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Bolsonaro é o último suspiro da oligarquia financeira! Por Marconi De Souza Reis
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Dom, 28 de Outubro de 2018 08:47

Marconi_de_Souza2Eu vislumbro a história do nosso país por uma janela bem diferente daquela que nos foi ensinada nos livros, isto é, interpreto os acontecimentos de uma forma tão peculiar, “sui generis”, que acabo até por subverter a classificação tradicional dos historiadores.

Não vou expor a metodologia na íntegra, mas, para tentar demonstrar que a oligarquia financeira aposta seu último suspiro na eleição de Jair Bolsonaro, serei obrigado a abrir hoje essa janela, para que você vislumbre um pouco sobre o que ocorre dentro e fora do salão de festas.

Nessa medida, lembremos inicialmente que os livros dos historiadores adotam uma metodologia fundamentada nas mudanças dos regimes políticos, e dividem (classificam) a nossa história em três períodos, assim:

• Colônia (1500-1822)
• Império (1822-1889)
• República (1889 até os nossos dias)

Da minha janela, eu não vislumbro os regimes políticos como prioritários para determinar essa classificação. Como dito acima, não vou explicar as razões do meu método, mas informo que vislumbro a nossa história priorizando os modelos econômicos, assim:

• Oligarquia Escravagista (1500-1850)
• Oligarquia Latifundiária (1850-1945)
• Oligarquia Financeira (1945 até os nossos dias)

A colonização só teve início em 1532, assim como os primeiros escravos começaram a chegar a partir de 1539, daí que o ano de 1500, nas duas classificações expostas acima, é apenas uma representação simbólica – a data da chegada dos portugueses em Santa Cruz Cabrália, na Bahia.

Caro leitor, querida leitora, vocês que têm paciência para ler meus enormes textos, já perceberam a mudança radical na minha classificação. Todavia, acredito que, tal criança próxima a uma janela, devem estar curiosos para saber o porquê de essas datas representarem as mudanças da nossa história. Acompanhe-me, porque não se arrependerá...

Pois bem: inicialmente é importante ressaltar que os historiadores cometem um equívoco crasso quando rotulam os sistemas econômicos como “ciclos” dentro do período colonial – “ciclo do açúcar” e “ciclo da mineração” –, sugerindo que um período acabou quando o outro teve início. Isso é uma enorme inverdade.

O que eles chamam de “ciclo do açúcar” (casa-grande, senzala, capela, casa-da-moenda) teve início na década de 1530, mas, passando por outras mudanças de exploração oligárquica, prossegue até os nossos dias, inclusive com o álcool sendo um dos mais importantes produtos atuais do nosso agronegócio.

O “ciclo da mineração”, que teve início em 1700 e foi explorado inicialmente com a “mão escrava”, entrou em declínio com a escassez do ouro e diamante, mas também passou por outras formas oligárquicas de exploração, vide as atuais mineradoras exportando bauxita, ferro, manganês, cassiterita, urânio, cobre, chumbo e prata, dentre outros.

Portanto, o primeiro rompimento histórico que eu vislumbro, da minha modesta janela, não tem nada a ver com o período imperial advindo da nossa patética “independência” em 1822, mas exatamente no que ocorreria três décadas depois, com a passagem do modelo oligárquico escravagista para o latifundiário.

Há quatro fatos ocorridos em meado do século XIX determinantes para a nossa primeira mudança histórica, quais sejam, a Lei Eusébio de Queirós (1850), a Lei de Terras (1850) e a chegada dos italianos no “Oeste Paulista” (a partir de 1850), assim como a construção das ferrovias (1852 em diante).

A Lei Eusébio de Queirós, como se sabe, proibiu o tráfico negreiro para o Brasil. Essa lei foi aprovada por pressão dos ingleses, que, cinco anos antes, haviam aprovado a Lei Aberdeen (1845), que aprisionava os navios negreiros nos oceanos Atlântico e Pacífico. Os ingleses queriam dinamizar sua indústria, e a escravatura atrapalhava seu projeto.

Em represália à Lei Eusébio de Queirós e a chegada em massa dos italianos ao Brasil, a moribunda oligarquia escravagista fez o imperador aprovar, no mesmo ano, a Lei de Terras. Essa lei acabou com o sistema de distribuição de terras públicas, estabelecendo a propriedade privada do solo.

Só teria terras, a partir de então, quem pudesse comprá-las, quebrando assim o sistema hereditário das sesmarias da época colonial. A oligarquia escravagista aplicava o seu primeiro golpe de exclusão contra os estrangeiros e negros, até porque o abolicionismo se avizinhava a galope.

Imperioso destacar que o café começou a ser plantado no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XIX (Vale do Paraíba), mas ainda com a “mão escrava”, daí que o grande latifúndio cafeeiro privado só ganharia impulso a partir de 1850, com a chegada dos italianos no “Oeste Paulista”.

Nessa região estruturou-se uma produção mais moderna, com a transição do trabalho escravo para o assalariado italiano, e a construção de ferrovias, que facilitou e barateou o transporte do café para o porto de Santos, escasseando a exportação pelo porto do Rio. Anteriormente, o café era levado em mulas do Vale Paraíba ao cais do Rio.

A oligarquia latifundiária do café passou a mandar no nosso país a partir de então, ditando os rumos políticos da nação, a ponto de fundar o Partido Republicano Paulista, em 1873, na Convenção de Itu, que foi o primeiro movimento republicano moderno no Brasil.

Importante destacar que, embora assalariados, os italianos enfrentaram inicialmente um trabalho análogo ao da escravidão, porque o sistema consistia em o fazendeiro pagar a viagem da Europa para o Brasil, como adiantamento salarial, que seria quitado com 6% de juros, além do consumo nos armazéns da fazenda.

Até a liquidação dessas dívidas, o imigrante não podia sair da fazenda – sistema de colonato –, vivendo numa penúria de dar dó. Somente anos depois, após pressão dos europeus junto ao imperador, é que o governo passou a pagar as passagens, mas, ainda assim, os salários eram demais aviltantes.

E foi com todo esse poder que a oligarquia latifundiária passou a conduzir os rumos do país, não apenas determinando o fim da monarquia, mas elegendo todos os presidentes da República até 1930, em aliança com os fazendeiros mineiros (política do “café com leite”).

Os latifundiários seriam ainda a principal influência na Era Vargas (1930/1945), como mostrarei mais adiante, o que reforça a minha tese de que o segundo rompimento histórico dar-se-á exatamente ao final da Segunda Guerra Mundial, quando o imperialismo norte-americano faz-se determinante na nossa cultura.

Acontece que, antes disso, o café sofreu crises homéricas ao longo da primeira metade do século XX, não só pela superprodução desenfreada, mas também porque a concorrência aumentou significativamente com a Colômbia, Nicarágua e África, que despejavam cada vez mais o produto na Europa (e de melhor qualidade).

Ademais, o nosso país já vinha de uma crise financeira sem precedentes desde o início da República, com a política do Encilhamento (Rui Barbosa), que, ressalte-se, viria a ser o embrião da oligarquia financeira da segunda metade do século XX, visto que voltada tão somente para o mercado de ações.

Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo provisório de Deodoro da Fonseca (1889/1891), decretou uma reforma financeira, que consistia basicamente no que fora feito nos Estados Unidos durante o governo do presidente Abraão Lincoln (batizada de “Nation Banks”).

Por esse sistema, substituía-se o ouro pelos títulos de dívida federal como lastro para as emissões bancárias. Rui Barbosa assentou a garantia do meio-circulante sobre títulos da dívida pública, ampliando a emissão de dinheiro por bancos autorizados, visando a industrialização do país.

Acontece que uma sociedade baseada em três séculos de escravidão, e agora sustentada por um latifúndio de salários aviltantes, não iria, como num passe de mágica, transformar o trabalho como algo dignificante no seio da sua elite preguiçosa – netos de senhores de engenho, do minério, e agora autênticos latifundiários.

Resultado: ao invés de usar o dinheiro das emissões para a indústria, a elite latifundiária passou a especular na Bolsa de Valores, negociando ações de indústrias inexistentes. A Bolsa de Valores faliu, as poucas indústrias fecharam as portas, e o povo ficou endividado. Isso era apenas o prenúncio do que viria anos mais tarde.

Como já dito, a situação se agravou ainda mais com a crise do café na primeira metade do século XX, daí que, para salvar os latifundiários, o governo desvalorizou a moeda através do “funding-loan” (os fazendeiros não sentiram o impacto nas exportações), o que implicou numa tremenda inflação e prejuízos enormes para os assalariados.

Por sua vez, para manter-se no poder, a oligarquia latifundiária uniu-se aos “coronéis” – uma invenção da monarquia – em todo país, que controlavam os eleitores (os chamados “currais eleitorais”). Ou seja, os eleitores só votavam nos candidatos indicados pelos coronéis (o compadrio), daí a expressão “voto de cabresto”.

Um detalhe: a mulher nem tinha direito a voto. Impossível imaginar como figuras expressivas das artes, a exemplo de Chiquinha Gonzaga, Anita Mafaltti e Tarsila do Amaral, conseguiram ser geniais num mundo tão sombrio e adverso. Na verdade, apenas 5% da população elegia o presidente, tamanho os empecilhos.

No entanto, as revoltas começaram a pipocar aqui e acolá, principalmente com os tenentes positivistas (foram várias rebeliões no Rio, Pernambuco e São Paulo), daí que, no penúltimo governo da política “café com leite”, o presidente Arthur Bernardes (1922-1926) governou sob “Estado de Sítio” por quatro anos.

A própria campanha eleitoral de Arthur Bernardes já revelou-se cheia de tumultos – muita pressão do operariado paulista –, inclusive com a divulgação de cartas falsas no jornal Correio da Manhã (primeiras “fake news” da nossa história), a ponto de o seu governo não ter paz. Foram quatro anos de tumulto.

A pressão foi tamanha sobre a oligarquia latifundiária, que, em 1926, os fazendeiros aceitaram um carioca (Washington Luis) para o último governo da velha república. Os tumultos prosseguiram e então veio o primeiro golpe de Getúlio Vargas, em 1930, com forte influência dos latifundiários.

Somente para se ter uma ideia, o caudilho Getúlio Vargas – grande latifundiário gaúcho –, comprou 70 milhões de sacas de café, entre 1931 e 1937, para salvar os fazendeiros paulistas e mineiros, e incinerou toda essa produção, com o objetivo de valorizar o seu preço no mercado internacional.

No entanto, ao longo da sua ditadura, Getúlio promoveu muitas conquistas para os trabalhadores – Consolidação das Leis Trabalhistas –, e, ajudado pela Segunda Guerra Mundial (as exportações cresceram nesse período), ele entregou o governo em 1945 com quase um bilhão de dólares de reservas.

E é exatamente aqui, da minha janela, que eu avisto o nascimento da terceira oligarquia, que, oriunda daqueles latifundiários de outrora – por meio de um sistema industrial calcado nos mesmos moldes de exploração do café, do açúcar e da mineração –, passou a privilegiar a especulação financeira, em detrimento da produtividade.

Importante destacar que, para termos o processo dessa mudança, aconteceu em New Hampshire (EUA) a Conferência de Bretton Woods, em 1944, promovida pelos Estados Unidos e Inglaterra, com o objetivo de financiar países europeus e de outros continentes, como forma de evitar a quebra de bolsas de valores e o avanço do socialismo.

Os idealizadores do Bretton Woods criaram o Bird (Banco Mundial) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), que passaram a emprestar dinheiro a partir de 1946. Mas o precursor do Bird e do FMI foi o Fundo Internacional de Estabilização, apresentada na terceira conferência dos ministros das relações exteriores das repúblicas americanas, realizada no Rio de Janeiro, em 1942.

Como se vê, o Brasil estava atrelado ao sistema imperialista norte-americano desde o útero, e, como se sabe, o endividamento do nosso país, desde então, tornou-se um caminho sem volta. Na verdade, o grande problema nosso residia na mentalidade do grande latifundiário, porque outras nações, como veremos adiante, irão se desenvolver com tais investimentos.

Lembremos que, após a saída de Getúlio Vargas do poder, três partidos disputaram as eleições: a UDN, o PSD e o PTB, sendo que os dois primeiros eram praticamente controlados por aqueles latifundiários (alguns já industriais e banqueiros). A UDN era majoritariamente conservadora, no padrão escravocrata e latifundiário de ser.

Quem venceu as eleições foi a coligação partidária PSD e PTB, mas a UDN passou a dar as cartas em dois ministérios – Relações Exteriores e Educação. Em apenas um ano, o novo presidente, o general Eurico Gaspar Dutra, torrou aquele bilhão de dólares deixado por Getúlio Vargas.

Influenciado pelos udenistas e latifundiários do PSD, o governo Dutra adotou uma política exageradamente liberal, abrindo indiscriminadamente o país às importações, principalmente para artigos de luxo. O resultado disso foi a redução, em doze meses, para 29 milhões de dólares nas reservas brasileiras.

E desde então o país passou a se endividar com o Bird e o FMI, em todos os governos posteriores, porque a nossa indústria, como dito acima, sempre calcada na mentalidade latifundiária e escravagista de outrora, revelou-se improdutiva para o mercado externo. Juscelino Kubitschek chegou a romper com o FMI, mas voltou atrás (não ousou peitar a UDN).

A oligarquia financeira da UDN, sempre no comando, e agora apoiada francamente pelos Estados Unidos contra a expansão socialista, protagonizou o golpe militar de 1964, ocupando vários postos no governo das Forças Armadas. E, durante o golpe, a UDN foi apoiada pelo fascismo e integralismo de Ademar de Barros e Carlos Lacerda.

O resultado é que, ao longo de 20 anos da ditadura militar, o endividamento só aumentou, com socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para lastrear as contas de uma elite financeira que, ao invés de ser produtiva na indústria de exportação, priorizava a especulação financeira.

Essa sangria prosseguiu após o regime ditatorial, com José Sarney, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, só sendo rompida parcialmente no governo de Luis Inácio Lula da Silva, que, além de pagar toda a dívida externa, passou a emprestar dinheiro ao FMI. E por que isso aconteceu no governo Lula?

Bem, não sou economista para analisar isso com a extensão que o caso exige, mas, até onde posso avistar da minha modesta janela, percebo que a valorização do salário mínimo foi a principal ruptura com o modelo de outrora. A diferença salarial mínima construída pelo PT, em 13 anos, é quatro vezes maior do que a dos governos anteriores.

É claro que as demais políticas sociais contribuíram nesse contexto – além de que a sorte nos ajudou, qual seja, a crise econômica enfrentada na década passada pelos norte-americanos –, mas a verdade é que o fortalecimento do salário mínimo é o grande divisor de águas do governo petista.

A classe assalariada movimentou a economia, e, mesmo com uma indústria pífia, improdutiva para exportação de produtos de alta tecnologia, foi capaz de romper com o velho sistema perverso e excludente. Não obstante, os banqueiros continuaram sendo beneficiados pela política petista, o que demonstra ainda vivermos a era da oligarquia financeira.

Nesse contexto, há um detalhe sociocultural importante, qual seja, a valorização salarial impossibilitou a classe média alta de ter duas ou três empregadas domésticas, bem como a classe média ficou totalmente desprovida de contar com esse trabalho semiescravo, o que explica o ódio insano nutrido contra o Partido dos Trabalhadores.

A corrupção petista não é o motivo principal para tanto ódio, porque o ilícito administrativo era muito maior nos governos anteriores, principalmente na ditadura dos militares, quando figuras como Antonio Carlos Magalhães e José Sarney, da velha oligarquia latifundiária, davam as cartas enquanto governadores biônicos corruptos, dentre tantos outros.

Imperioso relembrar que, durante a ditadura militar, os governadores e prefeitos das grandes cidades não eram eleitos pelo povo. Os militares é que escolhiam os biônicos – só político corrupto – para administrarem os estados e principais municípios do país. E foi roubando muito, que gente como ACM e Sarney, dentre outros, construíram seus impérios.

Aliás, a própria cúpula do PT sabe hoje que o seu grande equívoco foi manter a corrupção apenas no alto escalão, enquanto os governos das oligarquias anteriores socializavam a propina, principalmente na raia miúda, os meios de comunicação, isto é, os jornalistas. ACM foi um craque em calar jornalistas com propinas.

E agora, nesse exato momento, a oligarquia financeira pretende retomar ao poder para reinstalar o modelo econômico pré-Lula, e o candidato Jair Bolsonaro, a contragosto, é o seu último cartucho, seu último suspiro. Eu digo a contragosto porque essa oligarquia detesta fascistas.

Basta lembrar como os latifundiários influenciaram bastante Getúlio Vargas para deixar Plínio Salgado, o fundador do fascismo no Brasil, fora do governo. Aliás, essa mesma oligarquia expurgou o aliado Carlos Lacerda, após o golpe militar de 1964, a ponto de esse fascista tentar uma reconciliação com os políticos que ele tanto combatera.

A oligarquia financeira almeja governos pacíficos, isto é, cordeiros, ordeiros, sem turbulências, daí que Bolsonaro é adotado a contragosto. Quando ACM Neto diz que Bolsonaro é “um tiro no escuro”, ele expressa exatamente a concepção dessa oligarquia, que pretende maré baixa e rede de seda para deitar e beber água de coco.

Por sua vez, um governo de Fernando Haddad representaria o retorno do fortalecimento do assalariado, o que resulta em dificuldades para a indústria pífia, ou melhor, significaria a necessidade de mais e melhor produtividade para exportação, e isso só se obtém através de trabalho, muito trabalho – a ojeriza da oligarquia financeira especulativa.

A classe média e média alta, principalmente das regiões sul e sudeste do Brasil, com a mesma mentalidade preguiçosa, do pouco esforço, pretende retornar aos tempos de empregadas domésticas a mancheia, e, de preferência, revogando os direitos trabalhistas conquistados no governo Lula.

A elite brasileira representada por essa oligarquia financeira é tão vergonhosa, tão ridícula, que, duas décadas e meia após a injeção de recursos estrangeiros em nosso país, investimentos idênticos foram feitos na Ásia, e lá, em pouco tempo, nasceram os Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan).

A produtividade industrial de alta tecnologia nesses países, com empresários que trabalham incansavelmente, diuturnamente, foi tão avassaladora, que eles não apenas invadiram o mundo com suas inovações – Samsung, Hyundai, Daewoo, Lucky Gold Star, dentre outras –, como passaram a investir também na Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Vietnã.

O meu piano de cauda Yamaha, por exemplo, que hoje custa em torno de R$ 70 mil, foi importado da Indonésia. Aliás, todos os produtos de qualidade que nós temos em nossa residência foram fabricados nos países asiáticos, que, ressalte-se, se transformaram em plataformas de exportação.

Ao invés de abrirem as pernas para as multinacionais – que no nosso país só aportaram para produzir e vender a nós mesmos, ou seja, explorar os brasileiros –, os asiáticos fortaleceram primeiro suas plataformas, para só então formarem as “joint ventures”, onde a multinacional atua em associação com a indústria local.

Mas tudo isso só é possível com trabalho, muito trabalho, e investimento, como fizeram os empresários indianos, que enviaram milhares de estudantes para se aperfeiçoarem em ciências da computação nos Estados Unidos. Resultado: a Índia é hoje o maior produtor de softwares do mundo, com uma indústria tecnológica de altíssima qualificação.

Isso tudo revela como a nossa elite, nossa oligarquia financeira, é o cu (ou as pregas) do mundo industrial. Nossa economia de exportação, pasme, ainda está no padrão cafeeiro do século XIX, visto que o agronegócio (soja) e outras commodities (minérios) são responsáveis por 95% dos produtos negociados com o exterior.

O planeta mudou e somente esses jecas do sudeste e sul do nosso país parecem não perceber o óbvio. Ou melhor, eles percebem, sim, mas preferem prosseguir com o modelo preguiçoso herdado das capitanias hereditárias e do latifúndio, ganhando dinheiro fácil com aplicações financeiras, em detrimento da população.

A cultura da preguiça é tamanha, que, quando os jogos lotéricos acumulam sorteios, a mídia brasileira faz reportagens dizendo que o “sortudo” poderá colocar o dinheiro na poupança e viver de renda até o final da vida, quando as matérias jornalísticas deveriam destacar que, com aquela grana, o felizardo deveria investir, produzir, gerar trabalho.

A nossa sorte é que os Estados Unidos não são mais os nossos principais parceiros comerciais. A China é o principal importador brasileiro, mas, pelo que vejo no discurso do banqueiro Paulo Guedes – que Bolsonaro aponta como seu futuro ministro, caso vença as eleições –, ele pretende voltar a sentar no colo do Tio Sam.

Vai voltar a pedir dólares ao FMI? Olha, se Bolsonaro vencer as eleições, não duvide que isso ocorra, porque a Argentina regressou a esse velho sistema financeiro no ano de 2018, e já atocha a população com medidas que só beneficiam o empresariado dos pampas, daí os protestos diários em frente ao parlamento platino.

Se vencer a eleição e adotar o mesmo caminho, Bolsonaro vai decepcionar uma grande parte do seu eleitorado, e é exatamente aí que a oligarquia financeira fica apavorada, porque tudo que esse empresariado preguiçoso deseja é um governo pacífico, ordeiro, cordeiro, sem turbulência, “a la” Alckmin.

E como os institutos de pesquisa apontam uma avassaladora votação em Fernando Haddad, mesmo após toda a força-tarefa empreendida para destruir o Partido dos Trabalhadores, a oligarquia financeira tem ciência de que esse é o seu último cartucho, posto que, sem dúvida, a sociedade brasileira mudou para sempre – sem volta.

Pela primeira vez, a oligarquia financeira se apoia num candidato fascista e com ares de populista, outra característica que os homens de mercado repudiam desde 1950, quando do retorno de Getúlio Vargas e das eleições de Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.

Se elegerem Bolsonaro, vão raspar o prato, porque sabem que o prazo no poder é para tiro curto. O nosso futuro exige uma indústria forte para exportação, ou, se não temos capacidade para isso em curto prazo, que as benesses do investimento no parque industrial sejam benéficos à população, como fizeram os ingleses no século XVIII.

A carcomida oligarquia financeira está nos seus últimos suspiros, porque a sociedade brasileira mudou radicalmente, daí que, em duas décadas, como sempre tenho dito, nos desvencilharemos totalmente do engodo dialógico, das crenças cegas religiosas, da subserviência, enfim, do atraso.

Uma derrota da esquerda nessas eleições será tão somente “um passo atrás, para dar dois a frente”, como as pesquisas eleitorais revelaram até o dia de ontem. “Ainda que perca a eleição, a esquerda já mostrou que sai forte dessa eleição”, admitiu ontem Merval Pereira, que é, ressalte-se, o porta-voz da direita no jornalismo brasileiro.

Isto posto, o primeiro mandamento é saber reconhecer a voz das urnas. Se perder, nada de esperneio. É preciso reagir de forma resignada e altiva, para não se autodestruir, como o fez o PSDB pós-eleição 2014. O importante neste momento é não acirrar os ânimos na turbulência, porque tudo que 20% de fascistas desejam é destruir a democracia.

Espero que, abrindo essa janela, eu tenha mostrado ao eleitor assalariado que pense duas vezes em dar o seu voto a Jair Bolsonaro. Se assim o fizer, estará não apenas fechando a sua própria janela, como adiando a abertura das portas do salão de festas, onde lá dentro serve-se patê de fígado de ganso e vinho francês; lá fora, só farinha seca e água.

Eu, particularmente, não perco nada com um governo Bolsonaro. Ao contrário, por ser advogado, só ganharei com um governo bolsonarista, posto que, quanto mais miséria, crime e turbulência, melhor para a advocacia. Nossa profissão ganha dinheiro numa relação diretamente proporcional aos conflitos na sociedade.

Ademais, estou dentro do salão, com tudo de bom e do melhor, embora, felizmente, tenho uma visão não egoísta, bastante diferenciada, inclusive sobre a nossa história política-econômica, daí que, nessa malha textual, meu caro assalariado, abri a janela para lhe alertar sobre o seu voto.

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Marconi de Sousa Reis é Advogado e Jornalista

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