A exposição ‘Mestres da Capoeira – Em Busca da Oralidade Perdida’ que está em cartaz na Galeria do Centro Cultural Solar Ferrão (Pelourinho) foi prorrogada para o dia 05/03 (domingo). O projeto reúne relatos de nove dos mais importantes Mestres de Capoeira baianos, que resultaram em uma exposição interativa de registro das histórias e experiências vividas por eles e que vinha sendo transmitida pela oralidade e, portanto, com grande risco de perda.

Todos os mestres foram entrevistados pessoalmente e, destes encontros, foram feitos vídeos, textos, fotos e reprodução de objetos pessoais relevantes para a narrativa de suas histórias. A mostra é composta ainda por registros de jornais e materiais de época, além de outros elementos coletados em que apresentam ao público esta perspectiva da história, por ora, restrita aos mestres que viveram as experiências.

De acordo com Lila Lopes, idealizadora e coordenadora do projeto, a mostra nasce da necessidade de eternizar conhecimentos fundamentais da história do povo brasileiro, que são as histórias guardadas nas memórias dos mestres da Capoeira, senhores desse misto de dança, música, luta, modalidade esportiva, filosofia de vida, componente fundamental na formação cultural e identitária nacional.

“Com o foco no resgate e perpetuação deste patrimônio imaterial, a exposição apresenta a história da Capoeira através do conhecimento de seus Mestres, passado de geração a geração, guardando e eternizando seus dizeres, sua música, sua dança e todas as peculiaridades desta arte plena que é a Capoeira. O projeto cria e pereniza registros históricos de relevância não só para os praticantes e apreciadores desta arte, mas também, para todos aqueles que se interessam, genuinamente, pela perspectiva histórica e de formação de nosso povo e cultura. Um triste fato reforçou ainda mais a motivação inicial dos idealizadores do projeto: o falecimento de Mestre Gigante, em maio deste ano, durante a primeira fase da exposição, no Forte da Capoeira”, explica Lopes.

O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

Nesta etapa do projeto, foram homenageados os seguintes mestres:

•     MESTRE GIGANTE (FRANCISCO DE ASSIS): Mestre Gigante, também conhecido como Bigodinho, é o mais antigo Capoeira em atividade. Nascido em 1922, em Santo Amaro da Purificação, é um patrimônio vivo da Capoeira da Bahia. Discípulo de Mestre Bimba, sua musicalidade é conhecida em toda Capoeira, e, próximo de completar cem anos, é uma memória luminosa da história das rodas de Salvador.

•     MESTRE PELÉ DA BOMBA (NATALÍCIO NEVES DA SILVA): Nascido em 1934 em Cipuá, no Recôncavo da Bahia, Mestre Pelé da Bomba começou a jogar Capoeira em 1946, na rampa do Mercado Modelo, famosa roda de Angola fotografada e eternizada nesta época por Pierre Verger. Frequentou a Academia de Pastinha e elaborou novas formas de apresentação de batizado de Capoeira com Maculelê, Samba de Roda, Samba Duro, Festa de Arromba. Lançou vários CDs de músicas de Capoeira e também adquiriu fama como cantor de Samba de Roda e Samba de Viola. Hoje, Pelé da Bomba é o Mestre mais velho do Conselho da Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA).

•     MESTRE CURIÓ (JAIME MARTINS DOS SANTOS): Nascido em 1937, em Pato Espinhara, Paraíba, Mestre Curió foi discípulo de Pastinha no Centro Esportivo Capoeira Angola. Curió é de uma família de “Angoleros”, uma dinastia que tem mais de cem anos. Mestre Curió tem alunos em vários países do mundo: México, Suíça, Argentina, Iraque, Alemanha, Bélgica, Equador, Japão e Estados Unidos. A sua escola - Escola de Capoeira Angola Irmãos Gêmeos de Mestre Curió - está sediada no Forte do Santo Antônio (Forte da Capoeira).

•     MESTRE FELIPE DE SANTO AMARO (FELIPE SANTIAGO): Nascido em 1927, no bairro do Pilar em Santo Amaro da Purificação, Mestre Felipe Felipe é o mais velho angoleiro de Santo Amaro (local lendário da Capoeira antiga) e herdeiro da tradição lendária de Besouro Mangangá, Capoeira mítico do Recôncavo e inimigo dos “coronéis”. Frequentou a Academia de Pastinha, mas somente se tornou conhecido aos 60 anos de idade. Hoje sua popularidade abrange não só o estado da Bahia, como uma boa parte do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, entre outros. Ele é um dos maiores compositores das músicas de Capoeira do Recôncavo Baiano. Atualmente, confecciona peças de artesanato e participa de inúmeras rodas de samba.

•     MESTRE BOCA RICA (MANOEL SILVA): Nascido em Maragogipe, no Recôncavo Baiano, em 26 de novembro de 1936, Mestre Boca Rica começou a praticar a Capoeira em sua terra. Veio pra Salvador aos 15 anos e se filiou ao Centro Esportivo Capoeira Angola, de Mestre Pastinha. Ganhou seu apelido por causa dos dentes de ouro e atravessou as três fases da Capoeira Angola antiga: foi aluno, contramestre e mestre. Foi vítima da repressão à Capoeira em geral feita pela cavalaria nos anos 1950. Pessoa de alta confiança de Mestre Pastinha até sua morte, guarda muito do legado do mestre. Atualmente mantem sua academia no Forte de Santo Antônio.

•     MESTRE LUA RASTA (GILSON FERNANDES): Mestre Lua Rasta nasceu em Salvador da Bahia, em 28 de julho de 1950. Figura essencial do cenário musical e cultural de Salvador, morador do Pelourinho e frequentador da secular roda do Terreiro de Jesus. É também o construtor de instrumentos mais famoso da Bahia e já viajou o mundo inteiro apresentando sua arte. Começou a praticar a Capoeira em 1968 com mestre Bimba e depois, em 1969, conheceu Mestre Canjiquinha, introdutor da Capoeira na noite soteropolitana. Morou na Suíça e lá fundou o grupo Okearô, para divulgação da cultura afro-brasileira. Foi membro fundador do ABCA e  passa boa parte do tempo em sua oficina no Pelourinho.

•     MESTRE ITAPOAN (RAIMUNDO CÉSAR ALVES DE ALMEIDA): Mestre Itapoan nasceu em 13 de Agosto de 1947 em Salvador. Começou a praticar Capoeira aos 17 anos com Mestre Bimba. Em 1965 se formou recebendo o lenço azul e, nos anos seguintes se especializou, obtendo os lenços vermelho e amarelo. Fundador da “Ginga Associação de Capoeira”, em conjunto com Hélio Xaréu, fundou também a Associação Brasileira dos Professores de Capoeira (A.B.P.C.), da qual é Presidente, e fundou ainda a Federação Baiana de Capoeira em 1983, da qual faz parte do Conselho de Mestres. Escreveu vários livros sobre a Capoeira foi agraciado com a Medalha do Mérito Desportivo Nacional. Atualmente, acumula 50 anos de "bagagem" como dizem os capoeiristas. Mestre Itapoan, até hoje, mora no mesmo lugar que deu origem a seu apelido e ministra cursos, palestras, além de participar de rodas de Capoeira por este Brasil afora.

•     MESTRE OLAVO (OLAVO DA PAIXÃO): Grande artesão de berimbaus, líder do grupo Berimbahia, conhecido como Olavo Paixão dos Santos, em homenagem ao Mestre Valdemar da Paixão.  Nasceu em Muritiba, Recôncavo da Bahia, e em 1962 começou na capoeira em sua cidade natal, com Mestre Alfredo da Capoeira Angola. Em Salvador, conheceu Mestre Valdemar da Paixão, o maior cantador de ladainha de toda capoeira, segundo Mestre Olavo, com quem se aperfeiçoa na produção de berimbaus.

•     MESTRE BOA GENTE (VIVALDO RODRIGUES CONCEIÇÃO): Mestre Boa Gente, nasceu em 1945, em Ibicaraí, no interior da Bahia, Brasil. Exímio praticante da Capoeira Angola, iniciou-se na arte em 1956, em Ilhéus, depois de assistir os professores João Grande, João Pequeno e Antônio Cabeceiro jogando Capoeira na rua. Lá, ele começou sua jornada com Mestre Antônio Cabeceiro. Em Salvador, treinou na "Escola Baiana de Capoeira Angola", com Mestre Gato. Campeão de “Vale Tudo” e lutador de Karatê, também treinou na Academia de Mestre Bimba, com Mestre Vermelho 27. Em 1981, fundou a Associação de Capoeira Mestre Boa Gente. Dedica sua vida ao trabalho social no "Vale das Pedrinhas", onde é líder comunitário e promoveu oficinas, cursos e palestras em todo o Brasil, Estados Unidos, Europa e Austrália, tornando-se dos pioneiros no ensino de Capoeira para crianças e adolescentes em escolas como método auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem. É um dos principais divulgadores da Capoeira Angola, e membro atuante da Associação Brasileira de Capoeira Angola (ABCA), a mais importante instituição representativa da Capoeira Angola no Brasil.

Serviço: exposição ‘Mestres da Capoeira – Em Busca da Oralidade Perdida’

Local: Galeria do Centro Cultural Solar Ferrão (Rua Gregório de Matos, 35, Pelourinho)

Período: visitação até 05/03/2017 (domingo

Visitação: terça a sexta, de 12h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 12h às 17h

Entrada: grátis

Foto: Fernando Barbosa

Telefone: (71) 3116-6743/ Lila Lopes: 99613-0856 ( Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. )

O Solar Ferrão integra os espaços administrados pela Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (DIMUS/IPAC), da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA).

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