Aldeia Nagô
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Dois domingos históricos. Por Ivanir dos Santos

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Ivanir_dos_Santos_-_Foto_de_Brunno_Rodrigues

Os prognósticos das pesquisas e das bolhas em que vivemos são otimistas. Mas tudo pode acontecer. É preciso temer e respeitar a poderosa máquina pública e a ingerência

permanente de um presidente que já provou não ter o menor respeito pela Constituição, quando o assunto é “se dar bem”, proteger sua família ou garantir sua reeleição. Trocando delegados da Polícia Federal, Ministros, ignorando a lista tríplice, respeitada desde sua criação em 2001, para indicações à Procuradoria Geral da República ou ao Supremo Tribunal Federal.

Isso fica muito mais exacerbado quando o presidente-candidato não tem nenhuma responsabilidade com a verdade, ao contrário afirma que precisa mentir e, para isso, conta com exércitos de fanáticos ou robôs na Internet, uma forte influência sobres líderes religiosos que teimam em negar o Estado Laico e colocam seus interesses de “prosperidade” acima das demandas da fé, comprometidos com um projeto autoritário de teocracia, adorando a imagem de seu mito acima da própria Palavra de Deus e dos Ensinamentos de Jesus, agindo como os fariseus do Templo, com um crescente rebanho que os segue cegamente. Apoiados por milicianos, corruptos em partidos de todas as matizes, e figuras populares com antecedentes criminais, de violência física contra pessoas, agressão à Constituição ou com posturas claramente antidemocráticas.

O próximo Domingo, 30 de outubro, será um momento de “Ressurreição ou Martírio”. Para todos os democratas brasileiros, aqueles que respeitam os Direitos Humanos, a diversidade, a liberdade religiosa, o Estado Laico, a Constituição, a Ciência, a Cultura, a Civilização. E, também, para os que têm nojo de tudo isso.

Ontem, Domingo, 23, foi um marco vaticinal do que nos espera no próximo. Assim, como o domingo imediatamente anterior à semana da Paixão de Cristo nos disse muito do que veríamos pela frente. Conhecido como Domingo de Ramos, data em que se comemora a entrada de Jesus em Jerusalém, montado em um jumento que O simbolizava como Príncipe da Paz: antes de passar pela Porta Dourada da cidade, há um episódio conhecido na vulgata como Flevit super illam, graças ao versículo Lc 19:41: Ut appropinquavit (Iesus) videns civitatem, flevit super illam: “Quando (Jesus) chegou perto, ao ver a cidade chorou sobre ela” e seus habitantes, por saber do sofrimento que estava por vir.

Os acontecimentos de ontem são, mais do que proféticos, sintomáticos. E para que não viu, recomendo assistir, nas Redes, o programa Fantástico da Rede Globo. Além da cobertura “quente” (jornalística no calor do momento) do lastimável episódio envolvendo a agressão do ex-deputado e presidiário Roberto Jefferson, atacando a tiros e granadas Policiais Federais no cumprimento do seu dever – aos quais me solidarizo e aos familiares, principalmente, dos agentes feridos; vimos impressionantes matérias “frias” (preparadas com tempo e investigação) sobre o crescimento do racismo e da gordofobia, como exemplos de intolerância; a prisão, em Santa Catarina, de um dos muitos grupos neonazistas que têm se espalhado pelo Brasil; o loteamento de cargos para funcionários fantasmas, pelo próprio PTB de Roberto Jefferson e seu ex genro Marcus Vinícius “Neskau”, na Fundação Leão XIII, onde faltam recursos e profissionais e onde, segundo o próprio site do órgão, se tem por finalidade: “proporcionar assistência aos grupos populacionais de baixa renda, notadamente aos residentes em favelas, conjuntos habitacionais, e localidades periféricas, por meio de programas sociais e de apoio à saúde, visando prioritariamente a elevação do nível de vida, integração social e o resgate da cidadania. Bem como prestar assistência social voltada às pessoas em situação de rua, através de unidades de atendimento especializado ao cidadão, suplementando a ação municipal, inclusive em situações de calamidade pública, na área da assistência social e apoio comunitário”.[1]

Esse quadro dantesco, pintado pelo programa de maior audiência na TV brasileira de Norte a Sul, de Leste a Oeste, demonstra claramente o terror em seus estertores tentando cartadas desesperadas para não perder o Poder.

O Poder de continuar achatando os salários, sem previsão de aumento para o Salário Mínimo enquanto massacra os aposentados, desvinculando em ambos os reajustes da inflação; exterminando indígenas e populações quilombolas; agredindo religiões de matrizes africanas, assim como judeus, católicos e outros que não comungam com as atuais práticas do governo federal; abolindo os Direitos Humanos, perseguindo todo tipo de diversidade: homofóbico, misóginos, intolerantes com todas as minorias que são; queimando nossas florestas como a Amazônia; vendendo aos estrangeiros nossas riquezas naturais; enquanto, com fins eleitoreiros, arrombam o teto de gastos para comprar o Centrão com bilhões retirados da Saúde e da Educação entre outras áreas fundamentais para investir no Orçamento Secreto, abaixando artificialmente os preços dos combustíveis, criando um Auxílio Emergencial, ambos com data para acabar; enquanto queimam nossas reservas internacionais que, no dia 19, estavam no menor patamar desde 2011[2].

Por todos esses motivos expostos e tantos mais que não cabem numa nota, mas que apertam nossos corações e consciências, declaro meu voto em Lula 13 no próximo Domingo, e conclamo a todas as cidadãs e cidadãos que têm esperança em um mundo melhor que votem pelo emprego, pelo desenvolvimento econômico com igualdade social, pelo respeito à diversidade, pela Cultura e Ciência e pelo Brasil do Século XXI que queremos: humano, justo, igualitário, democrático.

A liberdade precisa ser conquistada em uma luta diuturna. Vamos a ela. Todos às ruas. Todos às Urnas. Não passarão: Domingo dia 30, é Lula 13.

Ivanir dos Santos – Babalawô e Prof. Dr. de História Comparada no IFCS/UFRJ

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