Aldeia Nagô
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Ricos pagam pouco por VLADIMIR SAFATLE

2 - 3 minutos de leituraModo Leitura

Há alguns dias, uma pesquisa veio mostrar o que todos
aqueles que realmente se
preocupam com reforma tributária no Brasil sabem: os ricos pagam pouco imposto.


Quem recebe R$ 3.300 por
mês, leva para casa, descontados Imposto de Renda e Previdência, 84% do seu salário. Já
alguém que ganha R$ 26.600
por mês, leva 74%.
Um profissional holandês,
por exemplo, pode contar apenas com 55% de seu salário, e
mesmo um norte-americano
traz para casa menos que um
brasileiro: 70%.
Ao mesmo tempo em que
descobríamos a vida tranquila
dos ricos brasileiros, chega a
notícia de que a quantidade de
milionários no Brasil aumentou 5,9% em 2010, atingindo a
marca de 115,4 mil pessoas
com fortuna de, ao menos,
US$ 1 milhão.
O que não deveria nos surpreender. Afinal, vivemos em
um país onde o processo de
concentração de renda está
tão institucionalizado que as
classes mais abastadas têm
um sistema de defesa de seus
rendimentos sem par em outros países industrializados.
Dentro de alguns anos, a
chamada nova classe média
descobrirá que não conseguirá mais continuar sua ascensão social. Entre outras coisas,
ela tomará consciência de como seu orçamento é brutalmente corroído por despesas
com educação e saúde.
Um Estado preocupado
com seu povo taxaria os ricos e
as grandes fortunas a fim de
ter dinheiro suficiente para
criar um verdadeiro sistema
público de educação e saúde.
Por que não criar, por exemplo, um imposto sobre grandes fortunas vinculado exclusivamente à educação? Isto
permitiria que essa nova classe média continuasse sua ascensão social.
Tal ascensão seria ainda
mais facilitada se a carga tributária brasileira parasse de
privilegiar o consumo, e focasse a renda. Uma carga focada
no consumo, ou seja, embutida em produtos, é mais sentida por quem ganha menos.
Há pouco, um estudo mostrou como o 0,1% mais bem
pago no Reino Unido recebia,
em 1979, 1,3% dos salários.
Hoje, recebe 5% e, em 2030,
deve receber 14%.
Costuma-se dizer que uma
das maiores astúcias do Diabo
é nos convencer de que ele
não existe. Uma das maiores
astúcias do discurso conservador é nos convencer, diante de
dados dessa natureza, de que
conflito de classe é um delírio
de esquerdista centenário.
Mesmo que vejamos um
processo brutal de concentração de renda institucionalizado e intocado por qualquer
partido que esteja no poder,
mesmo que vejamos a tendência de espoliação dos recursos
de países industrializados por
camadas mais ricas da população, tudo deve ser um complô dos incompetentes contra
aqueles que bravamente venceram na vida graças apenas a
seu entusiasmo e capacidade
visionária, não é mesmo?

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