O nome disso é chantagem! Por Dante Lucchesi |
Sáb, 13 de Junho de 2020 16:31 |
Quando a Polícia Federal (PF) atuou partidariamente, em conluio com a Lava Jato, para desestabilizar o governo de Dilma Rousseff, nem esta nem o PT intervieram na PF. Quando o TCU criou a farsa das pedaladas
fiscais, e o Congresso disso se aproveitou para dar um golpe e derrubar um governo democraticamente eleito, Dilma e o PT aceitaram o veredicto das instituições da República, não obstante esse veredicto fosse claramente injusto e farsesco.
Bolsonaro já interveio na PF para impedir a investigação dos crimes de sua família e amigos, defenestrando o oportunista Sérgio Moro do seu governo, para conseguir esse intento. E ontem, com mais dois generais de seu governo, faz uma clara ameaça de golpe militar, afirmando que não aceitará qualquer deliberação das instituições da República que contrarie seus interesses, ou ameace o seu poder. Mas, o Estadão disse em editorial, às vésperas da eleição de 2018, que a escolha entre Haddad e Bolsonaro era "uma escolha difícil", FHC anulou seu voto, e Ciro Gomes foi tirar umas férias em Paris... Para eles, a democracia e o estado de direito não são um valor que está acima de todos os demais, senão não teriam contribuído direta ou indiretamente para a eleição de um candidato que nunca escondeu o que era: que defendia a ditadura e o assassinato de 30 mil opositores e que homenageou um torturador monstruoso, em seu voto na sessão do impeachment da Câmara dos Deputados, fazendo apologia de um crime hediondo impunemente. Para eles, aumentar a concentração da renda, ampliar a margem de lucro do capital e espoliar os direitos dos trabalhadores são os princípios que estão acima de todos os outros, inclusive da democracia. Não fosse isso, não teriam apoiado implicitamente, ou mesmo explicitamente (como o desprezível Luciano Huck), a eleição de um miliciano fascista, em detrimento de um professor universitário, porque este último representava um projeto de distribuição de renda e de ampliação dos direitos sociais. Sim, Huck, o Estadão, FHC e Ciro Gomes escolheram Barrabás, ou lavaram as mãos, como Pôncio Pilatos. Quem levou Bolsonaro ao poder foi um judiciário corrompido, reacionário e partidarizado, foi uma mídia oportunista e golpista, foi o grande capital que coloca seus lucros acima de tudo e os segmentos da classe política que são fisiológicos e/ou oportunistas. Não só elegeram Bolsonaro, como também um sem número de outras aberrações fascistas que coalham hoje o Congresso Nacional, a maioria inclusive com patente (subtenente, major, delgado, general, juiz etc.). E empoderaram gente reacionária, racista e preconceituosa, como aquele velho repugnante que derrubou as cruzes da manifestação em Copacabana. E hoje Bolsonaro e seus generais entreguistas, incompetentes e golpistas chantageiam a nação, acenando com um autogolpe militar. Há poucos dias um general de Bolsonaro declarou: "não vai ter golpe", mas advertiu a oposição para "não esticar a corda". Ontem (12/06), Bolsonaro e outros dois generais responderam a uma liminar do STF que nega o poder de intervenção das forças armadas contra qualquer poder da República, em uma nota, afirmando "As FFAA [Forças Armadas do Brasil] não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de poder. Também não aceitam tentativas de tomada de poder por outro Poder da República, ao arrepio das leis, ou por conta de julgamentos políticos". Os alvos são claros: o julgamento pelo TSE de crimes eleitorais que podem cassar a chapa Bolsonaro-Mourão, os processos de crimes de Bolsonaro e seus filhos que correm no STF e a possibilidade de um processo de impeachment no Congresso Nacional. Isso tem um nome claro: é chantagem! O que Bolsonaro e seus generais golpistas estão dizendo é cristalino: Não se pode investigar os crimes de corrupção, comuns ou de responsabilidade de Bolsonaro, filhos e apaniguados. Não se pode julgar os crimes eleitorais que levaram à vitória da chapa Bolsonaro Mourão. O Congresso Nacional não pode desencadear um processo de impeachment contra Bolsonaro, mesmo diante de todos os crimes de responsabilidade e comuns por ele cometidos. Se fizerem isso, o golpe acontece. O país está refém de um miliciano fascista e meia dúzia de generais entreguistas, oportunistas e golpistas, que não querem perder as benesses que Bolsonaro concede à tropa. E Bolsonaro socio pata não recua. Ao contrário, avança. O seu último descalabro foi incitar suas hordas de fascistas a invadirem e vandalizarem hospitais, no auge da maior crise sanitária que o país está vivendo nos últimos cem anos. Mas boa parte das elites econômicas do país não se incomoda com o absurdo e o desatino do governo Bolsonaro. Não se incomoda com a política genocida diante de uma pandemia global; nem com a devastação da Amazônia; nem com o ataque sistemático à educação, à cultura e à ciência; nem com o extermínio dos povos indígenas e o genocídio dos jovens negros das periferias; e nem com a desmoralização do país, que está se tornando um pária no cenário internacional. Só o que lhes agrada, só o que lhes acalenta o espírito é a política antipobre o ministro da economia a de Bolsonaro, Paulo Guedes, cinicamente em favor do grande capital, das multinacionais e da especulação financeira, em detrimento de todo o país. E o PSDB, partido da direita que melhor expressa os interesses do grande capital há mais de vinte anos, acabou de se posicionar oficialmente contra o impeachment de Bolsonaro, um posicionamento que se coaduna perfeitamente à canalhice de sua figura de maior expressão: FHC. Não sei o que essa elite fará quando as milícias bolsonaristas voltarem a atentar contra a vida de oposicionistas, como já o fizeram com o assassinato de Marielle Franco? Ou quando Bolsonaro invocar qualquer pretexto para dar o golpe militar que tanto anuncia e proclama? Será que a elite econômica do Brasil (a elite do atraso, como bem definiu o sociólogo Jesse Souza) vai repetir o erro histórico de apoiar uma ditadura militar corrupta e sanguinária, financiando grupos terroristas, como a Oban? Ou será que finalmente se oporá a Bolsonaro? E não será tarde demais? Ou já não é? |
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