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A Besta, a imprensa e o guarda da esquina. Por Ernesto Marques
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Seg, 29 de Julho de 2019 06:45

Ernesto_Marques_n2Antes de compartilhar mais uma revelação do The Intercept com seus ouvintes da Band News, o jornalista Reinaldo Azevedo provocou os evangélicos que apoiam a cruzada moralista ora em curso.

Azevedo registrou a coincidência bíblica entre o número da besta descrita no Apocalípse e o 666 que inscreve a portaria infame baixada pelo ministro Moro. Mais do que às pessoas cristãs de boa fé que embarcaram no apoio cego à cruzada dos últimos anos, a metáfora serve, ou deveria servir, para abrir os olhos e a consciência dos jornalistas, crédulos ou agnósticos, mas com alguma fé na profissão. O cerceamento da liberdade de informar e do direito de ser informado está na gênese do Estado brasileiro. E da imprensa brasileira. Era simplesmente proibido imprimir qualquer coisa em terras do Brasil até 1808, quando a família real se mudou para a colônia e passou a ser necessário editar os atos e leis do governo imperial aqui instalado. Da Constituição do Imperador D. Pedro I aos generais ditadores do pós-64 e a Lei de Imprensa de 1967, decretos, leis ordinárias e constituições trataram de manter espadas sobre as cabeças dos trabalhadores da notícia.

Em nossa mais recente experiência democrática, violentada pelo golpe de 2016, o cerceamento da liberdade de informar e do direito de ser informado se realizou através de artifícios algo sutis, mas com resultados igualmente violentos. Trinta e um anos depois de promulgada, a balzaquiana Constituição de 1988 revela-se agora, um amontoado de ilusões perdidas. A não regulamentação do capítulo da comunicação social está no cerne do desmoronamento cada vez mais acelerado das conquistas que um dia pensamos haver logrado. A Lei de Imprensa de 1967 é digna do adjetivo “famigerada” que sempre a acompanhou. Mas ao entender que o espírito democrático da Carta de 1988 não a recepcionava, o vetusto STF deixou os comunicadores expostos à sanha dos graúdos com dinheiro e poder suficientes para perseguir jornalistas com processos criminais.

Foi assim que um torturador dos anos de chumbo processou um torturado, poucos anos atrás. A juíza que tentou censurar um texto de Emiliano José no blog de Oldack Miranda teve sob sua análise o pedido indecente de indenização de R$ 2 milhões em favor do torturador. Foi assim que juízes e promotores da República de Curitiba, revoltados com a revelação dos vencimentos legais e imorais, fustigaram jornalistas da Gazeta do Povo com dezenas de ações em comarcas diferentes e distantes para dificultar presença em audiências e inviabilizar suas rotinas profissionais e familiares.

Foi assim que Brasil afora, jornais e jornalistas foram censurados por decisões judiciais e impedidos de noticiar tal e qual assunto, ou citar fulano ou beltrano. Assim como a crise na educação brasileira definida por Darcy Ribeiro, as chancelas institucionais para garrotear o direito à informação são um projeto muito bem engendrado pelos donos do poder. Da maioridade de D. Pedro II ao impeachment de Dilma, nenhum golpe lograria êxito sem a participação da imprensa - ativa ou passivamente. A ousadia de um gringo expôs as vísceras desse projeto de submissão nacional pela supressão e/ou negação indireta de direitos. No breu das tocas se urde a destruição da educação pública e da produção de conhecimento. Sob o breu das togas se urde a desmoralização da imprensa, enquanto instituição, e a destruição do jornalismo.

A 666 de Moro é feia como a besta subida da terra para enganar os viventes e fazê-los adorar a primeira besta, que recebeu uma ferida de espada e sobreviveu. É um aleijão jurídico compatível com a empáfia do conge da D. Rosângela, habilíssimo na arte de torturar o Direito e a língua portuguesa. Hoje o Torquemada das Araucárias mira em Glenn Greenwald. A qualquer momento pode direcionar sua ira para quem pareça ameaçador. E há ainda os tais guardas da esquina temidos pelo vice-presidente Pedro Aleixo no nascimento do AI-5, em 13 de dezembro de 1968. Versões paroquianas dos imbecis no poder podem alvejar qualquer de nós, a qualquer momento. Cada jornalista nascido brasileiro ou atuando no país, ai inclusos os que começam a se arrepender de atos e omissões ao longo do mais de cinco anos de cobertura da Lava Jato, tem um papel a cumprir. E escolhas a fazer. Não se trata de defender ou condenar Greenwald. Não se trata de ser petralha ou bolsominion. É ficar ao lado da liberdade ou do arbítrio.

“Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a fé dos santos’ (Apocalipse 9;10 -13)

*Ernesto Marques é um paraíba baiano, jornalista e radialista

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