A campanha presidencial que apresentou o capitão Jair Messias Bolsonaro ao posto de presidente da República possuía elementos de uma comédia bufa. Um candidato inexpressivo, sem um currículo capaz de avalizar a importância do cargo pretendido pelo militar.
Certos casos em que a vida contradiz a arte, e deu-se uma guinada vertiginosa no texto, sendo o riso substituído pela carga de uma tragédia. Forças poderosas moveram-se em direção ao favorecimento de interesses corporativistas e da manipulação do poder. O antes candidato bufão viu-se coroado rei, digo, eleito presidente. Estava configurado o início de uma série de conflitos existenciais e as dúvidas que aflingem qualquer soberano:
" O que eu sou? O que estou fazendo aqui? Que rei sou eu ? "
O currículo de Bolsonaro apresenta uma efêmera e conturbada carreira militar até o capitão paraquedista saltar para carreira política e eleger-se vereador pelo Rio Janeiro, em 1988. Mais um outro salto, dessa vez mais ousado e consegue eleger-se deputado federal. O político ambicioso, narcisista, misógino, homofóbico e nostálgico da ditadura sempre teve seus votos originários dos setores militares e ao longo da polêmica carreira tratou de defender seus interesses e criar uma dinastia política familiar. A coordenação política da campanha de Bolsonaro contou com a assessoria de generais, e hoje, os representantes das Forças ocupam cargos estratégicos no governo. O braço militar envolveu o Executivo. A ligação entre Bolsonaro e as milícias é ideológica e a base eleitoral do capitão está sedimentada entre milicianos, policiais militares, civis conservadores e suas famílias. O braço miliciano extendeu-se até o Legislativo, sendo complementado pela bancada do BBB ( Boi, Bala e Bíblia ). O discurso de campanha amparado na segurança e combate à violência encontrou respostas em segmentos reacionários da sociedade, e nesse estrato está o poder delegado a Bolsonaro. A tropa do capitão Messias, também procura ocupar os campos do Judiciário, onde encontrou aliados fortes que favoreceram a ocupação do poder. Hoje não se dando por satisfeitos, querem a tomada total do controle das leis. A Constituição foi esquecida e jogada por debaixo do tapete. O decreto presidencial que flexibiliza os impostos sobre importação de armas e faculta ao cidadão comum o direito à posse de 6 armas leves e aos atiradores de elite e caçadores adquirir até 60 tipos de armamentos de grosso calibre, revela qual a senha dos objetivos de Bolsonaro : um golpe amparado nas forças paramilitares.
Enquanto a audiência discute qual brother negro ou negra vai ser o eliminado da vez ; ou a verdade sobre a virgindade de MC Maylon, o capitão Bolsonaro vai armando seu exército particular.
Nesse caso, o paredão vai ser bem diferente do que se vê na Rede Globo.
Caiu o pano ! |