O fundo do poço? Por Amanda Silva
Roberto Jefferson não está mentindo, Bolsonaro não é idiota, nem doido, nem engraçado, o bolsonarismo não é uma doença, assim como não foram o nazismo e o fascismo, o bolsonarismo é a foto sem maquiagem da sociedade
ultra liberal como sonha Guedes, é o capitalismo que não escova os dentes, nem banca ativismo de gênero e raça, não, esse ultra neoliberalismo não tem vergonha de ser misógino, racista, odiar pobres, indígenas, quilombolas, ciganos, povo da rua, diz na lata, na cara.
Quem se surpreendeu agora em meio a pandemia, não teve bem um encontro com o bolsonarismo, mas consigo mesmo. Finalmente, o Drácula que se olhava no espelho e não via a sua auto imagem, por isso se adorava e se julgava belo, olhou para dentro de si e se assustou com o que viu, deve ter sido duro se ver igual a Bolsonaro, mas, pense pelo lado bom, que bom que isso aconteceu em algum momento, uma espécie de auto resgate.
Roberto Jefferson foi um cara fundamental pra puxar o fio condutor que nos trouxe aqui. O mensalão, o desgaste político do PT, da esquerda, dos movimentos sociais, de Lula e de quadros importantes para a vitória e consolidação do projeto eleito e do lulismo, como José Dirceu, preso, julgado e condenado, depois absolvido pela justiça, mas não pela história, assim como José Genoíno e Vaccari. De 1964 a 2005, assistimos fazer fama sob o poder das Instituições do Estado e cometer barbaridades, de generais a juízes, vimos os malabarismos das estratégias, da tortura e morte físicas, ao law-fare, de Barbosa a Moro, passando pelos powerpoints de Dallagnol, parecia que a tragédia e a farsa resolveram andar de mãos dadas, não dando mais espaço e tempo para revezamentos.
Jefferson foi o cara que inaugurou as delações, que encenou o enredo da trama antipetista, que aceitou cair com o lobby das empreiteiras, que lutou pelo seu perdão, nem que pra isso, precisasse entregar o país todo numa bandeja a quem quer que fosse, do rentismo, às petrolíferas internacionais, passando pelas milícias, todo mundo se fartou.
Jefferson foi o porteiro do (P)MDB, abriu novamente as portas do Planalto para o DEM e PSDB, ninguém deve se gabar desse episódio sem dar os seus devidos créditos. Nem Eduardo Cunha pode cantar essa vitória sem lembrá-lo.
Em meio a toda essa conjuntura caótica, violenta e deprimente, a pós verdade, que é a linguagem do fascismo, é capaz de reconstruí-lo, olha Roberto Jefferson buscando o seu perdão na história?!
Isolado pelas Instituições do Estado, com a ressalva do poder judiciário, que parece esperar o segundo tempo esquentar pra dizer pra qual time vai torcer, porque sempre soube apenas ganhar, com uma péssima avaliação internacional, descrédito econômico e derrota nas agendas no Congresso Nacional, Bolsonaro parece ter escolhido muito bem a sua carta final, o coringa no fim ou no início do jogo (início, meio e fim dependem do referencial), para fazer a sua aposta mais alta.
Ao compartilhar os vídeo de Roberto Jefferson, um dia depois de ter testado, mais uma vez, a sua popularidade e a fidelidade suicida e genocida do seu eleitorado, Bolsonaro está dizendo: alea jacta est!
Jefferson acusa o Congresso Nacional e os governadores de estarem tentando um “golpe branco”, uma ilegalidade contra o governo Bolsonaro, reforçando a ideia de que a pandemia é um grande acordo global para a esquerda destruir as economias e dominarem o mundo, aqui, a vítima é o presidente, rebate FHC e faz ameaças.
A depender da postura das forças armadas, que já governam de fato, Bolsonaro está prometendo lutar até o último minuto, com o seu exército próprio, que, ao contrário de nós, vai estar nas ruas barbaramente se for necessário. Roberto Jefferson ainda traz o perigo de um outro elemento, o saudosismo pela lava-jato e a boa aprovação de Moro.
A justiça ou as forças militares, incluindo as polícias, ou o seu exército de brutamontes, o que estiver à sua disposição, vai ser arma possível contra a sua queda ou impeachment.
Roberto Jefferson deu um alerta para quem acha que o principal agora é, se somos a favor de impeachment, vamos construir uma frente de esquerda ou uma frente ampla, com a direita e o centrão, porque o que for feito, não será feito pelas vias institucionais ou legais, vai custar muito além de coragem, vai custar vidas.
Talvez, se não fizermos a leitura correta desse momento, um dia, vai aparecer pra gente que não erramos nas respostas, mas nas perguntas, porque algumas coisas, talvez, devido a gravidade do momento, não eram as mais importantes.
