Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Qual vai ser a cor do próximo suicídio. Por Zuggi Almneida

2 - 3 minutos de leituraModo Leitura
Zuggi_Almeida

O amarelo da campanha começa a desbotar-se e perder o tom do socorro. Ações de marketing criando uma aquarela para sinalizar atos sociais que nadam na

superfície dos problemas apenas favorecem aos especialistas de plantão e a mídia oportunista.
O amarelo das análises dos atentados contra a a própria vida não se aproxima de uma cor que apresenta o maior número de casos fatais.

 

O suicídio tem uma cor e ela é preta.

A saúde mental da população negra jamais é abordada nos congressos, seminários, ambientes de estudos ou nas sintéticas bancadas televisivas.
O suicídio como alternativa de libertação dos problemas existências na vida do negro brasileiro ocorre quando privado da liberdade, o africano escravizado passa a conviver com a brutalidade da perda da família, da identidade, do açoite, da condições sub-humanas, presenciando o estupro das suas mulheres (e até de homens), encerrado nas galés dos navios negreiros e alimentado com ração de gado.

A história escrita por mãos brancas titulou esse nível de depressão profunda como banzo, a ponto de romantizar e transformar em folhetim exibido na Tv Tupi, na década de 60.
Segundo, o autor Banzo significa “nostalgia, saudade que amolece o trabalhador para suas tarefas da fazenda, que vai minando o homem do trabalho e esquecer-se da vida”.

A revolta levava a greve de fome e a morte por inanição ou a qualquer descúido dos traficantes de pessoas atirar-se nas águas profundas do oceano na busca por uma morte digna. Essa era algumas das saídas procuradas pelos escravizados para fugir do cativeiro.
Esse historico deveria constar no perfil psicológico do cidadão(ã) negro com quadro depressivo. Mas, saúde é um bem público que não está inserido na cartilha do bem-estar da população. Acompanhamento psicológico é uma commoditie de alto valor agregado na bolsa dos valores humanitários ?

Como discutir-se em propensão suicida sem abordar condições de vida, ausência de moradia, falta de atendimento à saúde e saneamento,escola, desemprego, alcoolismo, uso de drogas, violência policial e a consequente falta de perspectativa de vida.
São questões relativas à população negra e os números apontam o número crescente de casos, inclusive na população carcerária onde casos confirmados de suicídios são constantes apesar da omissão dos dados feitas pelas autoridades.

O Brasil possui mais 11 milhões de cidadãos fora do mercado de trabalho , isso somados aos mais de 35 milhões atuando na informalidade. A população negra contribui de forma involutária nesses índices negativos que atestam um modelo politico racista e de exclusão social.

Quantos setembros teremos que enfrentar até fazer a sociedade entender que se o suicidio tem uma cor, ela não é amarela.

zuggi almeida é baiano, escritor e roteirista.

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *