Moro, com sua leviandade padrão, diz: “Ele retornando à Itália, esperando que ele seja encontrado, cabe a ele levar as reclamações quanto a eventual injustiça da condenação para os órgãos de Justiça italianos." É claro que a questão é mais complexa. Pode ter havido, no caso em pauta, um erro judicial e má vontade para repará-lo, por espírito de corpo do sistema judicial italiano. É uma possibilidade que pessoas honestas devem levantar em questões polêmicas e complexas.

Moro afirma ainda que a concessão do asilo, no Brasil, teve motivação ideológica. Pode ser. Mas creio que foi mais humanitária, tanto na França, como no Brasil. O processo contra Battisti não provou, segundo quem o estudou, de forma insofismável, sua culpa nos assassinatos. Na dúvida, pró réu, é o que diz o bom direito romano.

E Moro ao defender a extradição, anos depois da concessão do asilo, está sendo ideológico? Claro que sim. Mas ele se julga acima de tudo, de ideologias, dos políticos e, se alguém duvidar, até acima de Deus (ou dos Deuses, já que a modéstia não lhe é peculiar).

Moro será um ministro da Justiça que tem, no curriculum vitae, o fato desabonador de ter sido um juiz que, por motivação político-ideológica, desafiou em várias oportunidades a lei, o CPP e a Constituição da República. Não é um bom prenúncio.

Agora mesmo, semanas antes de assumir o cargo, Moro revela preocupação com Battisti. Faz sentido? Acho que não. Objetivamente não.

Ele, que se auto-qualifica como um cruzado contra a corrupção, deveria é estar preocupado com o escândalo da hora, aquele que envolve o senador eleito pelo RJ, filho do futuro presidente da República, e seu assessor desaparecido. Ambos são apontados pela imprensa como possíveis responsáveis por montarem um esquema de apropriação de recursos públicos por meio de funcionários fantasmas na AL do Rio de Janeiro. E aqui, no Brasil, no já saqueado estado carioca. Battisti não é, nem nunca foi, problema para o Brasil.