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O triste início de Bolsonaro Quaresma! Por Marconi De Souza Reis
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Dom, 25 de Novembro de 2018 17:51

Marconi_de_Souza2O presidente eleito Jair Bolsonaro levou quase um mês, após as eleições, para escolher o futuro ministro da Educação, afinal, deve ter sido difícil atender à loucura fundamentalista dos evangélicos, tão desejosos por alguém que pudesse construir uma escola sem política, sexo, drogas, samba e rock and roll.

Finalmente, na última quinta-feira, foi anunciado o nome do futuro ministro, o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, teólogo de quatro costados, que já divulgou uma carta revelando o seu projeto de educação apolítica, conservadora e moralista. Eis o que, em resumo, disse o tal do Ricardo Vélez Rodríguez:

– “Pretendo elaborar normas no contexto da preservação de valores caros à sociedade brasileira, que, na sua essência, é conservadora e avessa a experiências que pretendem passar por cima de valores tradicionais ligados à preservação da família e da moral humanista. Não à instrumentalização da educação com finalidade político-partidária”.

Bem, para construir essa escola proposta pelos alucinados evangélicos brasileiros, o novo ministro terá que eliminar as disciplinas de literatura, gramática, história e geografia da rede de ensino básico, bem como os cursos de filosofia, antropologia, sociologia e psicologia na graduação superior. Ou seja, não logrará êxito.

Como eu não pretendo cansar o leitor com um texto muito longo, decidi tratar apenas das escolas literárias, visto que nessa seara já serei capaz de demonstrar como é impossível construir uma educação brasileira vinculada ao moralismo e conservadorismo ignóbil dessa gente cega, inútil e ingênua.

Ademais, buscarei ser o mais didático possível, seguindo linearmente as escolas literárias – barroco, arcadismo, romantismo, realismo, naturalismo, parnasianismo, simbolismo e modernismo –, inclusive com as datas de nascimento e morte dos escritores e poetas, para o leitor menos familiarizado com o tema.

Pois bem: o nosso primeiro escritor, o padre Antônio Vieira (1608-1697), da escola barroca do século XVII, já se apresenta nesse contexto como um verdadeiro “chute no saco” do modelo econômico neoliberal vislumbrado pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, que privilegia o rico em detrimento do pobre.

Na sua obra mais famosa, o “Sermão do Bom Ladrão”, Antônio Vieira aparece, inclusive, como o nosso primeiro escritor a revelar que o capitalismo está fundamentado no crime. Eis um trecho da obra do padre barroco, que ele leu, na íntegra, durante uma missa na Igreja da Misericórdia de Lisboa, diante de D. João IV e sua corte:

– “O ladrão que furta para comer não vai ao inferno. Os que vão ao inferno são os de maior calibre e de mais alta esfera”.

Antônio Vieira denuncia neste sermão os escândalos dos governos, suas corrupções, gestões fraudulentas, atos ilícitos, sem mencionar obviamente os mandatários da sua época, mas, por ser este padre um profundo conhecedor dos problemas do Brasil colonial, D. João IV sabia a quem ele se referia naquela obra.

Neste sermão, portanto, ao absolver o pobre que rouba para comer, e condenar o ladrão rico, o padre Antônio Vieira se aproxima da massa desvalida dos nossos tempos de uma forma tão contundente, que a literatura brasileira já se apresenta, desde o início, engajada no aspecto político da luta de classes.

Ainda no período barroco, Gregório de Matos (1636-1695), o “Boca do Inferno”, dispensa maiores comentários. Nem citarei seus poemas satíricos contra os políticos, e muito menos os eróticos envolvendo a sociedade baiana. Deixo apenas, para reflexão, seus versos da fase do gongorismo, no qual o “todo” é Deus; a “parte”, o homem:

“O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo”.

Se os escritores baianos do barroco já se apresentam nesse nível – uma verdadeira antítese ao projeto educacional evangélico do governo Bolsonaro –, a escola literária que surge na sequência, o arcadismo, é o próprio pecado em pessoa, porque fundamentada na exaltação dos deuses greco-latinos e do hedonismo helênico.

Não há nada nas obras dos escritores mineiros Cláudio Manoel da Costa (1729-1789) e Basílio da Gama (1741-1795), nem do carioca Alvarenga Peixoto (1742-1792), todos árcades, que tenha consonância com os lunáticos evangélicos da atualidade. Eu até costumo dizer que o mundo vislumbrado pelo arcadismo mineiro é o paraíso do maconheiro.

Ressalte-se que nem mesmo o “Caramuru”, de José de Santa Rita Durão (1722-1784), também árcade de Minas Gerais, apresenta qualquer afinidade com essa gente louca neopentecostal dos nossos dias, visto que a “conversão” da índia Paraguaçu segue os ditames do cristianismo católico.

E o panorama se radicaliza ainda mais na escola seguinte, o romantismo, porque vamos nos deparar logo de cara com a figura de Álvares de Azevedo (1831-1852), que faleceu aos 21 anos, porém deixando uma obra incrível para a nossa literatura. Será que o novo ministro da Educação conhece Álvares de Azevedo?

Basta lembrar sua “Noite na Taverna”, no qual esse escritor paulista narra a história de Solfieri, que, após transar com uma condessa supostamente casada, sai perambulando pela madrugada fria, e se depara com uma igreja vazia, iluminada, com um caixão aberto lá próximo ao altar. Ele adentra o templo.

Solfieri avista, dentro do caixão, uma defunta muito bela e de lábios roxos. Ele fecha a porta da igreja, tira a moça do caixão, beija a sua boca, transa com ela, goza, e a moça ressuscita. A necrofilia, o pessimismo, o culto ao eu, o tédio, enfim, essas são as marcas de Álvares de Azevedo e de boa parte da escola romântica (geração byroniana).

Essa obra é, portanto, da época do Império, daí que já dá para perceber o quanto foi ridícula aquela polêmica nas redes sociais, patrocinada no ano passado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), sobre a performance de um artista nu no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, inspirado numa tela da pintora mineira Lygia Clark (1920–1988).

A verdade é que, na mesma linha de Álvares de Azevedo, encontramos os cariocas Casimiro de Abreu (1839-1860) e Fagundes Varela (1841-1875), bem como o baiano Junqueira Freire (1832-1855). Eles eram mais radicais do que os roqueiros contemporâneos, porque morriam muito jovens, tuberculosos, embriagados.

No caso do poeta Castro Alves (1847-1871), outro baiano da escola romântica que morreu bastante jovem, a questão sexual torna-se ainda mais radical do que aquela vista em Álvares de Azevedo, porque o nosso maior poeta condoreiro era demais mulherengo e a inspiração brotava da realidade, ou seja, da sacanagem.

Por sua vez, a política no romantismo exsurge no indianismo do maranhense Gonçalves Dias (1823-1864), do carioca Gonçalves de Magalhães (1811-1882) e do cearense José de Alencar (1829-1877), bem como na luta contra a escravatura, com o próprio Castro Alves e o sergipano Tobias Barreto (1839-1889).

No caso de José de Alencar, ele sabia que a independência do país perderia o sentido se não fosse acompanhada por um projeto de cultura nacional, daí que escreveu “Iracema”, “Ubirajara” e “O Guarani”, obras que, em primeira e última instância, são inimigas da bancada ruralista do nosso atual Congresso Nacional.

Nesse contexto, de valoração do índio e de luta contra a escravatura, o poeta Castro Alves tem sido o mais glorificado desde meado do século passado até os nossos dias, mas, sinceramente, este poema do sergipano Tobias Barreto é, para mim, insuperável. Será que o novo ministro teólogo já leu esse poema? Sintam a pegada:

“Escravidão

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime,
Que se chama a escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!”

Na verdade, o que vai sobrar de ingênuo no romantismo – e que a ridícula TV Record, vez por outra, imitando a TV Globo dos anos 70, reproduz em novelas – é “A Moreninha”, do carioca Joaquim Manoel de Macedo (1820-1882), a “Escrava Isaura”, do mineiro Bernardo Guimarães (1825-1884), e “Inocência”, de Visconde de Taunay (1843-1889), também carioca.

Todavia, dessa mesma época temos ainda dois escritores românticos que são um verdadeiro chute na mediocridade conservadora, quais sejam, o cearense Franklin Távora (1843-1888), com “O Cabeleira”, e principalmente o carioca Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), que nos deixou a genial “Memórias de um sargento de milícias”.

A história de Leonardo, o herói em “Memórias de um sargento de milícias”, pode ser vista como a primeira ode ao malandro carioca, sendo que esse “vagabundo” tem um final feliz, algo que, se ocorresse nos dias de hoje, levaria os moralistas do MBL a protestos ensandecidos nas capitais brasileiras, vestidos de camisa verde e amarela.

Como se percebe, não chegamos ainda sequer ao realismo do maior escritor brasileiro, o negro carioca Machado de Assis (1839-1908), e nem no genial maranhense Aluísio Azevedo (1857-1913), com o seu naturalismo cortante de “O Cortiço”, e já dá para perceber que o tal conservadorismo do ministro colombiano encontra-se sem calcinha.

Afinal, imagine os ruminantes seguidores do monogástrico Jair Bolsonaro chegando ao final da leitura de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, e se sentindo na dúvida de Bentinho, frente ao suposto adultério de Capitu? Mas, como é sabido, a burrice quer sempre ter certeza, jamais a dúvida, a reflexão, a introspecção.

Mais difícil de imaginar, ainda, é ver a cara desse ministro colombiano lendo “O Cortiço”, que denuncia a exploração e as péssimas condições de vida dos moradores das estalagens cariocas do final do século XIX, e onde a homossexualidade já aparece fulminante, embora um tanto estereotipada na pena do escritor maranhense.

Aliás, o enfoque homoafetivo surge também nessa fase realista/naturalista com “O Ateneu”, do carioca Raul Pompeia (1863-1895), e no célebre “Bom Crioulo”, do cearense Adolfo Caminha (1867-1897), daí que os evangélicos precisam saber que essa temática não foi inventada pelas novelas da TV Globo.

Nesse contexto histórico, a virada do século XX revelar-se-ia o verdadeiro inferno para esses evangélicos dos nossos tempos, porque na Europa surgem vários movimentos – impressionismo, expressionismo, cubismo, dadaísmo, futurismo, surrealismo –, que vão influenciar diretamente no nosso modernismo literário.

Antes, porém, importante destacar que não há um só poeta da fase parnasiana e simbolista – dos cariocas Alberto de Oliveira (1857-1937) e Olavo Bilac (1865-1918), ao negro catarinense Cruz e Sousa (1862-1898), passando pelo maranhense Raimundo Correia (1860-1911), e o paulista Vicente de Carvalho (1886-1924) – que socorra essa gente imbecil que só lê a Bíblia. E lembrem que essa é a nossa classe literária dita conservadora.

Não bastasse isso, o século XX já tem início com o lançamento de “Os Sertões”, em 1902, do carioca Euclides da Cunha (1866-1909), e “Canaã”, também de 1902, do maranhense Graça Aranha (1868-1931), que são profundamente críticos com relação ao poder político e religioso, respectivamente.

Euclides da Cunha revela as causas de todo sofrimento do povo nordestino por um viés que nada tem a ver com o modelo de “salvação” que os evangélicos de hoje pregam para essa região nos moldes do que ocorrera em Israel, no pós Segunda Guerra Mundial, porque são realidades totalmente distintas.

Graça Aranha, por sua vez, retoma o tema da “terra prometida”, mas desenvolvendo aspectos sociológicos e fisiológicos (etnia, relacionamento humano, culturas, colonização), enfim, retrata a questão bíblica por uma janela bem divorciada da história de Abraão. Aliás, Graça Aranha vai fazer parte da Semana de 22 como grande ativista.

Imperioso destacar que, dessa fase pré-modernista, nós temos ainda as figuras do paulista Monteiro Lobato (1882-1948) e, principalmente, do negro carioca Lima Barreto (1881-1922), mas os deixarei para o final dessa minha prosa, porque, como diz o título, aqui eu trato do “Triste início de Bolsonaro Quaresma”.

Não obstante, seria um sacrilégio cultural tratar dos escritores da nossa história, e deixar de fora a “avis rara” da literatura brasileira, o poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914), que também pertence à fase pré-modernista. Morreu jovem, e deixou um só livro – “Eu”.

Para quem não o conhece, recomendo que procure os seus instigantes poemas no Google, a exemplo de “O Morcego”, “Psicologia de um vencido” e “Versos Íntimos”. Aquela pegada de Álvares de Azevedo ressurge aqui de forma mais acachapante.

Bem, a partir da Semana de 22, o modernismo rompe esteticamente com o padrão vigente da nossa literatura, bem como radicaliza a temática social, política e sexual, numa revolução que completará um século no próximo ano de 2022, sem que pareça não ter fim. É a escola mais longa e iconoclasta da nossa literatura.

Se tudo que foi produzido antes do modernismo apresenta-se como socos na mentalidade retrógrada dos indivíduos moralistas, o que ocorre de 1922 para cá é o próprio sepultamento do atraso, visto que essa escola surge exatamente para enterrar todo e qualquer tipo de conservadorismo.

Portanto, como é possível construir nos dias de hoje uma escola conservadora no país de “Macunaíma”, do paulista Mário de Andrade (1893-1945), de “O rei da vela”, do também paulista Oswald de Andrade (1890-1954), e de “Os Sapos”, do pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968), o trio de ouro da primeira fase do modernismo?

Como é possível não tratar de política, em sala de aula, quando os alunos estiverem diante do alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), do paraibano José Lins do Rego (1901-1957), do baiano Jorge Amado (1912-2001), do gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975) e da cearense Raquel de Queirós (1910-2003), escritores da segunda fase do modernismo?

Como tratar de “Vidas Secas” com os alunos sem enfrentar o componente opressivo da sociedade latifundiária? Como falar da trilogia “Os subterrâneos da liberdade”, de “Terras do sem fim”, de “Menino de engenho” ou de “O Quinze”, sem enfrentar a discussão em torno da oposição das classes sociais e do modelo patriarcal? Impossível.

E é possível esconder a irreverência com a política, com o sexo, enfim, com tudo que há de instigante nos poemas dos mineiros Drummond de Andrade (1902-1987) e Murilo Mendes (1901-1975), dos cariocas Vinícius de Moraes (1913-1980) e Cecília Meireles (1903-1964), do pernambucano João Cabral de Mello Neto (1920-1999) e da cosmopolita Clarice Lispector (1920-1977)? Jamais.

Será que esse novo governo vai esconder o mineiro Guimarães Rosa (1908-1967) da rede de ensino, afinal, aquele tesão de Riobaldo por Diadorim, antes da descoberta da real identidade da moça, não deve ser bem vista pelo futuro ministro da Educação, não é mesmo? Será que esses evangélicos já leram “Grande Sertão: Veredas”? Duvido.

Nesse pequeno relato, vale lembrar ainda da terceira geração do modernismo, o concretismo da década de 1950 para cá, patrocinada pelos paulistas Augusto de Campos, Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1027-2012), e pelo maranhense Ferreira Gullar (1930-2016), visto que, de tão irreverente, esse movimento fez o poema “escapulir” do livro.

Aliás, os concretistas influenciaram a pintora mineira Lygia Clark (1920-1988) a criar “Os Bichos”, em 1959, uma obra viva que faz a arte ultrapassassar os limites da superfície de um quadro. E foi exatamente baseada nessa obra de Lygia Clark, que ocorreu aquela performance da nudez, no ano passado, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, para desespero do Movimento Brasil Livre (MBL).

Bem, não enfoquei nesse texto a dramaturgia brasileira, que surge no Império e, ressalte-se, é até mais irreverente em muitos aspectos do que a nossa prosa e poesia, porque acho que o teatro merece um tratamento diferenciado, assim como a música popular brasileira. Ou seja, Nelson Rodrigues e Chico Buarque, dentre outros, são um capítulo à parte, embora ambos estejam inclusos na prosa literária.

O que busquei aqui foi demonstrar, ainda que superficialmente, a impossibilidade de se estabelecer normas conservadoras e moralistas na educação brasileira, como quer o futuro ministro, sem eliminar a literatura da rede de ensino básico. Sem dúvida, a única forma de tal projeto esdrúxulo vingar é impedindo o estudante de ter acesso aos livros de literatura.

Esse projeto bizarro, estrambólico, manifestado na carta do ministro colombiano, não teria guarida nem mesmo entre os poetas e escritores estritamente líricos, a exemplo do gaúcho Mário Quintana (1906-1994), do mato-grossense Manoel de Barros (1916-2014) e da goiana Cora Coralina (1889-1985), porque eles são doces, mas ateus.

Nossa literatura é demais irreverente, desde o barroco até o armorialismo do paraibano Ariano Suassuna (1927-2014), passando pelos baianos José Carlos Capinam, João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) e Wally Salomão (1943-2003), além da carioca Ana Cristina Cezar (1952-1983), do paranaense Paulo Leminski (1944-1989) e do piauiense Torquato Neto (1944-1972).

E se excluir a literatura do ensino básico for a tal solução, a gramática vai a reboque, afinal, são os escritores quem nos ensinam sobre as sinestesias, metáforas, metonímias, prosopopeias, aliterações, onomatopeias, pleonasmos, enfim, quem dão vida e sentido às figuras de linguagem. E o que seria da sintaxe e da semântica sem a literatura?

Será que o novo ministro possui um projeto para que o professor ensine ao estudante como distinguir o complemento nominal de um adjunto adnominal analisando bulas de remédio? Acredito que esse tipo de projeto só exista lá na terra dos xiitas e sunitas, mas nem isso poderá importar do Oriente Médio, visto que esse governo já começou a brigar até com os muçulmanos.

Nessa medida, é impossível também discutir a história e a geografia do Brasil sem tratar de política, da opressão capitalista, da luta de classes, dos regimes ditatoriais, do fascismo integralista (e dos tempos atuais), da vergonhosa concentração de renda do nosso país (uma das maiores do mundo), se não for impedindo que os estudantes tenham acesso aos livros.

Ou será que, ao invés da história da nossa nação, o novo ministro pretenda discutir a vida privada das autoridades brasileiras (da época colonial até os nossos dias), como forma de desviar os estudantes dos problemas sociais? Olha, acho melhor que ele não escolha esse caminho, porque aí os jornalistas vão investigar o passado dessa Michele Bolsonaro, e, pelo que já sei, vai dar muito barraco.

Enfim, se a gente for procurar na literatura brasileira algo que se assemelhe ao desenho desse futuro governo, a única coisa que vamos encontrar com um pouquinho de proximidade é o preconceito social de Monteiro Lobato em “Urupês” (personagem do “Jeca Tatu”), bem como na sua burrice de compreender Anita Mafaltti e o modernismo.

Não obstante, esse mesmo escritor paulista, criador dos personagens do “Sítio do Picapau Amarelo”, tornou-se um dos maiores defensores da Petrobras, lutando contra a sua privatização, daí que não serve também de espelho para o modelo a ser implantado pela equipe econômica do futuro governo. Como se vê, se correr o bicho pega, se ficar, ele fode!

Olha, eu já havia concluído esse texto quando a minha esposa me perguntou se a famosa obra de Lima Barreto – “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de 1911 – poderá vir a ser uma espécie de espelho de Jair Bolsonaro, afinal, esse livro narra a história de um major idealista, patriota, moralista, com ideias mirabolantes e loucas, que acaba preso e condenado à morte.

De fato, o major Policarpo “queria transformar a pátria em um mito, mas nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia”, como o próprio personagem reflete na prisão. Bem, por enquanto reservo-me a falar do triste início de Bolsonaro Quaresma. Leiam a obra de Lima Barreto – que morreu num hospício – e aguardem o próximo governo.

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Marconi é advogado e jornalista premiado nacional e internacionalmente, ora afastado do jornalismo

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