Muita gente perdendo tempo e energia discutindo a montagem (sic) de uma frente ampla de esquerda e centro-esquerda para fazer oposição ao futuro governo de JB.

O que acho disso? Pura perda de tempo, de energia e de palavras.

Todos que se colocam no campo democrático, na linha de defesa da Constituição de 1988, que são pela ampliação das liberdades, contra o racismo e o preconceito, estejam em qualquer partido, sindicato e/ou associação - ou até mesmo numa simples sala de aula - estarão na oposição a um governo que ameaça essas e outras conquistas da democracia brasileira.

Precisamos estar juntos? Com um estatuto único? 
Claro que não.

Frentes amplas, em regimes democráticos - e ainda temos um no país, eleições, instituições funcionando mal, mas funcionando, partidos organizados e liberdade para criticar governantes -, são criações de momento, em resposta a circunstâncias muito particulares.

Por exemplo: nos segundos turnos dos processos eleitorais.

Tivemos a chance de montar uma frente ampla em defesa da democracia ameaçada e contra o retrocesso no segundo turno das eleições de 28/10. Por que não saiu?

Porque forças políticas expressivas, que se colocam no campo da democracia, preferiram não se posicionar, lavando as mãos quanto ao resultado final. Estranho? É. Mas também é natural.

Ciro Gomes e FHC, líderes de correntes de centro-esquerda, o primeiro, e de liberais democratas, o segundo, leram que uma vitória de JB não seria nenhuma catástrofe e preferiram "pagar para ver", em lugar de apoiar o candidato comprometido com valores democráticos que melhor se colocou para o segundo turno.

Montar agora uma frente contra JB? Se no momento adequado não se formou, por que agora se formaria? Bobagem.

O momento é para cada qual assumir sua parcela de responsabilidade e montar a sua própria estratégia de crescimento e defesa das suas posições. Muitas ações serão convergentes e alianças naturalmente se formarão.

Qual, em linhas gerais, a situação política no país hoje?

JB foi eleito por uma frente de partidos de centro-direita, direita e oportunistas (como o próprio "partideco" dele, o PSL, uma dessas legendas de aluguel das muitas que existem no país), em cima de um programa ultra-liberal, que é desconhecido dos próprios integrantes da aliança, e em torno de um governante com forte liderança pessoal, mas despreparado politicamente e sem qualidades pessoais (formação intelectual e humanística). O que fará? Muita confusão, pouca ação e brigas intermináveis internas e com o mundo do trabalho e da cultura. O governo de JB responderá com alguma eficiência aos imensos desafios nacionais? Acho muito difícil. Teremos tempos tumultuados no país, com toda certeza.

O PSDB sai praticamente destroçado das eleições, pelo pífio resultado no pleito nacional e pelas derrotas nas eleições para os legislativos. O grande vencedor tucano, o eleito em SP, João Doria, é um vivaldino, aventureiro e oportunista, não é, nem nunca foi, um organizador partidário. Surfou na onda antipetista de 2016 para cá e, espertíssimo, conquistou um espaço que, creio eu, terá dificuldades para administrar. Seu projeto na PMSP foi um fracasso e é provável que repita o resultado na governadoria do Estado. O que farão os tucanos? Escaparão da morte lenta? Acho que por mais que façam, o ostracismo do partido é o destino. Pouco têm de história, seja no campo social ou da democracia, para se remontar. Vinha sendo financiado, há décadas, por dinheiro da corrupção nas grandes obras contratadas pelos governos de SP e MG, quando os recursos minguaram, os votos também desapareceram.

Ciro Gomes é o Ciro de sempre. Talento, inteligência e fôlego curto. A vaidade e o destempo são maiores que as outras boas qualidades. Pula de partido como muda de opinião. Muita bravata, poucos resultados.

Agora mesmo, foi para a Europa no intervalo dos turnos eleitorais, buscou a ausência, e voltou vestindo o manto de algoz, no campo da centro-esquerda, do PT e de Lula. Para quê? O que acha que ganhará com isso? Respeito das forças liberais e de direita? Um iludido. Apenas mais um a bater no PT.

O PT, consumido em parte por um processo muito lento de renovação, acabou se saindo muito bem das urnas de outubro passado. Boa votação no primeiro turno e excelente resultado no segundo, onde os candidatos Fernando Haddad e Manuela D'Ávila (do PC do B), fizeram um papel digno e honroso, conquistando 45% dos votos, indo muito além dos votos petistas e da esquerda, ganhando o apoio de democratas livres e brasileiros comprometidos com a luta pela liberdade e pelo avanço social. É muita coisa.

O desafio para o PT é buscar a renovação - que a candidatura de Haddad já sinalizou -, crescer na oposição ao governo de JB pela defesa das pautas sociais - que representa historicamente o ponto forte do partido -, reconhecer o erro em ter apostado no processo de financiamento de eleições/partidário por meio de fornecedores/empresários contratados pelo estado e reciclar o partido, com jovens lideranças populares e sindicais, para as disputas municipais nas próximas eleições.

PC do B e PSOL, que enfrentarão os problemas com as cláusulas de barreira, terão que decidir se continuarão em vôo solos ou se se unirão ao PT, aí sim, num renovado partido com ideário socialista democrático que defenda o mundo do trabalho e um futuro de liberdades públicas & civis para o país.

E lá nave vá ...

Claudio Guedes é empresário

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