Mortes aos Ricos? Por Zeca Peixoto |
Seg, 18 de Março de 2019 02:47 |
Não é o caso desse humilde escriba desejar a morte de ninguém. Mas recordo Lulu Santos, "não desejamos mal a QUASE ninguém..."
A questão passa à margem sobre a vontade do infortúnio alheio. Porque mais profunda. Porque é o regojitar da História mediante a narrativa mais direta. O que o capitalismo resultou neste quase fechamento das duas primeiras décadas do século XXI? A despeito de todo avanço técnico-científico produzido pelo TRABALHO, registre-se, o mundo que dá as caras é absurdamente concentrador de riquezas e socialmente mais excludente e conservador. Atravessa trevas. Por que "morte aos ricos" é entoado como slogan de guerra por manifestantes enquanto destroem lojas e restaurantes frequentados por endinheirados da França? No final da primeira década deste século distópico, mais precisamente entre os anos de 2007 e 2010, a crise financeira gerada pela ganância de grandes conglomerados rentistas lançou milhões de pessoas mundo afora ao desemprego e à miséria. Poupanças e aposentadorias foram torradas nos cassinos bancários de Wall Street. Os estados nacionais foram utilizados para sanear bancos e posteriormente cupinizados por eles para retirar direitos dos pobres e indesejáveis do ultraneoliberalismo. "Lógica" cruel. Saúde, educação, lazer e segurança passaram a ser não um fator da normalidade solidária que deveria ser o ethos das sociedades. Viraram bens de luxo para um punhado de gente. Só nos EUA, Meca do capitalismo, 47 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza. O mundo passou a ter mais de 65% da população não como pobres e sim miseráveis. Ao capitalismo o que importa é acumulação e lucros. Que seja para um grupelho. O restante que se dane. Que morra de fome como escravos do capital. Talvez aí tenhámos explicação a um libelo, a princípio, tão "radical". Partindo da premissa que "radical" decorre da palavra raiz, aí está a raiz desta equação. É a fatura cobrada àqueles que historicamente têm condenado à morte milhões. Che Guevara dizia: "sejamos o pesadelo daqueles que não nos deixam sonhar". Eis a questão do moto-contínuo da História. E nela não existem contos de fadas.
Zeca Peixoto é Jornalista e Professor Universitário |