Os benefícios do Yôga. Por Franciel Cruz |
Seg, 31 de Dezembro de 2018 03:01 |
Alguns maledicentes estão a espalhar que vou abandonar o facebook nos próximos dias pra curtir o festival da virada. Diante desta acusação, deveria silenciar, mas reconheço. A programação, realmente, tá muito boa. Porém, já que é pra curtir, prefiro os desfrutes de uma dor de dente. Aliás, com este barulho dos seiscentos, fantasiado de música, a dor num é só no dente, não. Minha cabeça agora não deixa a cidade dormir. Nem a minha, nem a de Graça Azevedo, que está pensando até em alugar um hotel, pra fugir da muvuca, pois moça ryca & fyna. Pra que vocês tenham uma ideia do desmantelo, a disgrama ontem foi comandada por Durval Lelys, autor da obra-prima Quebra Aê, que, em carnavais de antanho, venceu todos os prêmios de melhor composição. Nada mais justo, registre-se. Afinal, a referida música honra as mais nobres tradições do cancioneiro de nossa terra. Ouçam um trecho. Eu vou arrasar me decidir tig dig dig dig di ! tig dig dig dig di! (4x) Que beleza, né não?. São obras deste quilate que nos emocionam. E nos fazem refletir sobre o próprio sentido da vida. Seguinte. Sei, sei, já há algum tempo, que exercícios físicos estão na moda e etc e coisa e tal e ponto parágrafo. Contudo, pra início de conversa, devo confessar: sou um sedentário e antiquado por convicção. Minhas predileções permanecem imutáveis per secula seculorum: Baneb é meu banco; Maverick é meu carro; Mudança do Garcia é meu bloco; Esporte Clube Vitória é minha disgrama; e Esporte Mata (editora Casa Amarela, 180 páginas, R$ 27,00), do médico mineiro José Róiz, é meu livro de cabeceira, minha Bíblia. Religiosamente, guio-me pelos ensinamentos deste profeta. Em resumo, ele prega a seguinte verdade, que salva e liberta: nada de esforços demasiados, crianças, pois apressam o envelhecimento do organismo. Devoto, abro exceção nem mesmo para uma fortuita dança de salão. E é com esta firme base filosófica e moral que vou sempre laborar na egrégia Assembleia Legislativa da Bahia. É um compromisso ancestral. No dia 18 de fevereiro de 2005, uma sexta-feira, não foi diferente. Funcionário público praticante, estava preparado para mais um dia de cansativa labuta. Ao cansaço prévio, contudo, juntou-se o aborrecimento. Tomei ciência de que naquele impoluto parlamento haveria uma sessão especial para tratar sobre os benefícios do Yôga. Delicadezas à parte, sempre tive ojerizas com estas "filosofias orientais". Porém, começa a solenidade e, para minha surpresa, nada acontece. Apenas aquele conhecido lenga-lenga sobre "sabedoria plena, força cósmica, autoconhecimento, energização" e congêneres. As coisas se encaminhavam para este final trágico quando sobe à tribuna... Quem, quem? Mequinho, o campeão de xadrez? Não. Durval Lelys. (Amigos, mais uma confissão. Convicção é bicho traiçoeiro. Basta um descuido). Desprevenido, fui ouvir o testemunho (qualquer semelhança com igreja evangélica não é mera coincidência) do então líder da Asa de Águia. E me emocionei. Para encurtar esta prosa ruim, vamos às notas taquigráficas do Poder Legislativo. Aspas para o eterno xóvem. "Pensei que minha maior emoção era o Carnaval. Mas, hoje, ao abraçar o Mestre DeRose*, vivi o momento mais importante de minha vida". Palma, gritos, palmas. Com os olhos mais esbugalhados do que de costume, o axezeiro prossegue. "Depois que descobri o Yôga (atenção revisor, "a filosofia" de lá ele é Yôga mesmo), minha vida mudou". Pausa. E agora, maestro, o sensacional arremate do cantor vai em caixa alta: "MEU OBJETIVO É VIRAR UM INSTRUTOR DE YÔGA". Ao ouvir tal depoimento, imediatamente mudei de ideia quanto à inutilidade das "práticas esportivas e filosóficas". Já imaginaram o bem que este Yôga fará à música baiana? Já pensaram que maravilha se o mestre DeRose conseguir mais adeptos? Eu mesmo adquiri o livro FAÇA YÔGA ANTES QUE VOCÊ PRECISE, best-sellers de sapiência ancestral e mandei, via Sedex 10, para algumas de grórias artísticas, com o objetivo de contribuir para a linha evolutiva da MPB, conforme desejo da vedete de santo amaro. Vocês, almas generosas, podem fazer o mesmo. Afinal, temos, em profusão, talentos para o Yôga que hoje estão escondidos no samba, no rock, no jazz, no cinema, no teatro, no futebol, na literatura (vixe, na literatura então...). Vocalizemos os mantras, irmãos. * O Dia 18 de Fevereiro, Dia do Yôga na Bahia, é a data de nascimento do mestre DeRose. P.S Este texto é mais antigo e ultrapassado do que a banda Asa de Águia. Meti esta adaptação em homenagem ao sofrimento de Graça e do povo que reside nas imediações do festival da virada. P.S Agora, sério. Já deu, 2018. Vou me recolher mesmo por uns tempos. Beijos; Franciel Cruz é jornalista e escritor |
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |