O glamour do pelô. Por Zuggi Almeida |
Qui, 06 de Dezembro de 2018 04:27 |
O Pelourinho/Maciel teve os seus dias de glória no passado quando os suntuosos casarões eram habitados pela burguesia da época.
Um outro direcionamento habitacional levou a elite a ocupar outros espaços nas regiões do Campo Grande, Vitória, Graça e Barra. A decadência financeira originada pela mudança dos detentores do poder econômico determinou o abandono daquele casario colonial. Esse ambiente fantástico foi romantizado pela obra do escritor baiano Jorge Amado. Alí foi pintado um cenário de farras homéricas, mulheres sedutoras e malandros hábeis no uso da navalha e no jogo da capoeira. O Pelourinho foi formado por um tecido social rico culturalmente, mas, ojerizado pela classe média da Bahia antiga. Morador do Maciel nos anos 60 era considerado malandro ou prostituta. Uma vaga de emprego só era conseguida se o endereço no Pelourinho fosse omitido pelo residente. Lembro na década de 80 quando levei uns amigos meus da classe média para provar do mocotó do restaurante da Tia Celina, no Maciel de Cima. A noiva de um deles quando soube do acontecido se recusou a beijá-lo na boca, no dia seguinte. Nesse ambiente de boêmia foi efetuada uma intervenção governamental , após o Centro Histórico ser considerado patrimônio da humanidade. O Pelourinho tornou-se uma das maiores referências culturais no mundo. O afoxé Filhos de Ghandi, o bloco afro Olodum e o balanço do reggae atraíram estrelas do pop mundial como Paul Simon e Michael Jackson. Mas, o certo é que o Pelourinho tem uma magia inexplicável capaz de minimizar distâncias sociais, a ponto da turista branca colocar um tereré rasta nos cabelos sedosos ou o senhor alemão exibir uma pintura tribal no braço gordo. Eles se permitem imaginar ser negro por um dia, sem jamais ter sentido a dor de um chicote no lombo ou a violência das blítzes policiais dos dias atuais. Existe, sim, um Maciel/Pelourinho verdadeiro fruto da resistência do povo negro que continuou habitando aquele espaço mantendo a dignidade e a essência apesar da caricatura glamurosa das telas globais. - Você já foi no Beco do Mota, nega? * zuggi almeida é baiano, escritor e roteirista. |
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