As Políticas Afirmativas, o respeito à Diversidade e o combate à Intolerância Religiosa precisam ser pautas obrigatórias de todos os candidatos em todos os níveis de mandato. Por: Ivanir dos Santos
Em julho de 2021, recebi em nossa casa, a visita do, então pré-candidato à presidência da República, Ciro Gomes que me pediu para coordenar sua campanha
nas áreas de: “Direitos Humanos e Igualdade Racial. Na ocasião, foi reiterado, também, pelo presidente em nível federal, Carlos Lupi, o convite para participar de um projeto nacional que se desdobraria na disputa de um cargo majoritário, pelo PDT/RJ.
Como sabem os que acompanham minha trajetória, nenhum dos dois convites se confirmou na prática. E, hoje, com a sabedoria que o Tempo nos dá, passamos a entender os desígnios do Destino, a quem, como sacerdote, chamamos de Ifá.
Contrariando toda história ideológica do PDT, assim como os ideais de Brizola – que já em 1982 dizia: ” No meu governo os favelados serão tratados como cidadãos” e ao ganhar o governo elegeu uma bancada legislativa federal e estadual diversa com negros, mulheres, indígenas, homossexual– assim como os ideais defendidos por Darcy Ribeiro, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, Idialêda, José Miguel, Caó, Albuíno Azeredo e Alceu Collares.
Surpreendi-me com matérias veiculadas recentemente na imprensa. Cito três:
“Ciro chama de “políticas do papo-furado mulher, índios e negros”.[1]
“O Brasil tem comida, diferente do Fundão da África” citado no debate e em outras ocasiões”.[2]
“É um comício pra gente preparada, imagina explicar isso na favela”.[3]
Nasci na favela do Esqueleto e moro até hoje na Mangueira, onde Ciro esteve. Sinto-me na obrigação de lembrar, mesmo fazendo parte da Academia, que nem todo “saber” deriva dela. A cultura popular, urbana ou rural, da favela ou periferia é, também, um dos grandes patrimônios do povo brasileiro.
Só tenho a lamentar, não apenas a postura do candidato Ciro Gomes a temas tão caros à maioria do povo brasileiro, mas, principalmente o silêncio, a omissão e o descaso de outros candidatos principalmente majoritários – à presidência da República e ao governo dos estados.
Segundo o TSE 2022[4] entre os eleitores há 53% de mulheres e segundo o IBGE[5], 54% nossa população é composta por pretos e pardos. A maioria da população não é prioridade no debate. E sequer incluo aqui o respeito e a necessidade de debate sobre as minorias LGBTQI+, como a questão do Estado Laico, diante de ateus, agnósticos ou os religiosos que proclamam a própria fé divergente daquela que, hoje, eu chamaria de mercadológica, religiosos que têm um projeto de poder teocrático e anticonstitucional.
Sob pena de nos transformarmos, cada vez mais, em um país cheio de ódios, divisões, autoritário, teocrata, racista e intolerante; proclamo a todos os candidatos que assumam compromissos sólidos com as parcelas da população abandonadas à própria sorte e esquecida pelos poderosos. Só com a diversidade, construiremos um país saudável, igualitário, democrático, inserido no mundo globalizado e preparado para o futuro.
Ivanir dos Santos – Pós – Doutor Babalawô Ivanir dos Santos – Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ).