Onde está Milu Vilella no momento em que o MAM, que ela preside, é atacado por fascistas? Por Kiko Nogueira
O MAM está sob o ataque de milícias fascistas convocadas por desclassificados como Alexandre Frota e o MBL. Na tarde de sábado, dia 30, uma manifestação contra a performance do bailarino e coreógrafo Wagner Schwartz terminou em pancadaria.
A assessora de imprensa da instituição conta que foi agredida com um soco e xingada de “pedófila”. O mesmo ocorreu com outros funcionários, obrigados a enfrentar em torno de 20 cidadãos de bem indignados.
No dia 26, terça, Schwartz realizou a performance La Bête, em que se coloca nu no lugar de um dos “bichos” da artista carioca Lygia Clark. A ideia é ele ser manipulado pelo público.
O vídeo de uma criança de 5 anos mexendo na mão e no pé de Schwartz viralizou. A mãe estava com ela. Não há nenhuma contextualização, nenhuma explicação do que se tratava. Os mesmos milicianos que censuraram a mostra do Santander apareceram com tacapes e tochas.
O diretor do MAM, Felipe Chaimovich, se manifestou. A Associação Brasileira dos Críticos de Arte prestou seu apoio. A hashtag #somostodosmam está circulando. O Masp compartilhou imagens em solidariedade. Adriana Varejão e outros nomes importantes deram uma força.
Mas uma ausência é gritante nesse drama: a de Milu Vilela.
Herdeira do Itaú, uma das mulheres mais ricas do Brasil, Milu é presidente do MAM desde 1994. Numa lista de bilionários feita pela revista Forbes em 2011, aparece com uma fortuna estimada em 2 bilhões de dólares.
Estava na estreia da mostra. Saiu nas colunas sociais. E se cala no momento mais crítico da história do museu. Não rebateu o prefeito de SP João Doria. Por quê?
Nos anos 50, a presidente do MAM do Rio era Niomar Muniz Sodré, filha de Antônio Muniz Sodré de Aragão, advogado, jornalista e político baiano e casada com Paulo Bittencourt, dono do Correio da Manhã.
Quando Bittencourt faleceu, ela assumiu o Correio. O jornal apoiou o golpe de 64, como toda a imprensa — mas logo em seguida passou a fazer dura oposição à ditadura.
Em janeiro de 1969, Niomar teve seus direitos políticos cassados pelo AI-5, sendo presa juntamente com alguns de seus executivos.
Na cadeia, a chique, rica e corajosa senhora recusou-se a usar o uniforme da penitenciária, alegando que era presa política, não comum. Nas semanas seguintes, fez greve de fome e sofreu uma tentativa de envenenamento por gás. Saiu depois de dois meses.
Outros tempos, outras figuras. Não aprendemos com o passado. Não há mais Niomares e sobram fascistas de calção, apontando o dedo para tudo o que não entendem, projetando sua perversão, vencendo a parada.