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Abandonar nosso país é sintoma de cegueira intelectual!. Por Marconi De Souza Reis

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Johanna Döbereiner, a maior cientista entre as mulheres brasileiras, viabilizou o álcool nos postos de combustível e tornou o nosso país na segunda potência em produção de soja do planeta. Nasceu na Tchecoslováquia, escolheu o nosso país para suas pesquisas, naturalizou-se brasileira na década de 1950, e quase ganhou o Nobel em 1997.

Milton Santos, negro e pobre, é o maior cientista baiano e um dos maiores do mundo. Foi expulso do país na ditadura militar, lutou para voltar, deixou mais de 30 livros e um novo conceito sobre o que é o espaço. Vencedor do prêmio Vautrin Lud – o Nobel da geografia –, é o único geógrafo a ter essa premiação na América Latina.

Joahanna e Milton são contemporâneos – ela nasceu em 1924; ele, em 1926, e morreram em 2000 e 2001, respectivamente –, sofreram muito na vida, foram exilados, mas, em comum mesmo, está o fato de que ambos são desconhecidos de 99% das mulheres e negros brasileiros – desconhecidos até entre muitos ativistas.

Todavia, o que importa mesmo é o respeito que Joahanna e Milton conquistaram dentro da comunidade científica brasileira e estrangeira. Suas pesquisas são tão excelentes e contundentes, que nos dá a certeza de que, mesmo em momentos sombrios da nossa nação, as soluções surgirão sempre como um “impávido colosso”.

Confesso meu idealismo, mas, quando me lembro dessas duas figuras ilustres, sinto que os índices alarmantes de estupro e racismo podem ser reduzidos significativamente ainda neste século na sociedade brasileira, a ponto de não fazer o menor sentido discutir se é censura ou não proibir ofensa aos direitos humanos no Enem .

O Brasil está doente? Não. Quem assim o vê é que precisa de tratamento, porque revela pensamento hegemônico de direita ou de esquerda. Aliás, os piores tinhosos de direita estão na França (Le Pen), na Holanda (Wilders), na Alemanha (Gauland) e nos EUA (Trump). A tolerância em nosso país é o contraponto ao americanismo e ao comunismo.

O terrorismo campeia hoje nas terras europeias e norte-americanas porque é simplesmente o troco que se poderia dar aos opressores de outrora, uma gente que devastou a África, a Índia, a América Latina e o Oriente Médio, nos últimos dois séculos, a ponto de, sem dó nem piedade, dizimarem negros, índios, petróleo e elefantes.

Bem, esses parágrafos acima resumem a conversa que eu tive ontem com meus filhos homens – George Ciro e Pedro Guilherme –, visto que eles estão se programando para exercerem a engenharia mecânica no Canadá a partir de 2019. Nas suas visões, o nosso país ainda é muito incipiente em pesquisas.

– Vocês já ouviram falar de Johanna Döbereiner e Milton Santos?, questionei-os.

O silêncio de ambos levou-me a mostrar a eles como, em épocas muito mais áridas, essas duas figuras conseguiram respeito enquanto cientistas – complementando-se, inclusive, no espaço produtivo geográfico brasileiro –, daí que, abandonar esse lindo país, parece-me sintoma de cegueira intelectual.

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Marconi de Souza Reis, ex-jornalistda, é advogado

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