É Moro o Biden à brasileira? Por Wilson Gomes |
Qua, 11 de Novembro de 2020 03:56 |
O jornalismo brasileiro acordou da ressaca da eleição americana sonhando com um Joe Biden à brasileira para nos livrar do encosto do bolsonarismo em 2022. E como nas nossas redações quem fica refletindo é poste, começaram já na segunda-feira a temporada de buscas do "candidato de centro", o Biden.br. Luciano Huck, esperto como ele só, já levantou o braço e pediu para ser escalado.
Sérgio Moro, relegado recentemente ao estágio de subcelebridade, sabe que ou consegue umas manchetes e umas sonoras agora ou será apenas ex-famoso de Vídeo Show. Também se vestiu de presidenciável, bidenável e um sujeito do centro.
A esquerda, claro, entrou em ebulição e começou a praticar um dos seus esportes prediletos: usar o rótulo "direita" como insulto e "extrema-direita" simplesmente como um grau do mesmo xingamento. Não são conceitos a que se pode dar um significado político bastante preciso, são vitupérios, a ser empregados para desclassificar Huck (direita!) e Moro (extrema-direita!).
Claro, ficou fácil de bater. Moro não é um extremista de direita. E tanto Vera Magalhães quando Joel Pinheiro denunciaram facilmente a denúncia: "O ódio visceral contra ele de parte da esquerda e do centrão não tem nada a ver com isso [ser de extrema-direita]: é pelo combate à corrupção".
A esquerda faz esquerdices, mas se resolvesse argumentar bastaria elencar boas razões por que Moro não se qualifica. No meu caso pessoal, eu não desgosto de Moro por ser ele contra a corrupção; eu desprezo Moro por ele ter corrompido a Justiça para a satisfação de seus apetites e convicções e de sua agenda de justiceiro. Moro corrompeu a operação Lava-Jato. Sou contra Moro por ser contra a corrupção.
Por outro lado, o jornalismo "Moro-Lover" precisa se de dar conta de que Moro não serve para ser o Biden.br de 2022. A função-Biden é a de um sujeito que diminua a tensão e a polarização e o fato é que não há ninguém hoje, depois de Bolsonaro, que tensione e polarize mais o campo político brasileiro do que Moro. A função-Biden é a de um sujeito capaz de garantir um tempo "to heal in Brazil", para fechar e curar os ferimentos da polarização, do ódio. Moro é parte do problema. Usar Moro para fechar feridas seria como usar gasolina para apagar incêndio. Moro é parte do que, junto com Bolsonaro, precisa ser deixado para trás. Enquanto vocês não entenderem isso, nós vamos arrastar correntes.
Wilson Gomes é professor da Facom/UFBa
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