Não vote em branco. Zuggi Almeida
A cidade de Salvador concentra a maior população afrodescendente fora do continente africano com 34,1% de
pretos ; 49,1% de pardos:(Censo Brasileiro 2022 – IBGE). Por outro lado, o recenseamento demográfico indicou a menor proporção de pessoas brancas do Brasil, na mesma cidade.
Esses números não refletem a realidade política, social e financeira de Salvador. A ausência da representatividade negra nos setores mais importantes do município pode despertar a curiosidade de um não soteropolitano. Por que negros ou negras em Salvador são raros em postos estratégicos?
– Eis a pergunta. Onde encontrar a resposta?
O segmento cultural seria uma exceção, caso a gestão dos meios (produção/difusão/comercialização) estivessem sobre domínios de agentes negros. O que revela o cenário cultural em Salvador é uma arte sob a tutela do poder público fomentado a atividade empresarial dos seus representantes políticos. Cabe a maioria artística negra fornecer a riqueza da criação em troca das migalhas do que se denomina cachê.
Mas, a cidade já percebe o aquecimento do período pré-eleitoral, as movimentações no tabuleiro do jogo do xadrez político onde bispos, torres, cavalos, procuram proteger o rei e a rainha, Aos peões cabem oferecer o sacrifício, – no jogo do xadrez em Salvador, as pedras brancas sempre vencem !
Os resultados das eleições municipais 2020, em Salvador indicou que o atual prefeito venceu com 64,20% dos votos válidos,e com maioria em todas as zonas eleitorais da cidade. Ora, sendo a população negra em maior número em Salvador, quem contribuiu de forma decisiva no resultado não foi a minoria branca. A composição da câmara municipal espelha a eleição do prefeito, sendo que a representação da oposição ficou em minoria e recebeu percentuais reduzidos de votos. As últimas eleições indicaram 3,36% votos em brancos, 9,61% votos nulos, e incríveis 26,46% de abstenções. Isso indica que, próximo a 40% de votos capazes de mudar o perfil da representatividade racial em Salvador foram desperdiçados.
Espero que o pertencimento e o ânimo de participação com voto despertado pelo negro e periférico Davi Brito, vencedor do BBB 24 continue contagiando a população preta de Salvador até o mês de outubro.
Está passada a hora de inverter o jogo do xadrez político da cidade.
Dessa vez, as pretas ganham.
– Zuggi Almeida é baiano, escritor, roteirista e fotógrafo.