sido montado o esquema do Mensalão. Diante disso, o ministro Lewandowski sentenciou: então é o caso de por em questão todo o sistema judiciário brasileiro.

Talvez sem querer, o revisor do processo foi ao xis da questão. O judiciário no Brasil, bem representado por seu órgão máximo, o STF, pende sempre para o interesse dos grandes grupos econômicos. Todas as filigranas da lei devem ser utilizadas para beneficiar os poderosos. Por outro lado, até quando a lei não for suficiente para condenar aqueles que se ligam às classe populares, passa-se por cima da lei e profere-se a condenação, mesmo sem o abrigo das provas. Assim age o STF, indo ao encontro do linchamento público que a mídia conservadora produziu contra os réus do chamado Mensalão.

Quem acredita que a Dupla Dinâmica está promovendo a justiça no país, crê ingenuamente que uma nova era se anuncia, na qual a corrupção não será mais tolerada na Terra de Macunaíma. Quem não acredita em super-heróis sabe que uma revista como a Veja, que publica elogios em troca de compras governamentais sem licitação à Editora Abril e cujo “jornalismo investigativo” é alimentado pelo crime organizado, não está interessada em combater a corrupção no país. O que se pretende, com o circo armado em torno do julgamento do Mensalão, é dar um golpe certeiro em um projeto político de distribuição de renda, de valorização do salário, de fortalecimento do mercado interno e da indústria nacional e de uma diplomacia independente do imperialismo norte-americano; projeto político que foi implementado com a eleição de Lula à Presidência, e tem continuidade com sua sucessora, Dilma Rousseff. E os ministros Joaquim Barbosa e Marco Aurélio de Melo, nossos Batman e Robin, nada mais são do que marionetes deste espetáculo encenado em favor das elites econômicas do  país, não obstante a ênfase e a diligênica com que desempenham seus papéis. Os dois, inclusive, clamaram por sessões extras, para que o julgamento das principais figuras do PT ocorresse às vésperas das eleições municipais.

Já a corrupção continuará sendo um elemento entranhado no Estado Brasileiro, pois a Dupla Dinâmica tem uma ação seletiva e circunscrita aos cenários armados pela mídia conservadora – apropriadamente denominada Partido da Imprensa Golpista (PIG). A corrupção ocorrida durante as privatizações nunca será julgada, pois as provas reunidas no livro A Privataria Tucana sucumbiram ao silêncio que lhe foi imposto pelo monopólio das comunicações exercido pelo PIG. O chamado Mesalão Tucano, que é anterior ao Mensalão do PT, continua engavetado no STF, sem que Batman e Robin se mobilizem para julgá-lo. E a compra de votos no Congresso durante os governos do PSDB permanecerá impune, mesmo tendo sido publicada, na capa do Jornal Folha de São Paulo, a declaração de um deputado de que recebeu duzentos mil para votar em favor da reeleição de FHC.

Mas resta sempre aos fãs da Dupla Dinâmica recorrer ao discurso hipócrita e fácil de que qualquer questionamento como este que aqui se faz não passa de um expediente para impedir que a justiça seja feita e os corruptos do PT sejam punidos. A hipocrisia e o rancor são típicos das elites brasileiras, bem como de sua base social, a velha classe média. Mesmo sem ter seus interesses essenciais afetados pelo governo do PT, alimentam um ódio visceral aos que levaram um operário à presidência da República e não toleram ter de conviver com tantos pobres nos aeroportos. Por isso, já se preocupam em impedir que os réus do Mensalão, postos na cadeia, não tenham sequer o benefício do indulto natalino. Por outro lado, latifundiários e banqueiros poderão continuar a dormir tranquilos, enquanto a justiça no Brasil estiver na mão de super-heróis.

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Última atualização em Seg, 08 de Outubro de 2012 10:41
 

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