Salvador, 20 de April de 2024
Acesse aqui:                
Banner
facebookorkuttwitteremail
Entre o cristal e a fumaça por João Carlos Salles
Ajustar fonte Aumentar Smaller Font
Seg, 15 de Setembro de 2014 17:56

Joao_Carlos_SallesDiscurso de posse como Reitor da Universidade Federal da Bahia

 

1. Começo, antes de tudo, homenageando nossa Reitora, a Profa. Dra. Dora Leal Rosa, e seu legado pessoal. A UFBA certamente está e segue grata, Dora, a toda sua dedicação institucional, e sabemos bem terem sido sua elegância e seu caráter pontos de equilíbrio decisivos à gestão que se encerra.

Toda gestão guarda uma dimensão terrena, suporta uma rotina. Deve estar atenta, como diria Drummond, às flores de horta, às tábuas do forro, ao púlpito seco. Não deve perder, contudo, sua dimensão transcendente, em se tratando de uma Universidade. E, tal como tive a fortuna de presenciar no conselho universitário e como pude flagrar em sua atitude como Reitora (atitude difícil de emular e de suceder), seu zelo institucional plasmou-se em medida elevada, de sorte que, em sua prática, guardou-se um conjunto essencial de valores e, assim, testemunhamos, em vários momentos, em meio à tensão característica do reino da necessidade, “De seu peso terrestre a nave libertada, / como do tempo atroz imunes nossas almas” (Carlos Drummond de Andrade). 
Nossa gratidão, portanto, Dora Leal Rosa.

2. Uma pergunta parece natural. O que é a UFBA? Talvez devamos mesmo começar por essa primeira formulação, a mais natural, embora antecipemos não estar satisfeitos com ela, quer por lhe faltar uma modalização adequada, quer por ser ela desprovida, em sua aparente inocência, da necessária radicalidade.

A primeira recusa à pergunta é um tanto óbvia. Não podemos responder bem o que a UFBA seja, sem lhe antecipar o que desejamos que seja, nosso projeto de uma universidade autêntica. Como resposta inicial, mas matizada por esse viés, podemos retomar o que dissemos deste mesmo lugar, há cinco anos, em nosso discurso de posse na diretoria da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

“Uma Universidade autêntica nunca se resume a uma instituição de ensino, nem é sua marca própria a mera prestação de serviços. Uma Universidade pode formar pessoas e ter um ensino de qualidade exatamente pelas pesquisas que desenvolve e pela relação singular e orgânica que estabelece com a comunidade. Assim, como instituição pública, democrática e gratuita de ensino superior, a Universidade se caracteriza por produzir conhecimento, mantendo uma necessária relação com a sociedade em que se insere, de sorte que tal laço indissolúvel entre ensino, pesquisa e extensão deve ser bem mais que uma simples bandeira. Tal laço nos define. Desse modo, dada sua natureza, seu compromisso com a produção de conhecimentos e sua interação com a sociedade, a Universidade torna-se lugar natural de concorrência entre saberes e também de crítica e de reflexão, sendo forte e necessária sua resistência ao que porventura possa ameaçar seu espírito crítico – espírito mediante o qual ela pode distinguir, por exemplo, os interesses de longo prazo da sociedade dos interesses imediatistas do mercado.”

A UFBA não deve ser, portanto, apenas uma instituição de ensino, com o que não deixa de ter na graduação o centro de gravidade em relação ao qual se definem seus movimentos, mas que, se tomada como dimensão isolada, a condenaria à mera reprodução e à perda de autonomia, vez que incapaz de sopesar e bem traduzir saberes produzidos alhures. Não é decerto uma empresa e deve combater o mero produtivismo, o que tampouco nos desobriga de intenso trabalho e dedicação. Não é uma repartição pública qualquer, nem deve subordinar-se a projetos de governo que acaso lhe traiam a natureza, mas não está imune por isso a legislações que, muita vez, lhe comprometem a própria autonomia acadêmica. Não é um partido, nem deve subordinar-se a qualquer partido, mas isso antes lhe confere a possibilidade de exercício da reflexão mais fina e de luta política mais intensa. Não é nem se filia a uma igreja ou religião, mas sua laicidade lhe permite e mesmo a obriga ao mais decidido combate a qualquer forma de intolerância religiosa, como de resto lhe cabe o combate a toda manifestação de autoritarismo, a toda forma de discriminação.

Por esse viés de reação, por esse conjunto de negações, articulávamos em nosso discurso autonomia e capacidade de produção de conhecimentos, perspectiva crítica e independência em relação ao mercado, a partidos e governos. Com isso, a resposta sobre o ser da UFBA envolvia e envolve uma modalização, tanto mais profunda quanto mais radical. Entendemos aqui ‘modalização’ como uma marca imposta a um enunciado, expressando então uma posição sobre o conteúdo que se enuncia. Por exemplo, a frase pessoana “Minha pátria é minha língua” registra com felicidade um fato, suavemente desejável, mas encontra-se nua, quase desprovida de força modal. Ao contrário, dado o contexto argumentativo, tudo muda com a força modal de necessidade na semelhante afirmação wittgensteiniana, pela qual então sempre e necessariamente: “os limites da linguagem (a linguagem que, só ela, eu entendo) significam os limites de meu mundo”.

As descrições sobre a UFBA, acreditamos, devem ser compreendidas com força modal. Não a dizemos bem, sem acrescentar-lhe a mediação do futuro ou a condição de um permanente projeto. Em campanha, por isso mesmo, tensionamos logo o real e o ideal, desenhando a UFBA que queremos, ou seja, uma Universidade capaz de, com o melhor de sua competência, continuar liderando em nosso Estado as principais iniciativas de educação superior e de corresponder, com protagonismo, aos desafios postos por nossa sociedade. E, com o sabor de projeto, mediante esse compromisso, convidamos os que acaso desejassem se unir nessa jornada ao desafio do embaralhar de conceitos que precisam sim se mover com pressa e paciência; convidamos (convite que, é claro, não se encerra) ao bom barulho da diversidade cultural e da tolerância epistemológica, pelo qual podemos e queremos associar excelência acadêmica e compromisso social da Universidade.

3. O texto de nosso compromisso avançava um projeto de qualidade e excelência, bem como um método democrático, coletivo e argumentado de deliberação. Nesse sentido, a resposta é boa, mas ainda genérica. Parece, afinal, que não dizemos exatamente o que é nossa Universidade, quando apenas dizemos a UFBA que queremos. Mas, então, o que é ou deve ser a UFBA?

Em recente palestra na Academia de Ciências da Bahia, atendendo a convite de Dr. Roberto Santos, pude rememorar uma resposta bastante sagaz e premonitória que o próprio Dr. Roberto dera, como deputado federal, há dezoito anos, ao proferir discurso em comemoração aos cinquenta anos da UFBA. Está presente em seu discurso, por exemplo, como descritivo da UFBA, a tensão entre o modelo de uma Universidade e a permanência de uma estrutura de escolas isoladas, tensão que, de resto, continua, em muitos aspectos, nem todos benfazejos. Também presente a preocupação com a expansão, definida justamente como uma prioridade, de sorte que, afirmava, para atender aos interesses de nosso povo, teria “de crescer em ritmo bem mais rápido a proporção dos baianos que cumprem os requisitos para o acesso aos cursos de nível superior” e, é claro, as vagas disponíveis, acrescentando que o reduzido número de então colocava a Bahia “em situação desconfortável, mesmo dentro do Nordeste brasileiro”.

Insistia, ainda, que um modelo de Universidade é projeto que sempre se realiza em situação concreta, não podendo deixar de corresponder às exigências específicas da sociedade, em particular, a baiana, de sorte que, afirma, “a pesquisa técnico-científica, a merecer preferência, deverá resultar em contribuição relevante para a melhoria da qualidade de vida e [em sua formulação] em uma mais justa distribuição da renda regional”. Enfim, enfatizava a importância da investigação científica e da formação de pesquisadores. Com isso, faria uma aposta, ainda hoje decisiva e que reiteramos, em qual deve ser o destino da UFBA, seu lugar no cenário do ensino superior, tendo em conta a ameaça (que ainda paira no ar) de que “venha a ocorrer um distanciamento cada vez maior entre as universidades que abrigam projetos relevantes de pesquisa técnico-científica e as instituições isoladas, em geral voltadas tão-somente para a formação profissional”.

Ainda marcados por tais tensões, mesmo se as formulemos em outros termos e lhe complementemos a ênfase na formação e na pesquisa contemplando as humanidades, em que contexto podemos trabalhar, agora que nos aproximamos da comemoração dos nossos 70 anos?

Ora, estamos diante de uma significativa expansão do ensino superior, expansão que perfaz uma tarefa histórica de nossa geração e das gerações vindouras, mas que tampouco se faz sem dificuldades ou com os recursos realmente necessários, devendo estas dificuldades ser enfrentadas em cooperação (e não em competição) com as demais instituições de ensino superior do estado. Temos ademais uma significativa interiorização do ensino superior federal em nosso estado, deveras importante e estratégica, mas que ora tensiona a administração da UFBA, ampliando os gastos em custeio em proporção superior aos recursos disponíveis, além de cooperar pouco com a rede estadual de ensino superior.

Vivemos também o decisivo e benfazejo (e desafiador) impacto de 10 anos de ações afirmativas, que nos cabe aprofundar, garantindo, para além do acesso, uma verdadeira inclusão. Nesse sentido, importa inclusive combater, dentro da própria Universidade, todas as manifestações de autoritarismo, toda forma de discriminação, para o que, por sinal, damos em nossa gestão um passo significativo com a efetiva implantação da Ouvidoria da UFBA.

Encontramos também na UFBA, como correlata à expansão de vagas, uma significativa ampliação do espaço físico. Entretanto, esse conjunto de obras, algumas hoje paradas, não se promoveu com a garantia prévia de uma estrutura adequada para o planejamento, realização de projetos, acompanhamento e execução, além de padecermos do jogo pesado e inóspito das licitações, em relação às quais, bem como em relação a outros procedimentos, é digna de nota a ação ambígua dos novos mecanismos de controle, nem sempre efetivamente a serviço da causa pública que, em tese, formalmente, pretendem defender. Também a expansão bem denuncia uma fragilidade importante em nossos sistemas de TI, pouco integrados e despreparados para a nova dimensão da Universidade, a exemplo das dificuldades relativas ao sistema acadêmico, mas também da falta de integração entre sistemas diversos e ainda da demora na implantação de sistemas de gestão, como o SIPAC.

Importa ainda registrar, como traços adicionais desse contexto, um recuo na UFBA em relação ao originário e profundo investimento nas artes (outrora um traço distintivo, uma marca da vocação de nossa Universidade). Além disso, em nossa cultura acadêmica, é possível identificar uma resistência à avaliação nem sempre salutar, resistência que, por vezes, se trasveste em seu oposto também provinciano, a saber, em uma aplicação burocrática de regras, que as torna ainda mais rigorosas que as das agências de fomento e, de resto, bem menos sensatas. E também como traço de nossa cultura acadêmica, parece faltar-nos o tempo próprio da reflexão, de modo que, após demorada indefinição, procedimentos novos podem ser introduzidos de modo abrupto, sem o devido aprofundamento, tornando-se a garantia de debate democrático pouco mais que uma formalidade. Isso pode levar a distorções, como as que fazem opor formação disciplinar e interdisciplinaridade, quando deveriam essas dimensões alimentar-se reciprocamente, de modo que o trabalho disciplinar não gere tão somente frutos previsíveis, nem falte ao trabalho interdisciplinar a desejável profundidade, quando ele não se dá por mero ajuntamento de disciplinas e se tece por interrogações capazes de ultrapassar as divisões burocráticas dos saberes, traçando pontes e produzindo resultados relevantes, para além de simples retórica.

Esses são alguns dos traços e tópicos de nosso atual contexto. Há desafios efetivos, alguns teóricos, como o de nunca perder de vista a centralidade da tarefa de produção do conhecimento, compreendendo todavia que ela se dá em condições concretas, nas quais, entre outros casos, cumpre associar o desafio da internacionalização à ampliação e melhoria da assistência estudantil. Cabe-nos afinal, dada a complexidade da vida universitária, tanto aprofundar ações afirmativas, quanto favorecer a implantação de novos INCTs, tanto fortalecer nossas licenciaturas, quanto consolidar grupos de pesquisa. Observo: consolidar os grupos, e não expurgá-los, diminuí-los ou domesticá-los, pois que a gestão tem mais e muito que aprender com o modo efetivo por que, entre nós, nas diversas áreas e segundo padrões distintos, se realizam a pesquisa e o ensino de qualidade.

Outros desafios são deveras materiais e objetivos, a começar pela situação das obras e pelo déficit de custeio, desafios a serem enfrentados pela nova gestão, o que esperamos fazer com criatividade, austeridade e muita luta, sem renunciar às garantias de segurança da nossa comunidade ou de investimento em nossas instalações, sem recuar em nossa política de assistência e nas ações afirmativas, nem nos investimentos que visam à qualificação de nossos trabalhadores, e também sem comprometer a qualidade de ensino, pesquisa e extensão.

4. Não é mais fácil, mas sim bem mais preciso dizer a UFBA por seu vir a ser, por seus projetos, modalizando a descrição pelo contraponto do negativo, o presente pela expectativa do futuro, a realidade pela indeterminação da utopia.

Não cabe perguntar simplesmente o que seja, pois a UFBA não é coisa, a ser descrita por um feixe de propriedades, a cujo arranjo adequado repugnaria qualquer contradição. Não é assim objeto, cuja verdade possa ser estabelecida, mas sim um sujeito, ou melhor, uma multiplicidade de sujeitos, cujo projeto comum, cujo sentido deve ser interrogado. A pergunta mais radical não se volta ao que é a UFBA, mas sim a quem somos nós, esses que têm na UFBA não um mero emprego, mas aqui encontram o lugar de sua vocação. Quem somos esses que devem determinar seu sentido, porque não nos utilizamos simplesmente de suas instalações, de seus recursos, não privatizamos seu espaço físico nem esvaziamos seu espaço público e político, mas antes a servimos, pois que fazemos identificar nossos interesses com seu interesse maior de produção de conhecimento e de emancipação social?

Na pergunta adequada “Quem é a UFBA?”, quem quer que pergunte já se coloca implicado pela pergunta, e tudo muda. Como aprendemos com certa linhagem filosófica, somos um “tu” antes de sermos um “eu”, e somos mesmo um “nós”, não havendo afinal um eu primordial, um que se defina sem contexto e sem a mediação do outro. Nesse sentido, a UFBA é um lugar privilegiado de mediação. Não sendo coisa, cujos predicados complementares se anulariam, o sujeito UFBA pode ser o lugar da imprevisibilidade, da criatividade, da diversidade, da transformação. Sua unidade não se resolve por decreto, sendo infensa à separação entre gestão e política, entre deliberação e democracia. Nada lhe feriria mais a natureza que um gestor tecnocrata, um planejador infenso à sua imprevisibilidade constitutiva, que é própria de sociabilidades voltadas ao conhecimento e ao diálogo.

Certamente, abriga alguns que nela veem pouco mais que um emprego ou um serviço, alguns que, contra sua natureza pública, a privatizam ou amesquinham. Essa, porém, não é sua verdade. E, se a olhamos de dentro, não com o olhar de um eventual consumidor, mas com o olhar de cidadãos, a UFBA tem aura. É vida. Não tem a organização e a fixidez dos cristais, nem é volátil como a fumaça. Entre o cristal e a fumaça, é organismo e mais que organismo, é espírito. Essa sua imprevisibilidade constitutiva deve inclusive lembrar-nos que, se falsa a noção cartesiana de que podemos pensar sem preconceitos, é necessário contemplar em nosso trabalho conceitual os preconceitos alheios, ou não travamos autêntico debate. Assim, essa negatividade, essa duração, pode então também ser positiva, se aceitarmos nosso destino de produzir conhecimento e inovação, e com isso de não termos a forma ou a forma pronta, sendo benfazeja a produção de sementes de coisas serem outras.

Há uns eclipses, há; e há outros casos:
de sementes de coisas serem outras,
rochedos esvoaçados por acasos
e acasos serem tudo, coisas todas.
(Jorge de Lima)

Não sendo coisa, define-se por seu projeto, por seu futuro, inclusive pelos predicados que não tem, como se fora um cão sem plumas. Não sendo coisa, sendo antes sujeito, não se lhe aplicam bem as regras tradicionais da predicação, como se fora objeto a desdobrar ou trazer à luz uma essência fixa antes esconsa. Como um sujeito, portanto, é antes de tudo um nós, que não tem um centro imperial, mas que todavia, a todo instante, por diversas formas, precisa aprender a vocalizar-se, a representar-se, a refletir, como o faremos com o Congresso da UFBA, que não é um fim em si, mas sobretudo um meio a mais para afirmar a UFBA como lugar de reflexão, como espaço por que se reforça sua autonomia segundo os instrumentos mais finos de sua capacidade científica de análise e os procedimentos mais democráticos de constante deliberação. Com isso, começando a concluir, não respondemos mais o que é a UFBA, mas sim quem é a UFBA, e como ela mesma se desafia inteira em quanto nela se pode enunciar.

5. A UFBA, porque sujeito, porque espírito, porque espaço coletivo, é um lugar que alimenta e dá sentido a aforismos. Em minha opinião, nossa caminhada se cristalizou em um aforismo, macerado ao longo da campanha, pela ação e reação de todas as falas, e enunciado neste salão, no último debate, como “um sol saído de uma azul casca de ovo”.

Lembro aqui, com Barthes, que um aforismo se assemelha a uma máxima, sendo ainda mais seco e duro, mas capaz de explodir com uma simples gota d’água: “A máxima é um objeto duro, luzidio – e frágil – como a carapaça de um inseto; e como o inseto, possui também um ferrão, esse colchete de palavras aguçadas que a encerram, a coroam – e a fecham, armando-a (ela é armada por ser fechada)”. A máxima pode apresentar várias formas. Em uma comparação, por exemplo: “O sábio procura a sabedoria, o tolo já a encontrou”. Pode aparecer em perguntas e até em admoestações. Nesse sentido, o aforismo é ainda mais duro e luzidio, comportando uma modalização ainda mais funda, pois eivada de desafio e necessidade, como na frase de Wittgenstein: “Sentimos que, mesmo que todas as questões científicas possíveis tenham obtido resposta, nossos problemas de vida não terão sido sequer tocados. É certo que não restará, nesse caso, mais nenhuma questão: e a resposta é precisamente essa.”

O aforismo parece convidar-nos a uma interioridade pela qual o pensamos de dentro, como se fora nosso e nele estivéssemos por inteiro. O aforismo está assim entre a sentença e o discurso, como se pudesse dispensar qualquer justificação e, todavia, se lançasse inteiramente à sua busca. O aforismo, então, pensamento compacto, é como uma ruína, que deixa adivinhar as partes roubadas pelo tempo. Uma premissa a sugerir uma conclusão, ou uma conclusão que nos desafia a apresentar as premissas pertinentes. O aforismo, completo e incompleto, é assim desafio. Não apenas a quem com ele nos dirigimos, mas sobretudo a quem porventura o profere. Esse, o ponto a ser destacado.

Nossa campanha, parece, encerra-se toda na carapaça de um aforismo. Secretado pelo tempo, pela maturação coletiva, pela pressão de bons argumentos ou de aleivosias. Surgiu, explodiu, derramou-se neste salão, sintetizando uma fala que, acredito, mesmo tendo sido proferida por mim, ultrapassou qualquer campanha parcial e passa a desafiar a UFBA inteira: “Somente reacionários acreditam que excelência e requinte sejam prerrogativas das elites”.

Esse aforismo nos retirou do tempo. Ressoou como ponto de partida ou como ponto de chegada. Pouco importa. Se o pronunciamos, porém, se o abraçamos, se chegamos aqui por estarmos preparados para o enunciar, não deixamos de estar implicados em sua enunciação, e seu sentido ecoará em nossa gestão, a cada dia, como um grande desafio. Com ele, a UFBA assim se afirmou. Entre o cristal e a fumaça, sendo tradicional, não é, não quer ser, não deve ser reacionária.

Como a lembrar suas propriedades mágicas, chegamos aqui lembrando à UFBA seus nomes mais secretos. Dissemos, Paulo Miguez e eu, em diversos momentos, contra todas as resistências, Universidade pública, gratuita, de qualidade, popular, autônoma e socialmente referenciada. Paulo Miguez e eu, juntamente com todos de nossa campanha e, confiamos plenamente, neste momento de transmissão do cargo, com a UFBA inteira, todos nós somos desafiados, somos conclamados a aproximar, contra todos e mesmo nossos preconceitos, excelência acadêmica e compromisso social. Repetiremos sempre, em nossos conselhos, em nossos fóruns diversos, em nossos eventos, em nossas salas, os nomes secretos da UFBA, pois, em seu caso, como um sujeito, seu nome secreto é seu nome público. E seus mistérios mais íntimos estão espalhados por toda sua superfície.

Escolhemos, pois, pronunciar seu nome. Façamos juntos então nossa Universidade, democraticamente, em construção coletiva, com pedras e sonhos, palavras e aforismos.

Viva a Universidade Federal da Bahia!

João Carlos Salles é reitor da UFBa.

Compartilhe:

Última atualização em Seg, 15 de Setembro de 2014 18:45
 

FOTOS DOS ÚLTIMOS EVENTOS

  • mariofoto1_MSF20240207-145Lavagem Funceb. 08.02.24. Alb 2. Foto: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240207-071Lavagem Funceb. 08.02.24. Alb 1. Foto: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-059Fuzuê Alb 1. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-119Fuzuê Alb 2. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-287Fuzuê Alb 3. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240203-384Fuzuê Alb 4. 03.02.2024. Fotos: Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-0840Beleza Negra do ilê. Alb 1. 13.01.24 By Mario Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-1230Beleza Negra do ilê. Alb 2. 13.01.24. By Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-1450Beleza Negra do Ilê. Alb 3. 13.01.24 By Mário Sérgio
  • mariofoto1_MSF20240112-1577Beleza Negra do Ilê. Alb 4. 13.01.24 By Mário Sérgio

Parabéns Aniversariantes do Dia

loader
publicidade

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS

HUMOR

  • Impeachement_1
  • Categoria: Charges
Mais charges...

ENQUETE 1

Qual é o melhor dia para sair a noite?