Ilê Aiyê, 45 anos desafiando o coro dos contentes. Por Franciel Cruz |
Sex, 02 de Novembro de 2018 19:04 |
No auge da ditadura, se é que ditadura tem auge, o Ilê Aiyê desafiou o coro dos contentes e botou o bloco da negrada na rua, enfrentando todas as infâmias que sempre estão à espreita. O plantão era rigoroso, sopa de tamanco. A imprensa baiana, que hoje, falsamente, tece loas ao bloco afro, fez oposição cerrada. E, óbvio, os outros tentáculos do (mal) dito poder constituído também entraram em campo com as tradicionais ameaças. No primeiro desfile, por exemplo, os integrantes do bloco estavam em menor quantidade do que os meganhas destacados para os intimidar. Não conseguiram. E o Ilê se fez potência. Potência que, ontem, completou 45 anos. E que me pegou distraído. Submerso nestas bobagens cotidianas, quase cometi o crime da displicência e do esquecimento. Meu querido Paulo Fernandes me salvou, largando o doce. E, uma vez mais, colei na corda. Foi meu primeiro show após a eleição do milico. Novamente estávamos na contramão. Em vez de subir, descemos a Ladeira do Curuzu. Mas, pra se elevar, é preciso saber descer sambando. E o samba não come reggae. "Se você tá afim de ofender/ E a noite, como sói ocorrer, era negra, negona. E o negrume da noite reluziu o dia. Reluzirá. Sempre. P.S Não devia, mas vou confessar. Quase, eu disse quase, chorei ouvindo Milagres do Povo, da Vedete de Santo Amaro. A canção já é bem bonita, mas com a bateria do Ilê ganha uma força descomunal. |
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |