Coincidência ou obra do destino, o Encontro Municipal de Salvador para a escolha do candidato à Prefeito vai acontecer no mesmo dia, 15 de março, do primeiro teste golpista para iniciar uma nova fase mais autoritária do processo que se iniciou com o impeachemant da presidenta Dilma.
Essa sincronização de duas realidades, a realidade política do país e a vida interna do PT da Bahia deverá ter alguma consequência e poderá vir a modificar o resultado presumível do encontro.
A indicação feita pelo governador e pelo senador petista de uma major da PM, que está sendo preparada para ser consagrada no encontro, está em nítido descompasso com esse momento político do país.
Enquanto era gestada no interior do partido podia ser visto como um sonho de verão. Com essa emergência da questão militar/policial, essa idéia pode vir a ser um pesadelo.
As forças policiais, principalmente as PMs, as forças armadas e as milícias passaram a ocupar as manchetes do noticiário político e se tornaram a principal preocupação dos diversos setores democráticos do Brasil.
A militarização do país já começou pelo governo federal, pelas PMs sem controle dos governadores e se preparando para amotinar, com os vínculos das milícias com esse projeto e com as instituições, o projeto de militarização da educação etc...
A militarização é o âmago do projeto da extrema direita.
A proposta da pré-candidatura da major Denice apareceu em substituição ao nome do presidente do Bahia. Ambas são produtos de um marketing despolitizado e de uma fantasia de ocupar o centro, tentando fugir da polarização política e carregando um temor do governador vir a ser derrotado eleitoralmente em outubro. Partem do princípio de que o governador vai precisar da áurea de vitorioso para realizar os planos de vir a ser candidato do centro nas próximas eleições presidenciais.
A intenção é pulverizar o apoio do governo em várias candidaturas da base do governo - sargento Isidoro de origem policial e evangélico e mais outras três- e fazer da presença do PT no processo eleitoral algo sem força política para polarizar o debate.
Essa participação anódina terá graves consequências para o futuro do partido. Perda de parte do significado acumulado, redução do número de vereadores do partido, transferência de papel político para outros partidos, por exemplo.
A disputa de projeto para o país está posta, independente da vontade dos que não querem esse enfrentamento.
O pacto político que deu sustentação ao fim da ditadura está roto e isso necessariamente coloca a questão no centro dos debates.
Para onde iremos?
Essa será a eleição municipal mais entralaçada com esse debate político. Deveríamos estar nos preparando para esse enfrentamento, em vez de estar buscando rotas de fuga. 2022 começa agora, queiramos ou não. Todo nosso destino enquanto povo e enquanto nação começa a se definir agora. O processo eleitoral de Salvador terá um papel simbólico importante para 2022. A direita quer tomar esse bastião como porta de entrada no Nordeste.
Precisamos avançar na crítica ao projeto neoliberal/autoritário e criar as trincheiras que sustentarão o enfrentamento que inevitavelmente virá. O que temos como missão é defender a democracia e apresentar o projeto democratico, popular e sustentável, defender o legado e fazer a crítica ao neoliberalismo e ao autoritarismo da extrema direita.
O prioritário é isolar a extrema direita e possibilitar um novo pacto político com amplos setores da sociedade que dê sustentação a um novo ciclo democrático. Temos que ficar espertos, atentos e fortes.
Guimarães Rosa já nos ensinou:
o que a vida quer de nós é coragem!

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