Ppr que deu tilt na Brazilian Spring? por Wilson Gomes |
Qua, 26 de Junho de 2013 22:35 |
Havia uma combinação muito delicada de elementos. Cada um com suas premissas, seus sonhos, seus propósitos que parecem convergentes apenas num nível muito abstrato. E o nível mais abstrato que podia ser alcançado era a ideia de “mal-estar com o status quo político”. O problema é que nessa canoa pode entrar muita coisa, mas continua sendo uma canoa, portanto, há limites na composição. Enquanto os ativistas de movimento (MPL) e outros conseguiram dar algum eixo e coordenação, a coisa mais ou menos segurou. Lembro dos líderes do MPL dizendo que a razão das manifestações era a sua agenda particular: revogação dos aumentos. Mas é óbvio que isso não comportava os sonhos, medos e esperanças dos debutantes de guache e cartolina. É um grupo que foi sempre fustigado pelo mantra de ser uma geração de alienados, acomodados e politicamente pacíficos, além de pressionados pelos modelos de gerações que com eles convivem e que, cheios de autocomplacência, desfilam o seu heroísmo na luta contra a ditadura (os tiozinhos de passeata, alternativos e hippies velhos) e no “Fora Collor” (os caras-pintadas). Além disso, semana sim semana também, os telejornais trazem exemplos e narrativas de grandes manifestações “para mudar as coisas” protagonizadas por jovens mundo afora: países do Norte da África, países da crise Europeia (Grécia, Espanha, Portugal), o Occupy americano, estudantes do Chile, convulsões de rua em Londres e Paris e, por último, os protestos de rua de Istambul. Para os nossos garotos, portanto, não pode ser por 20 centavos, tem que ser para transformar o mundo, para comprovar que o povo pode tomar o poder de volta, para mudar o Brasil, para dar um cavalo de pau na realidade política. Em política, as ideias não precisam ter realismo, basta que cheguem com força aos corações e mente. Os neocaras-pintadas trouxeram o colorido, o espírito e toda a estima social (com doses gigantescas de condescendência e/ou de romantismo político) que tornam mobilizações de massa na coisa peculiar que são. Mas, aí: 1) os ativistas de S.Paulo conseguiram a sua reivindicação e ficam sem o foco concreto – perde-se em cimento político; 2) os manifestantes fanfarrões, valentões, quebra-tudo continuam o seu modelo: ser “protesters” é para fracos, querem ser “rioters”, e tacaram o terror – perde-se em estima social; 3) os militantes de partidos de esquerda acharam que a festa também era deles e resolveram desfraldar as bandeiras, para descobrir amargamente que a revolução não era contra certas políticas, mas contra a política (contra o institucional) – perde-se parte da esquerda; 4) a new right põe as asinhas de fora e deixa claro que, naturalmente, não queria petralhas e esquerdopatas na “sua” grande festa cívica – perde-se outra parte da esquerda; 5) os petistas dão-se conta de que as manifestações estão produzindo uma rápida erosão da popularidade dos seus governos e que só tinha a perder com isso – saem os petistas que entraram de gaiatos. Resultado? Os ativistas de movimento tiraram o time, mais ou menos claramente. Os tiozinhos de passeata não iam querer mesmo se confundir com os “golpistas de direita” e hesitaram. A militância de esquerda - tanto os da cena quanto os da arquibancada - começaram a ter uma enorme de crise de fé na mobilização popular. Até em golpe de direita se começou a falar aqui no Facebook. Os debutantes foram ficando sozinhos nas festas entre, de um lado, os ostrogodos e visigodos que se dividiam entre fazer batalhas campais com a polícia, depredar prédios públicos e saquear lojas e, do outro lado, a nova direita que, enfim, encontrou uma mobilização para chamar de sua. Diminuindo a estima social e a pegada política de esquerda, preferiram voltar para a sua zona de conforto. Foi assim que a festa começou a acabar. Simples assim. |
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