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O PT baiano, a eleição do DEM e a culpa de quem? Por Gil Vicente Tavares
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Dando o que Falar
Seg, 29 de Outubro de 2012 22:46

Gil_Vicente_TavaresO PT sagrou-se o grande vencedor dessas eleições municipais. Não sou eu quem diz, mas os principais cientistas políticos e articulistas dos mais importantes sites do país. No entanto, perdeu a eleição em Salvador, terceiro maior colégio eleitoral do Brasil.

Estranho? Não. Primeiro porque o PT nunca ganhou uma eleição na cidade. No período democrático, tivemos dois prefeitos do PMDB, Mário Kertész e Fernando José, depois Lídice da Mata pelo PSDB – que até pouco tempo estava mais para o PT que para o DEM –, e então Antônio Imbassahy, pelo PFL (atual DEM), dando porrada duas vezes em Nelson Pelegrino. Chegamos então a João Henrique, que, na carona da escolha errada de ACM para candidato de seu partido, colocou César Borges para perder do PDT de João. João Henrique, que caiu nas graças do soteropolitano por ter conseguido impedir o horário de verão e o pagamento de estacionamento em shopping (nosso herói), acabou sendo a tábua de salvação da esquerda, que o apoiou no segundo turno. Como JH não sabia o que fazer nem com a cidade nem com os aliados e partidos, acabou mudando para o PMDB, a esquerda se afastou e ele foi reeleito, já pelo partido de Geddel, batendo em Walter Pinheiro, novamente confirmando um nocaute petista: agora escorado, também, pelo DEM de ACM Neto. Por sinal, o DEM de ACM Neto, além das duas prefeituras com Imbassahy, teve importante participação na segunda gestão de JH, ao contrário do PT que ficou escorregando em cargos do primeiro mandato de João, sem significar muito e, viu-se logo, rachando e apanhando em 2008.

Por que será, então, que Salvador, onde Lula sempre teve expressivas votações, onde mesmo perdendo pra Paulo Souto a eleição para o governo em 2002, Jaques Wagner teve vitória expressiva na capital, onde o próprio teve grande votação quando foi eleito e reeleito para governador da Bahia, cidade onde Dilma ganhou de lavada, por que será que o PT nunca conquistou a tão sonhada prefeitura da capital?

O PT não tem quadro nem bons candidatos. Pelegrino comprovou seu talento de perdedor por sua inexpressividade, pela sua participação nos debates do segundo turno, onde ele não conseguia responder nada e foi dominado pelo seu opositor, e sua falta de personalidade, sempre se colocando como gandula do time de Lula, Dilma e Wagner: mostrou-se pateta e passou insegurança, estimulando o escárnio associado à sua falta de articulação no raciocínio e na voz. Pinheiro, assim como no caso do fenômeno Wagner, foi na correnteza de mudanças socioeconômicas e políticas assistencialistas do governo federal para ser eleito senador; com Lula como grande cabo eleitoral. Mas senador e governador são cargos amplos, relacionados a todo um estado com dimensão igual à da França. Prefeitura é outra coisa. É, ainda, uma personalização, alguém que sirva um pouco de herói, de sinhozinho, de coronel e de salvador. E não há ninguém do PT com perfil interessante para ser candidato. Ponto. Não há. Triste do povo que precisa de heróis, dizia Brecht, mas o povo de Salvador é essa tristeza, mesmo, ainda.

É então que entra o grande problema do partido. Não tem quadro, não tem bons nomes, não tem pessoas significativas para causar impacto numa eleição, mas insistem em querer tomar o poder. Há uma mentalidade sindicalista, tacanha, ignorante de um todo que é a sociedade. A inabilidade de Wagner chegou ao ponto do fenômeno da ressurreição, visto que ele chamou artistas que reivindicavam uma melhor política cultural de viúvas do carlismo. Pois ele mesmo ressuscitou o defunto. Sua postura blasé combinando com a PeTulância. O PT parece não admitir que um nome venha de fora de sua sigla, julgam-se capazes e tenazes, e acabam por passar de ases a asnos. Todos sabem que há facções díspares lá dentro, e isso reforça aquela ideia que existia no Brasil de que a esquerda não se une. Enquanto foi assim, a direita reinou. Bastou a esquerda perceber que uma casa dividida não fica em pé e não só se coligou como acabou por se aliar aos que só sairão do poder quando morrer, visto que há nomes que continuam mandando desde a ditadura. E de lá não sairão, esqueçam isso.

Contudo, as oligarquias perderam força. Um bom exemplo, aqui no nordeste, é o da família Sarney. Aos poucos, seu império, sua ideia de hegemonia, de feudo vai se enfraquecendo. Foi preciso José Sarney se candidatar pelo Amapá para voltar ao senado. Mas está lá, como presidente da casa, apesar de tudo. Em Salvador, o PT, com sua cabeça dura,  insistiu mais uma vez em Pelegrino e no que é que deu? Deu a cidade de Salvador a ACM Neto, tão representativo no nome que seria uma boa comparação pensar num neto de Sarney sendo prefeito de São Luís. Mas lá quem ganhou foi Edivaldo Holanda Jr., nada de neto de ninguém, apoiado pelo PSB de Eduardo Campos, e membro do conselho político de Dilma Rousseff.

Falando em Eduardo Campos, chega dá um embrulho no estômago. Jaques Wagner vem sangrando o PT em diversas áreas. Teve e está tendo imenso apoio federal e poderia estar alavancando a Bahia a um dos melhores estados do país. Poderia estar valorizando nossa cultura, nosso turismo, trazendo empreendimentos, grandes obras, grandes indústrias e aproveitando o maior litoral estatal do país, mas, não, vem apanhando feio de Eduardo Campos, que, em Recife, elegeu seu candidato no primeiro turno e se mostra como a grande força política do nordeste.

O PSB é um partido que vem crescendo, foi quem mais elegeu prefeitos em capitais e torna-se uma alternativa viável – mesmo sendo ainda um partido carente de definições ideológicas e de quadro na maioria das regiões – e alegra-me ter visto em diversos lugares disputas entre PT e PSB, PT e PDT, PCdoB e PSB, enfim, os partidos de esquerda cresceram, estão ganhando força e uma nova forma de política pode estar sendo feita no Brasil. Lula tem crédito nisso, sim, assim como Dilma, e o PT cresceu, a despeito do mensalão. O grande projeto Lula desse ano, a invenção de Haddad para ganhar a capital paulista, deu certo. Tem-se que dar o braço a torcer ao partido, mas suas práticas coadunadas com o que se vinha fazendo e eles condenavam, uma espécie de sanha stalinista para combater o aparente fascismo da direita que vinha mandando, tudo isso ainda precisa ser revisto num partido de radicalismo chato, que julga-se o salvador e a solução para o país.

Na Bahia, é pior. Porque falta quadro, falta competência, falta união, visão. O PT, em diversas cidades, arriscou alianças federais, com sua arrogância, lançando candidatos para disputar com partidos coligados, mas foi um erro razoavelmente bem calculado que não doerá tanto quanto perder o terceiro maior colégio eleitoral para o DEM, para a família Magalhães que a esquerda sempre lutou para tirar do poder. Noutros lugares importantes, o PT perdeu para “aliados”, para a “esquerda”.

Jaques Wagner, com sua “wagareza”, com sua falta de tato e esperteza para conduzir duas greves arrebatadoras, com sua ignorância cultural, com seu quadro de secretários frágil e medíocre – desculpem-me todos, mas em qual área a Bahia mudou significativamente nesses seis anos pra melhor? –, com tudo isso, foi um cabo eleitoral significativo para o DEM. Seu governo é sempre pautado nas ações federais na Bahia, mais que de sua gestão, diretamente. A inabilidade, fraqueza, debilidade de Pelegrino também ajudaram significativamente e foram decisivas no segundo turno: não passou firmeza nem personalidade ao eleitorado e patinou frente à postura firme, quase autoritária de ACM Neto.

Insisto em ser esquerda e fico sempre torcendo por um pós-PT em Salvador sem nem mesmo passar por ele. Havia candidatos possíveis que poderiam, sim, numa coligação forte, ter significância. A própria Alice Portugal, pré-candidata, abriu mão de sua candidatura para fazer uma frente ampla de esquerda em prol do PT e de Pelegrino. Todos naufragaram. Lastimável.

Salvador, então, volta às mãos do DEM e de ACM: agora, o neto. Duas siglas que representam muito na cidade. Representam uma família que detém o poder da maior rede de comunicações da Bahia, quiçá do nordeste, a Rede Bahia, uma família que está à frente de empreendimentos empresariais e carnavalescos e tem a marca de seu nome em diversos lugares como se fossem donatários de uma capitania. O PT deixou Salvador nas mãos de um partido, o DEM, ex-PFL e Arena, principal partido da ditadura, partido que tem um histórico de ser contra políticas sociais, a favor de interesses particulares, de grandes empresários, um partido que beneficia uma determinada elite e castas, e não se abre ao diálogo, não admite críticas, é vingativo, enfim, um partido de passado bastante nefasto em diversos aspectos (e, em muitos aspectos, parece que o governo petista aqui se inspirou nisso tudo em determinados momentos).

Contudo, estamos em pleno século XXI. Outros valores, outra transparência, outras conquistas, novas vozes, direitos mais claros e democráticos. Salvador ressente-se de um projeto de gestão que bote a cidade nos trilhos. Calçadas e asfaltos recuperados, saúde, escola, cultura, requalificação urbana, recuperação de praças, solução da mobilidade urbana, tudo que todos já sabem e falam. ACM Neto e seu partido não devem ser estúpidos ao ponto de repetirem erros, truculências, formas antigas, retrógradas, reacionárias e ditatoriais de se fazer política, mesmo sendo do conhecimento de todos que boa parte dos mesmos voltarão, basta ver quem estava por trás da campanha. Bom ou ruim? Não julgo, apenas constato e digo que o DEM pode, inclusive, se apresentar renovado, pois o Brasil pendeu pra um lado do qual eles não fazem parte; visto o enfraquecimento do partido, a cisão que gerou o PSD, etc. O ex-PFL não tem mais apoio federal, não tem mais onde se sustentar. Há um flerte rápido com o PSDB, que, assim como o PV, abandonou de vez uma cara de mais à esquerda em coligações que colocaram em destaque figuras importantes da ditadura. Mas isso não sustenta um partido que se esvaziou e enfraqueceu. Entrementes, o PSDB saiu mais fraco dessas eleições e a porrada em São Paulo será sentida em Minas Gerais, acreditem. Lá, quem ganhou foi um candidato que, mesmo apoiado por Aécio Neves, é do partido de Eduardo Campos, Lídice da Mata, Ciro Gomes, que, até segunda ordem, estão com Dilma. Ou o DEM sai renovado dessa gestão, ou já era. Salvador virou a tábua de salvação de um partido de histórico coronelista, reacionário, diretamente vinculado à ditadura. Salvador deu continuidade a uma forma de gestão que vem da ditadura, voltou com Imbassahy, teve um breve descanso em parte da primeira gestão de João Henrique e retomou seu prumo com o segundo mandato de JH.

Tenho aversão a todo um passado desse partido e ao que ele representa, mas não serei terrorista, como muitos petistas e simpatizantes, em prever e incitar a volta do carlismo, do autoritarismo, do coronelismo, do interesse dos grandes empresários e “donos” de Salvador, por conta de eleição de ACM Neto. Torço, acima de tudo, pela cidade, e acho que se eles foram inteligentes, farão uma gestão mais pautada em demandas do século XXI, demandas das esquerdas que tomaram o poder, das conquistas sociais, econômicas e democráticas que alçaram o país ao destaque inegável que temos no mundo atual. Não vou ser pessimista e coloco-me, como em qualquer governo, à disposição para o diálogo. Enquanto ficarmos partidarizados, os partidos serão maiores que as cidades. Fernando Henrique Cardoso criticou o PSDB, numa entrevista à Bandnews que ouvi hoje, dizendo que faltou o partido se renovar, pois o Brasil mudou, o eleitor mudou, estamos noutro momento. O DEM não pode ser tolo em achar que recuperaram seu feudo. A conversa agora é competência, gestão, administração, eficiência. Quem vacila, cai, e eles não estão bem estadualmente e nacionalmente para errar. Até porque se errarem, enterram o partido e as lideranças ligadas a ele de vez.

Acho difícil eles terem uma sobrevida, como pensar em eleger o próximo governador. Talvez, uma reeleição de ACM Neto, caso ele não deseje voos maiores – e bem mais difíceis e duros. O DEM será um partido nanico que ficará conquistando cargos aqui e acolá como oposição a administrações ruins, mas tudo muito pontual. A decadência parece ser inevitável. ACM Neto pode até manter certo poder pela Bahia, estado atrasado de população atrasada e que o PT ajudou a não se desenvolver. Mas, vejam como as coisas se invertem nessa vida, ACM Neto e o DEM vão depender da quantidade de burradas que Wagner e o PT farão nos próximos dois anos, como esse não desenvolvimento significativo do estado, para conseguir, ainda, ganhar algo por aqui. O antigo partido da frente liberal não tem mais significância no cenário brasileiro, e a criação do PSD de Kassab piorou ainda mais essa situação; temos agora uma neodireita.

A despeito do “custo Lula” em relação à Petrobrás, apesar da maneira como ele deixou correr dinheiro solto da empresa petrolífera pela Bahia – de forma até mesmo eleitoreira –, José Sergio Gabrielli seria um bom nome para o PT nas próximas eleições. Mas já corre a boca pequena que a disputazinha petistazinha, interna e externamente, por poder, já faz Wagner pensar em lançar Rui Costa como seu sucessor. Há quem fale em Pinheiro. O PT está rachando, ruindo, abrindo espaço para que sua fraqueza seja a porta de entrada para outras lideranças. Enquanto eu torço por um pós-PT numa cidade enfraquecida de lideranças e políticos visionários, inteligentes, articulados e capazes, os antigos “donos” da Bahia podem retornar de vez como salvadores da imcomPTência do Partido dos Trabalhadores no estado.

Eu, frente a toda história do PT e do DEM na Bahia, preocupados que estão com eles mesmos, torço apenas pelo melhor para nós. Parodiando Heráclito, eu digo: o caminho para a esquerda e para a direita deve (ou deveria) ser um e o mesmo, o caminho do bem comum.

Artigo publicado originalmente em  http://teatronu.com/cultura-e-cidade/o-pt-baiano-a-eleicao-do-dem-e-a-culpa-de-quem

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