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A culpabilização da vítima. Por Dante Lucchesi
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Sáb, 13 de Junho de 2020 15:02
Dante_LucchesiDizer que o PT é o responsável pela eleição de Bolsonaro é a mesma coisa que dizer que os judeus foram responsáveis pela ascensão do nazismo, e os negros são responsáveis pelo surgimento do racismo. É a culpabilização da vítima.

A mídia capitalista promoveu um massacre maciço do PT durante anos. Usando o princípio nazista de que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade, propagaram que o PT era o partido mais corrupto da história da humanidade, que tinha instaurado a corrupção como nunca ocorrera antes etc. O Jornal Nacional dedicou 20 minutos de sua edição à compra por dona Mariza de pedalinho de alumínio, no valor de quatro mil reais, para ela se divertir com os netos.

A verdade é que a corrupção no Brasil é endêmica e estrutural, resultado, não da ação despudorada de uns políticos mal intencionados (como na narrativa mítica que mídia massifica), mas de um sistemático assalto ao Estado pelo grande capital. Mas essa base estrutural da corrupção no Brasil não entra na pauta da imprensa corporativa. E, entre os grandes partidos, pode-se afirmar com segurança que o PT é aquele em que há menos corruptos.

Mas só o PT era investigado. Descobriu-se uma conta de milhões em nome de José Serra, cardeal do PSDB, na Suíça, mas Serra está aí, livre, leve e solto. Nunca se investigou a suspeita de que FHC mantém em nome de um laranja um suntuoso apartamento em uma das mais luxuosas avenidas de Paris, nem a construção de um aeroporto, ao lado de sua sofisticada fazenda, por uma empreiteira que mantinha negócios com seu governo. E FHC posa, impunemente, de estadista e grande arauto, com toda a sua arrogância e canalhice. De Aécio Neves, não haveria espaço suficiente para listar todas as suas falcatruas, mas é outro que goza das delícias da liberdade e de outras substâncias, sem ser incomodado. Mas Lula foi condenado e preso por um apartamento de classe média no Guarujá, no qual nunca passou um dia sequer e cuja posse e propriedade nunca teve.

A mídia apoiou maciçamente o lawfare que a Lava Jato executou criminosamente contra Lula e o PT. Recentemente a deputada Bolsonarista Carla Zambelli disse o que até as pedras sabem: Moro perseguia o PT e protegia o PSDB. A Vaza Jato publicou para o país, a mensagem de Moro se colocando contra qualquer investigação sobre FHC, para não "melindrar um aliado". O princípio era cristalino o máximo rigor da lei contra o PT, e expedientes e formalismos da lei para livrar a cara dos aliados e apaniguados. Foi por meio desses expedientes escusos e formalismos legais que se arquivaram muitos processos de corrupção contra o PSDB, no Rodoanel, metrô de São Paulo etc. Isso para não falar da indústria da delação premiada que a Lava Jato promoveu (vide denúncias de Tacla Durán).

Toda essa perseguição jurídica e midiática culminou com o golpe parlamentar de 2016. A elite socioeconômica, os barões da mídia (e seus sabujos), a casta parasitária do judiciário (e suas organizações criminosas, como a Lava Jato) e um congresso dominado pelo fisiologismo acharam que o PT estava destruído e promoveram um grande acordo nacional, "com o Supremo e com tudo", para colocar a quadrilha de Temer no governo, que serviria como ponte (ou "uma pinguela", como definiu cinicamente FHC), para um governo do PSDB, que pusesse fim ao projeto de distribuição de renda, respeito às minorias e política externa independente, que o PT implementava e a sociedade brasileira sufragava nas urnas seguidamente. Eles não contavam com um penetra nessa grande festa: Bolsonaro. O tenente expulso do exército, deputado do baixíssimo clero, com ligações evidentes com o crime organizado, foi o efeito não esperado da política de perseguição política, manipulação midiática e desrespeito à constituição e às instituições empregada para tirar o PT do governo. Até as eleições de 2016, as coisas estavam funcionando dentro do esperado, e o PSDB foi seu grande vencedor. Mas o descalabro do governo Temer contribuiu para que a coisa fugisse do script traçado pelas elites. E o funesto resultado das eleições de 2018 foi resultado de todo o processo movido pelas classes dominantes e aliados contra o PT – um resultado não esperado, mas que não deixa de ser o fruto de toda política persecutória contra o PT.

Por mais que se direcionasse a ação da mídia e do judiciário contra o PT, foi inevitável que toda a política acabasse criminalizada – alguns articulistas da direita que apoiavam a perseguição ao PT, como Reinaldo Azevedo, perceberam isso e começaram a combater os desmandos da Lava Jato. Mas essas reações isoladas não tiveram peso, e forjou-se, então, a narrativa de que o grande mal do país era a corrupção e só a ação de justiceiros, que atropelassem a lei e os direitos humanos, poderia salvar o país dessa praga. Estava criado o cenário para Bolsonaro pontificar, fazendo o gesto desprezível e beligerante da arminha com a mão e dizendo que vinha "acabar com tudo isso que tá aí". No seu vácuo, veio um pelotão de aberrações, como Witzel, Zema, Major Olímpio, o bombeiro que se elegeu governador de Roraima et caterva; todos embalados pela mesma ideologia e cultura política que tinha sido fomentada pela mídia oligopolizada desde 2013.

Mas a ascensão de Bolsonaro tem ainda outra causa mais profunda.

O ódio ao PT e a criminalização da política foram ao encontro do substrato racista e escravista que permeia a mentalidade da elite socioeconômica brasileira e boa parte da sua classe média. Esse pessoal que vestiu a camisa da CBF e foi para rua enforcar bonecos de Dilma e Lula e pregar a volta da ditadura militar não estava contra a corrupção, até porque a ditadura militar foi um dos regimes mais corruptos da história do Brasil. Eles estavam contra as políticas de distribuição de renda do PT (o "maldito bolsa esmola") e contra as cotas que levavam jovens negros da periferia aos bancos das melhores universidades. Eles estavam contra o salário mínimo de 300 dólares (a madame sabe fazer conta, e via que, com o que ela passou a pagar a uma empregada, antes ele podia submeter três ao seu jugo). Para essa gente, preto e pobre só entra no seu mundo uniformizado para servir. Então eles foram para as ruas gritar: "eu quero meu país de volta!". Porque o "país deles" estava sendo ocupado por pretos e pobres. E a mídia oportunista e golpista apoiou sem restrições essas manifestações racistas e fascistas, saudando-as como "manifestações legítimas e democráticas".

Foi nesse caldo de cultura que o Bolsonarismo se criou. Bolsonaro atropelou os candidatos da direita moderada na eleição de 2018 porque ele é quem melhor representa a barbárie escravocrata e racista que mais de 300 anos de escravidão forjaram na mentalidade das classes altas e médias do Brasil. Mas esse sentimento só se tornou uma onda avassaladora com a política persecutória ao PT, levada a cabo por uma mídia oportunista e golpista e por judiciário partidarizado e corrupto.

E Bolsonaro nuca se negou a demonstrar isso, exaltando a tortura (a atualização do pelourinho) e a ditadura militar (o regime de força a serviço das oligarquias). Mas, mesmo assim, a elite socioeconômica não cerrou fileiras com a candidatura de um professor universitário, contra a barbárie escravista. O Estadão falou em "decisão difícil". FHC, forte candidato a figura mais canalha da história recente do país, se omitiu. E até o candidato pseudoprogressista Ciro Gomes (na verdade, um neocoronel ególatra) preferiu fugir para Paris.

A elite fez seu cálculo pragmático e optou pela barbárie do miliciano fascista, pensando nas benesses da política ultraneoliberal de Paulo Guedes e na segurança da política de mata-negro-e-pobre de Sérgio Moro.

Apesar de tudo isso, a elite e a direita ainda tentam agora equiparar Bolsonaro e o PT (Lula) como dois grandes males. Mas, se fossem minimamente honestos, deveriam dizer que, para eles, o PT (com o projeto de distribuição de renda e valorização do trabalho que representa), ainda é pior do que a barbárie bolsonarista.

Isso fica claro, na articulação dessas frentes "amplas" e "democráticas" que se estão articulando agora, diante do descalabro do governo Bolsonaro, que está promovendo um genocídio, com sua postura irresponsável diante da covid-19, incita criminosos a devastar a Amazônia, e está desmoralizando o país perante o mundo, tornando o Brasil um pária internacional. Não satisfeito, Bolsonaro ataca as instituições da república e trama a céu aberto um golpe de Estado.

Uma frente ampla contra o fascismo é um imperativo para todos os verdadeiros democratas. E esse princípio é tão válido agora, como o foi nas eleições de 2018!

O governo Bolsonaro não seria tolerado em qualquer país democrático e civilizado do mundo. Porém, no Brasil, boa parte da elite econômica não está interessada no impeachment, porque está faturando muito com a política antipobre de Guedes. E boa parte do Congresso, o notoriamente fisiológico Centrão especificamente, está chafurdando na orgia de distribuição de cargos que Bolsonaro está promovendo para barrar o impeachment.

Até os setores descontentes da elite, que estão articulando frentes na oposição, estão mais preocupados em isolar e desacreditar o PT do que combater Bolsonaro (Ciro Gomes xinga mais o PT hoje em dia do que Bolsonaro). Na verdade, essas frentes hegemonizadas por setores da elite querem se livrar da aberração Bolsonaro, mas querem manter a política de Guedes e resgatar Moro, para promover um estado policial que persiga os movimentos populares, garantindo a política de concentração de renda. O PT ainda é o mau maior. E essa narrativa de que o PT e Bolsonaro se equivalem, que o PT é o grande responsável pela eleição de Bolsonaro etc. nada mais é do que a expressão ideológica dessa política antipopular e antidemocrática.

Bolsonaro é o resultado indesejado da política contra o PT.

Para fazer uma analogia bem atual, o PT é covid-19 para as elites econômicas, que tomaram cloroquina, e Bolsonaro é efeito colateral da droga.

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