A porta dos fundos. Por Cláudio Guedes |
Sáb, 01 de Dezembro de 2018 05:01 |
Antônio Palocci foi ministro de governos petistas. Era visto por lideranças do PT, não todas, mas muitas, como o homem que dialogava com o "andar de cima" e que ajudaria os governos de centro-esquerda na sempre dura, árdua, tarefa de se entender com a elite nacional. Os poucos grupos que controlam os bancos, as grandes corporações da indústria, o agro-negócio e a mídia impressa e televisiva. Inteligente e sedutor, aproveitou-se da posição para resolver a "sua" [dele mesmo] situação no mundo e foi atrás, com sofreguidão, do vil metal. Vil mas que lhe proporcionaria uma vida nababesca. Sérgio Moro, um juiz de 1° Instância Federal em Curitiba, farejou um esquema de corrupção grandioso que passava por um velho "conhecido" seu, o doleiro Alberto Youssef, e as conexões deste com diretores da maior empresa estatal nacional. Era a ponta de um esquema de corrupção que juntava financiamentos a partidos políticos, enriquecimento de parlamentares e superfaturamentos em contratos de grandes empresas nacionais de engenharia e construções com estatais. As apurações seguiam firmes, mostrando a participação principal do PP e do PMDB no esquema, uma menor participação do PT (neste caso mais vinculada ao financiamento de campanhas eleitorais) e, também, a perenidade do esquema que remontava os governos de FHC do PSDB/DEM. Manobrando com inteligência e com objetivos bem definidos, pelo juízo de Curitiba, a ação investigativa foi derivando para uma caça sem limites, sem constrangimentos, ao PT e suas lideranças. Os demais partidos foram reduzidos ao segundo plano. E as investigações com relação ao PSDB a plano nenhum. Cercaram o PT e, em particular, o ex-presidente Lula, que passou a ser o alvo preferencial do juiz Moro, a esta altura já uma celebridade nacional. Não podendo "pegar" o ex-presidente por nenhuma ação concreta e objetiva de corrupção na Petrobras (razão da operação conduzida por ele e batizada de Lava-Jato), uma engenhosa artimanha (ainda que primária, vulgar, diga-se logo) foi montada. Criou-se a figura da "conta corrente" que o PT teria com empresários fornecedores da Petrobras, nunca de fato demonstrada a não ser informada em delações de criminosos "arrependidos", e desta conta sairiam recursos para "pequenos" mimos ao político petista. Nada provado, mas esta foi a trama que serviu de base para a condenação do ex-presidente, a primeira de outras que se seguirão, já que o roteiro emplacou. É como em Hollywood, se o filme conquista audiência seguem as continuações 2°, 3° e 4°. Mas faltava algo: vincular o processo ao calendário eleitoral. Sim, porque o tempo da política não para. Processos judiciais possuem prazos impostos pela Lei, possuem ritos, regras e circunstâncias próprias a cada instância da justiça. E aí entrou em cena o poder de articulação de Sérgio Moro no âmbito do espaço judicial. Prazos acelerados, votos aparentemente combinados, ações expressas, tudo para impugnar "via judiciário" a candidatura do líder petista que já aparecia como fortíssimo concorrente às eleições presidenciais. Tudo deu certo e os homens da justiça (sic) encarceraram o petista. Mas o serviço ainda não estava completo. Havia o perigo, real, que a liderança de Lula, grande e com potencial crescente no período eleitoral, acabasse por eleger, em 2018, um seu companheiro de partido. Era preciso agir. E o juiz de Curitiba não ficou quieto. Palocci, pego nas delações de seus antigos parceiros de artes & artimanhas, os empresários corruptores, estava buscando desesperadamente um acordo com a justiça que o liberasse da cana dura. Afinal, tinha ficado rico, e ainda que o acordo o obrigasse a devolver parte do arrecadado, tentaria livrar outra parte, fora o que já tinha conseguido ocultar em nome de terceiros. Livre, voltaria ao bem bom que buscou com tanta avidez. Tentou uma negociação com o MPF, o órgão encarregado pelas delações da Lava-Jato. Não funcionou. Os procuradores não aceitaram sua delação. “Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos”, disse à imprensa o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, sobre a negociação com Palocci. Por isso o "arrependido" procurou a Polícia Federal. “Acho que a PF fez esse acordo para provar que tinha poder de fazer. Foi uma queda de braço talvez conosco, mas a porta da frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A porta dos fundos é a PF", disse Carlos Fernando. A delação, fechada com anuência de Sérgio Moro, foi feita em abril de 2018 e levada ao conhecimento do juiz em junho. Ficou guardada. Seis dias antes do primeiro turno das eleições, dia 1° de outubro, com uma polarização inesperada do processo, onde uma candidatura avulsa, de um parlamentar obscuro e medíocre, revelava-se com a única capaz de derrotar o candidato indicado pelo líder aprisionado, o juiz resolve tornar pública a delação do ex-ministro petista com fortes acusações ao partido e aos ex-presidentes Lula e Dilma, o primeiro preso em Curitiba e a segunda liderando o pleito ao Senado em Minas Gerais. As acusações, apesar de se resumirem a generalidades, afirmações levianas e sem qualquer retaguarda probatória, tinham potencial para impulsionar, ainda mais, o anti-petismo que se revelaria decisivo no processo eleitoral. Sérgio Moro voltava a agir. Sem pudor, sem receio, interferiu de forma ignóbil no processo democrático de consulta popular para prejudicar o PT e os seus candidatos à presidência e nos vários estados da federação. Ontem, 29/11, Antônio Palocci recebeu seu prêmio pela parte que lhe coube na farsa engendrada. Foi para casa, onde cumprirá sua pena no regime semi-aberto, passeando, negociando, curtindo a vida durante o dia e se recolhendo ao conforto da sua opulenta residência à noite. E o juiz? Pediu exoneração da toga e aceitou o convite, do presidente que contribuiu para eleger, para ocupar o ministério da Justiça. Vai continuar fazendo política, agora sem a proteção da magistratura. E o presidente eleito? Ao trazer para o centro do seu governo, no plano interno, o juiz que lhe auxiliou a vencer a eleição, e no plano externo, a devoção desavergonhada ao boçal e desequilibrado presidente americano, JB nos dá uma idéia do estrago que fará na vida republicana e democrática da nação. Três personagens do Brasil vitorioso (sic) em 2018: Antônio Palocci, Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. No Planalto deveriam entrar, na melhor das hipóteses, pela porta dos fundos. Claudio Guedes é empresário |
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