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Lula e a Ucrânia. Por Celso Rocha de Barros

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
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A posição de Lula sobre a Guerra da Ucrânia começou muito ruim, refletindo um viés comum na esquerda brasileira de um ano atrás. Embora o discurso sempre

tenha sido de defesa da paz, as críticas a Zelenski eram mais frequentes do que as críticas a Putin, e o quadro de referência conceitual parecia ser: “Se os Estados Unidos apoiam um cara, nós apoiamos o outro”.

Mas 2022 foi um longo ano, que mostrou que o embate internacional atual é mais complexo do que isso.

Putin recebeu Bolsonaro quando o resto do mundo o tratava como lixo tóxico. Seu grande aliado na União Europeia, Viktor Orbán, é uma grande inspiração dos bolsonaristas. As posições anti-LGBT do governo Putin são muito populares entre os fanáticos de direita do Ocidente.

Ao mesmo tempo, a posição de Biden e da União Europeia contra o golpe de Bolsonaro foi importante para isolar os golpistas brasileiros. Em seu pronunciamento à nação no final de 2022, Mourão reclamou de gente que pedia que o Exército desse um golpe que “colocaria o Brasil em uma posição difícil diante da comunidade internacional”. Felizmente, não sabemos o que teria acontecido com a democracia brasileira se Trump tivesse sido reeleito.

Não por acaso, Lula admitiu, durante sua viagem aos Estados Unidos, que a invasão da Ucrânia foi “um erro histórico”.

O Brasil não deve se tornar aliado automático dos Estados Unidos, mas ficou claro que há um conflito ideológico sobre democracia que não apaga as disputas geopolíticas tradicionais, mas as torna mais complexas.

A notícia de que Vladimir Putin estaria avaliando a proposta de paz feita pelo governo brasileiro disparou os gatilhos de sempre em nosso comentariado. Duvido que o ChatGPT não conseguisse escrever 90% do que foi dito se você contasse para ele se gosta ou não do Lula e mencionasse a palavra “Ucrânia”.

Na verdade, o que Lula está fazendo é devolvendo ao Brasil seu papel tradicional: uma voz razoavelmente importante, mas raramente decisiva, de uma potência média, com alguma influência no Sul Global e em fóruns multilaterais.

Ninguém, muito menos Lula, acha que Putin ou Zelenski vão fazer alguma coisa porque o Brasil mandou. Mas a entrada de cena do Brasil na negociação sinaliza que grandes potências estão procurando um mediador, e o Brasil, que não tem conflitos geopolíticos com ninguém, é um bom candidato para essa tarefa.

Parece novidade porque isso não aconteceu nos últimos quatro anos, quando fomos governados por um maluco que: a) mentia que o presidente da maior potência global havia roubado sua eleição, e b) mentia que a pandemia de Covid era uma conspiração da segunda maior potência global. Se considerarmos a União Europeia como uma única potência (o que faria dela a terceira potência global), foram quatro anos recusando dinheiro para cuidar da Amazôniaxingando a esposa do Macron.

Por menor que seja a capacidade de o Brasil influenciar o conflito entre Rússia e Ucrânia, Lula faz bem em tentar exercer qualquer influência que seja pela paz. Não só por idealismo, mas porque o Brasil, como o resto do mundo, sofre com as consequências econômicas do conflito. Garanto para você que, se não fosse pelo choque externo da guerra sobre os preços, o debate todo sobre juros estaria transcorrendo com mais tranquilidade.

Artigo publicado originalmente em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/celso-rocha-de-barros/2023/02/lula-e-a-ucrania.shtml

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