Não há sombra nenhuma. Só essa luz escaldante a denunciar a nossa consciência dos fatos. Só essa estupidez de todos os lados minimizando a presença real e profunda daqueles que elevam a legitimidade deste chão.

Só a agonia difusa em práticas racistas estruturais num país voltado ao sangue derramado e ao fingimento da paz celestial. Território invadido e hipócrita. Clareado em suas nascentes e em seus morredouros: esta terra submetida ao golpe, ao fascismo, à injustiça, à pilhagem, ao roubo, ao genocídio sem medida dos povos que a alimentam. Terra onde as pestes vicejam porque em comunhão com o extermínio da maior parte da população e da escravização das demais. Terra da elite caolha e avarenta, capitalista sangrenta na alma e no corpo da gente que a sustenta. Terra que aprisiona e quando não, abandona seu povo enganado sob a ideia de nação.

Ah, terra desvalida e nós desvalidos sem conforto, sem ressurreição... Tudo às evidências de que querem dizimar os indígenas e matar milhões de negros e explorar o quanto for quem aqui restar fora desse projeto de branquitude que nos aniquila, aliena, escraviza e mata.

Tudo em sintonia para acelerar a morte de todos os indígenas: o garimpo e a sua peste branca, a presidência e o seu fascismo perfilado no agronegócio deste tempo.

De todos os lados o sol em seu cume a devassar o fracasso deste país tão lindo e irremediavelmente popular. O sol a revelar o projeto de nossa cegueira.

Em verdade, não há nenhum engano. Só a permissão dos alaridos dispersos, da ignorância galopante, da falta de identificação com o que nos faz presentemente Ser na diferença.

Entre o medo e o cansaço: a vontade de sangrar o inimigo que está ao lado defendendo um Planalto que nos enterra mortos ou vivos.

A Iara salve os índios que não são isso... E nós, sob a proteção Deles, nos salvemos, luta e sabedoria, desta opressão que se insiste na desrazão em que se define o Brasil.

Marlon Marcos

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